Durante os anos de Raúl à frente da ilha, a performance da economia cubana praticamente estagnou e o sistema de dupla moeda criado na década de 90 foi mantido, ampliando ainda mais a diferença de renda no país socialista.
Cuba mantém em circulação o CUP e o CUC --o peso cubano, chamado pelos habitantes da ilha de "moeda nacional", e o CUC, o peso cubano conversível, moeda com a qual turistas fazem negócios na ilha --1 CUC equivale a US$ 1 e a 24 CUP. Uma das mudanças prioritárias para os próximos anos é justamente a reforma da moeda, já que, sem ela torna-se quase impossível enfrentar os demais problemas econômicos da ilha.
Funcionários públicos recebem seus salários em moeda nacional, enquanto todos que trabalham de alguma forma ligados ao setor de turismo recebem o CUC. Para se ter uma ideia, uma corrida de táxi entre o aeroporto de Havana e o centro da cidade custa, em média, 30 CUC, ou seja, US$ 30 --o valor de um salário mínimo na ilha, alto próximo de 720 CUP.
A estagnação econômica é clara. Em seu estudo sobre os rumos da economia cubana, o economista Richard Feinberg, do Brookings Institution, pontua que a produção do setor agrícola, que emprega 13% da força de trabalho da ilha, está abaixo dos níveis de 2005.
"O consumo do setor estatal de eletricidade permanecem estável entre 2000 e 2015 (enquanto o consumo de energia elétrica pelo setor residencial, que inclui algumas atividades da economia privada, como restaurantes particulares e casas de hospedagem, dobrou)", afirma Feinberg em sua pesquisa.
O turismo é a exceção em meio ao cenário sombrio da economia cubana. A chegada de estrangeiros no país passou de 2,2 milhões em 2006 para 4,7 milhões em 2017, aumentando na mesma proporção ou até mais a renda proveniente do setor turístico --acredita-se que seja bem superior, já que muitas casas de hospedagem, táxis e restaurantes atuam de forma ilegal na ilha.
A crise venezuelana também afetou fortemente a economia da ilha. Pela primeira vez desde a década de 90, a Rússia está exportando petróleo para Cuba, em uma tentativa de ajudar o governo da ilha a compensar a perda da commodity venezuelana. Assim como em toda a América Latina, a China hoje é o principal parceiro comercial da ilha.
Para López Levy, professor da Universidade do Texas Rio Grande Valley, o sistema cubano hoje é estável, mas é frágil. "A reforma econômica não é só econômica, ela tem consequências políticas e, já na época de Raúl Castro, foram realizadas aberturas políticas importantes, que ganham força a cada ano que passa."
"A sobrevivência do modelo econômico está relacionada com a estabilidade política do país, que depende de uma reforma econômica que já foi definida nos últimos congressos do Partido Comunista. O problema não é ideológico, é de implementação", diz.