Como Lula reagirá?

Atacar sentença e realizar protestos: quais as estratégias do PT para "blindar" o ex-presidente

Leandro Prazeres Do UOL, em Brasília
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Horas depois de o juiz federal Sergio Moro condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as principais lideranças do PT já tinham a base da estratégia que o partido vai usar para “blindar” sua principal estrela. Atacar a sentença, mobilizar movimentos sociais, antecipar a disputa eleitoral de 2018 e obter apoio internacional. Essas são as principais atitudes.

Lula foi condenado nesta quarta-feira (12) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ao todo, sua pena chegou a nove anos e meio de prisão. Moro, contudo, não decretou sua prisão preventiva. O ex-presidente, que promete recorrer da sentença, só deverá ser preso se sua condenação for confirmada pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).

As principais lideranças do PT estão com viagem marcada para São Paulo, onde deverão se reunir para discutir os próximos passos do partido. A reportagem do UOL conseguiu falar com líderes como a senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), os senadores Lindbergh Farias (RJ) e Humberto Costa (PE), além do ex-ministro Gilberto Carvalho. Eles deram detalhes sobre como o PT vai reagir.

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Gleisi Hoffmann

A presidente nacional do PT disse que a principal estratégia do partido a partir de agora será contestar a legitimidade da sentença de Sergio Moro. Segundo ela, os petistas vão focar no que ela classifica como "ausência de fundamento jurídico" da sentença do juiz federal.

"O juiz Moro condenou o Lula sem que tivessem conseguido comprovar que o apartamento era dele. Não tem nenhuma prova indicando que esse apartamento era do Lula. É uma sentença política, não jurídica. As pessoas conseguem ver isso e não vão ficar quietas", afirmou.

Gleisi também diz que o PT deverá acionar suas conexões junto a movimentos sociais fora do país para angariar apoio ao ex-presidente Lula. "A comunidade internacional precisa saber o que está acontecendo no Brasil. A democracia está sendo atacada com essa sentença contra o Lula. É muito grave e vamos denunciar isso internacionalmente", afirmou a senadora.

Esta não seria a primeira vez que defensores de Lula recorreriam à comunidade internacional contra os processos que tramitam contra o ex-presidente. Em julho de 2016, advogados de Lula recorreram ao Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) contestando a legitimidade da condução coercitiva de Lula e o vazamento das conversas mantidas entre ele e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

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Lindbergh Farias

Outra estratégia a ser usada pelo PT será a de antecipar a disputa eleitoral prevista para outubro de 2018. Segundo o instituto Datafolha, Lula lidera as pesquisas de intenção de voto mais recentes.

A orientação dentro do partido é a de fomentar a tese de que a condenação de Lula seria, na realidade, uma tentativa de impedi-lo de disputar as eleições presidenciais do ano que vem.  

Próximo de Lula e um dos principais defensores da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Lindbergh Farias é um dos principais advogados dessa tese.

"Essa sentença não tem outra função a não ser tirar o Lula das eleições. Isso é um perigo muito grande. Esses caras [ele não mencionou quem seriam eles] estão dobrando a aposta da polarização política. Estão tirando o Lula das eleições na base do tapetão", afirmou. 

Farias defende que, caso Lula seja impedido de disputar as eleições de 2018 (o que só aconteceria se a condenação de Lula for confirmada em segunda instância), o PT deveria denunciar a situação internacionalmente.

"Se essa situação se confirmar, eu acho que a gente tem que denunciar isso pro mundo inteiro e, se for o caso, a gente nem deveria participar das eleições. Uma eleição sem o principal candidato é uma fraude", disse o senador.

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Humberto Costa

Outra vertente de resistência do PT à condenação de Lula é a mobilização de movimentos sociais e a realização de protestos por todo do país.

Na quarta-feira, já foram organizados protestos em São Paulo. Novos protestos deverão ser realizados ao longo da semana, segundo o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Guilherme Boulos.

Para o senador Humberto Costa, essas mobilizações farão parte da estratégia do PT para defender o ex-presidente e deverão mostrar o apoio popular a Lula.

"As pessoas vão reagir. Ainda estamos organizando isso, mas haverá protestos, com certeza. Lula é um o maior líder político do Brasil e haverá muito suporte a ele nesse momento", afirmou Costa.

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Gilberto Carvalho

Amigo pessoal de Lula e ex-ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho detalhou como funcionará a "trincheira" de protestos capitaneados pelo PT.

Segundo ele, o Diretório Nacional do partido orientou os diretórios estaduais a organizarem protestos em todos os Estados do país nos próximos dias.

Nesta quinta-feira (13), está previsto "abraço" simbólico a Lula em São Paulo, na sede do partido. Segundo ele, a ideia é que a mobilização popular sensibilize os desembargadores do TRF-4 sobre o que ele chama de "injustiça".

"Essa condenação foi uma injustiça. Nós vamos mobilizar as pessoas, os movimentos sociais para que isso, de alguma forma, possa sensibilizar o TRF-4", afirmou.

No flanco da mobilização internacional, a secretária de Relações Internacionais do PT, Mônica Valente, foi destacada para acionar movimentos sociais e lideranças internacionais.

Carvalho disse que o partido já começou a ser procurado por organizações e políticos de fora do país em busca de informação sobre a condenação de Lula. "Nós vamos repassar as informações sobre o caso para mostrar o que está havendo aqui no Brasil. Eles estão muito preocupados com esse cenário", afirmou Carvalho.

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