"Nós temos nosso Machu Pichu que é a Serra da Capivara. Falta vontade para divulgar". A frase de Louise Affonso mostra um pouco da realidade de um dos maiores parque de sítios arqueológicos do mundo e patrimônio mundial da Unesco.
Localizado no Piauí, a 510 km de Teresina, o Parque Nacional da Serra da Capivara reúne pinturas rupestres de milhares de anos, além de uma região com vegetação e paisagem que impressionam. Mas por que vive em constante risco de fechar e é pouco visitado?
Em agosto, a Fumdham (Fundação Museu do Homem Americano), responsável pelas pesquisas e manutenção do local, disse que, por causa da falta de verbas, fecharia as portas. O parque, contudo, segue aberto, mas pode ver sua qualidade cair bastante. O número pequeno de visitantes (até 20 mil por ano) pode ser atrelado à falta de divulgação, mas também à falta de estrutura local.
"Falta divulgação, mas sou a primeira a dizer que não adianta. Se você faz muita divulgação, vai criar expectativa, gente querendo vir e não tem onde receber. Não se pode provocar a vinda de turistas enquanto a hotelaria não for melhor, restaurante não for melhor. A cidade mais próxima, São Raimundo do Nonato, tem esgoto a céu aberto. Para mim, criando as condições de funcionamento dos acessos, a estrutura da cidade e de hotelaria, o público vai vir", diz Rosa Trakalo, coordenadora de Projetos da Fumdham.
Um aeroporto próximo ao parque foi inaugurado após promessas desde o fim da década de 90, mas, segundo a coordenadora da Fumdham, só leva aviões de até nove passageiros que saem lotados de Teresina rumo a outras escalas. As estradas da região sofrem com buracos e más condições, apesar de incentivos do governo local. Infraestrutura hoteleira e de restaurantes quase não existem na área.
"A verdade é que não sei dizer o que falta. Eu não acho que seja mal divulgado, vemos reportagens especiais sobre o parque. Nunca vai ser um turismo de massa, isso é evidente. Aquela pessoa que quer pegar um sol na praia com cerveja do lado não quer vir aqui. Mas em um país com mais de 200 milhões de habitantes vai ter muito interessado. Falta criar estruturas e depois fazer publicidade paga. Inclusive se vierem grupos de hotelaria grandes, eles mesmo vão divulgar", desabafa Rosa.