Cinco homens que participaram do linchamento foram condenados, entre outubro de 2016 e janeiro de 2017, à pena máxima de 30 anos de reclusão cada. Foi também determinada uma indenização à família, de R$ 550 mil, que dificilmente será paga: pela condição financeira dos condenados, a multa foi classificada como “simbólica”.
Nos depoimentos à Justiça, dois deles, Carlos e Abel, disseram não ter ouvido nada que associasse a mulher linchada aos boatos virtuais. Foi diferente com Lucas: “O povo comentou que era a mulher da internet, que era da página Guarujá Alerta”. Com Jair: “Disseram que a mulher era a que tinha saído no Facebook, relacionada com magia negra”. E com Valmir: “O povo dizia que a história da moça ser sequestradora estava na internet”.
Cada um à sua maneira, eles se juntaram à horda --de homens, mulheres (grávidas) e até crianças-- que atacava Fabiane (foto), incapaz de se defender. O número de participantes certamente soma dezenas: porém se fala em centenas e até milhares, dependendo de quem conta a história. Em depoimento à polícia, uma testemunha calculou "mais de 3.000".
Valmir, hoje com 52 anos, deu uma paulada com uma viga na cabeça de Fabiane. Disse que não tinha a intenção de matar e que foi movido pela revolta. “Se eu soubesse que não era a sequestradora, jamais teria agredido”, afirmou em depoimento.
Lucas, 23, aproximou-se da confusão com sua bicicleta. Quando viu a mulher deitada no chão, ergueu a roda da frente e bateu com o pneu em sua cabeça. Explicou que foi “um ato de emoção” e “não teve a intenção de matar”. Com um fio de eletricidade encontrado na rua, amarrou os punhos da vítima para arrastá-la. Para isso, contou com a ajuda de Abel.
Carlos, 28, chegou ao local quando as pessoas gritavam “mata, mata”. Aproximou-se de Fabiane quando ela estava machucada e deitada com a cara no chão. Puxou os cabelos para ver seu rosto, que estava sangrando. Depois, bateu com a cabeça dela no chão.
Abel, 22, disse estar passando quando viu o tumulto e a mulher com os punhos já amarrados. Segurou o fio, segundo ele, esperando a polícia chegar. Negou a participação no crime e também negou ser a pessoa que aparecia em um vídeo, amarrando os braços da vítima. Sua mãe, no entanto, o reconheceu nas imagens.
Jair, 39, contou que ergueu a mulher para tirá-la dali, quando a ponte onde estavam cedeu e Fabiane caiu. Foi uma queda de meio metro, em um mangue. Naquele momento, afirmou, queriam colocar fogo na mulher, já muito machucada. Disse ainda que perguntou o nome de Fabiane e, quando ela respondeu, ele tentou alertar as pessoas sobre a confusão. Por isso, disse, ele tomou um chute.
Moradores do bairro Morrinhos IV passaram a apontar a vítima Fabiane como a responsável pelo sequestro de crianças e pela prática de tais rituais, de sorte que diversas pessoas, dentre elas os acusados, decidiram matá-la, agredindo-a violentamente com socos, chutes, pauladas e outros golpes
Trecho da condenação dos acusados