Joshua Pollack, também pesquisador sênior do CNS, diz que nos últimos dois anos, a tecnologia norte-coreana começou a dar sinais de que está deixando para trás os antecedentes soviéticos.
"A Coreia do Norte já está desenhando seus próprios mísseis e não só simplesmente reproduzindo cópias de designs estrangeiros". afirma.
"Um exemplo concreto está no foguete Unha-3 (conhecido como Taepodong-2), lançado em 2012. Quando a Marinha da Coreia do Sul recuperou a maior parte dos destroços no primeiro estágio do foguete no mar, uma análise confirmou que o equipamento tinha peças fabricadas em muitas partes do mundo e alguns componentes recuperados do Scud. A questão é que todo o resto, incluindo a estrutura e os motores do primeiro estágio, pareciam ter sido feitos na Coreia do Norte", explica Pollack. "Quando as peças do lançador espacial Kwangmyongsong foram recuperadas no mar em fevereiro do ano passado, as descobertas foram as mesmas."
Segundo Melissa Hanham, os dados mostram que a taxa de sucesso norte-coreana, na verdade, é bem alta. "A razão pela qual ocorrem algumas falhas é porque estão abandonando o sistema tradicional do Scud e testando mísseis mais complexos, com tecnologia diferente", analisa.
Os testes têm diferentes propósitos e são normalmente realizados sobre a própria Coreia do Norte ou sobre o Mar do Japão, já que aquela é uma região densamente povoada, e seria arriscado sobrevoar os territórios da Rússia, da China e da Coreia do Sul --um míssil já sobrevoou o Japão, por exemplo, mas a prática é muito arriscada.
Outra tática para a realização dos testes com riscos mínimos é o lançamento do míssil para o alto, em direção à atmosfera, sem destino certo. "Dessa forma, o projétil percorre uma grande distância enquanto ganha altura", diz Hanham. É o que ocorreria com os lançamentos de foguetes para supostamente colocar em órbita satélites.
A Coreia do Norte não tem um míssil intercontinental, mas continua testando seus componentes desde o ano passado. Um míssil intercontinental, que seria capaz de atingir os EUA, é formado por estágios, e seriam estes estágios que estariam em testes.
"O míssil intercontinental tem muitos módulos sobrepostos, e isto torna o foguete pesado. Ele ainda leva o combustível e a ogiva. Para alcançar uma distância maior, ele abandona as partes mais pesadas. O primeiro estágio acende, queima combustível até acabar e aquela peça toda cai. Em seguida, o segundo estágio acende e impulsiona o míssil a uma distância ainda maior", explica a especialista.
Um exemplo de teste realizado no ano passado que poderia ser de um equipamento do míssil intercontinental seria uma espécie de escudo no veículo para a reentrada. Um míssil interbalístico, durante a trajetória até o alvo, deve sair da atmosfera. Mas ele precisa retornar, e esta reentrada na atmosfera enfrenta calor, pressão e turbulência. Por isso, um escudo é necessário: para proteger a ogiva e os estágios restantes do míssil.
Outro teste contemplou o uso de um novo tipo de combustível que permitiria levar uma carga mais pesada, como a ogiva, por uma trajetória maior. Motores mais potentes também foram utilizados em outro teste.
"Pelos testes que vimos, podem ser mísseis de médio alcance. Mas poder ser também os estágios deste míssil intercontinental", afirma Hanham.