O cenário deste drama é a República Democrática do Congo, mas a história poderia se passar em muitos outros países, principalmente da África. Angola, Nigéria, Camarões, República Centro-Africana, Libéria, Serra Leoa, Tanzânia, Burundi e Gabão aparecem no estudo mais completo sobre crianças acusadas de bruxaria, divulgado pelo Unicef em 2010.
Segundo o relatório, não é possível generalizar as práticas simplesmente como “tradições africanas”: “A África contemporânea é uma mistura de representações antigas que se recusam a desaparecer com uma ânsia por modernidade que fascina e assusta em proporções iguais”.
Existe, no entanto, uma característica comum para todas essas “Áfricas”. Seus problemas tendem a ser ignorados, mesmo no caso de crianças sendo agredidas, queimadas, torturadas e até mortas quando acusadas de bruxaria --aqui, sempre com conotação negativa.
Uma pesquisa do Parlamento Europeu menciona casos registrados no Reino Unido e na França, principalmente devido à migração para estes países. Há também registros em Bolívia, Guatemala, Haiti, Índia, Indonésia, Irã, México, Nepal, Paquistão, Tailândia, Arábia Saudita e Síria.
O nível de atenção para o problema aumenta ocasionalmente, como aconteceu no início de 2016, com uma foto viral no Facebook. Na imagem, uma voluntária aparece dando água para um garoto subnutrido então com cerca de dois anos, abandonado pela família.
O menino recebeu o nome de Hope (esperança, em inglês), a mulher é Anja Lovén e a foto causou comoção, ganhando destaque no noticiário internacional. Por isso, a fundação criada por essa dinamarquesa para resgatar crianças acusadas de bruxaria na Nigéria recebeu milhares de dólares e o mundo compartilhou --mesmo que só por um clique-- a dor de um problema geralmente invisível.
O relacionamento de Anja e Hope vai muito além desta foto e, como seus nomes sugerem, traz uma mensagem de otimismo. Mas o final feliz --ou pelo menos seu equivalente diante de um contexto tão cruel-- fica para daqui a pouco.