Em 2013, antes da publicação do estudo com a descoberta dos recifes de corais, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) realizou o leilão de concessões de blocos de exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas. Ainda não está confirmada a existência do combustível fóssil no subsolo. Contudo, as empresas enxergam na área potencial de produzir 14 bilhões de barris de petróleo. No Pré-Sal, para efeito de comparação, a capacidade é de 163 bilhões de barris.
No entanto, as empresas que adquiriam blocos de petróleo ainda não conseguiram licença ambiental para iniciarem a prospecção. A francesa Total já teve três estudos de impacto ambiental negados pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que solicitou complementações. A inglesa BP entregou um estudo, que aguarda parecer técnico.
O problema é que, para os órgãos do governo de fiscalização ambiental e o Ministério Público, a exploração de petróleo na foz do Amazonas traz riscos para os ecossistemas e para as comunidades que sobrevivem da pesca e de recursos do mar.
Um derramamento de óleo teria consequências devastadoras, como o possível "asfaltamento" dos corais da Amazônia com a deposição de resíduos do óleo.
Os estudos de impacto ambiental feitos pelas empresas são vistos como frágeis. Ao pedir complementações à Total, o Ibama apontou inconsistências nos modelos de dispersão do óleo em caso de vazamento para prever, a partir das correntes oceânicas, onde e como o óleo se dispersa em caso de um derramamento de petróleo.
A corrente mais proeminente leva as águas no sentido leste-oeste, na direção da Guiana Francesa. Contudo, as correntes mais profundas, pouco conhecidas, poderiam levar óleo para a costa brasileira. “Pescadores no Oiapoque dizem que já apareceu pedaço de foguete espacial na costa do Amapá, que veio da Guiana Francesa, onde tem plataforma de lançamento”, diz Thiago Almeida, especialista do Greenpeace em Energia.
A descoberta dos corais da Amazônia levou o Ministério Público Federal a solicitar a reabertura do processo de licenciamento ambiental do empreendimento de perfuração naquela região. “Ali há um bioma bem peculiar no mundo, um rio singular, com um ecossistema bem singular. O Ministério Público entende que tem que ter um aprofundamento dos estudos para dimensionar de forma honesta os impactos”, explica Joaquim Cabral, procurador do MPF do Amapá.
Para a ANP, a área pode ser explorada desde que devidamente. “Não há nenhuma restrição para operar na Foz do Amazonas e Pelotas, porque todas as áreas que a gente licita são previamente acordadas com o Ibama. Uma vez oferecidas, não tem por que o licenciamento ambiental não sair se o trabalho de impacto ambiental for bem feito”, disse Décio Oddone, diretor-geral da ANP, em entrevista ao Estadão.