Como surgiu este movimento que vocês chamam de 'Hamilton Electors', que tenta convencer os republicanos a votarem em outro candidato que não seja Donald Trump?
Esse é algo sem precedentes na história americana, com grandes eleitores de diferentes Estados se juntando. Eu e Michael Baca, do Colorado, conversamos na noite da eleição e decidimos fazer isso porque, quando o Colégio Eleitoral foi criado pelos fundadores da Constituição, teve duas intenções: que todos os Estados estivessem bem representados e que candidatos que não fossem aptos para assumir a Presidência pudessem ser barrados. O nome 'Hamilton Electors' é uma alusão ao fundador Alexander Hamilton, um dos idealizadores do sistema.
Antes da eleição eu estudei muito sobre o Colégio Eleitoral e vi que muitos grandes eleitores não entendem que têm o direito garantido pela Constituição de votar em quem eles acharem melhor. É uma espécie de 'sistema de emergência', justamente para impedir que um cara como Donald Trump seja eleito. A imensa maioria dos americanos não entende e nem sabe disso, e eles precisam conhecer a história. Nosso sistema é estruturado e está escrito na Constituição dessa maneira.
Vocês precisam conseguir convencer pelo menos 37 grandes eleitores republicanos a escolher outro nome, como John Kasich, para impedir a confirmação da eleição de Trump. Você acha que é possível? Como convencê-los a fazer isso?
Acho que é possível. É uma chance pequena, mas real. A meta é atingir eleitores republicanos que não gostem de Donald Trump e desconfiam dele. Achamos que se pudermos educar 37 eleitores republicanos sobre o Colégio Eleitoral, eles entenderão e votarão em outro nome. Veja, sou liberal, apoiei Bernie Sanders. Se eu me comprometo a apoiar e votar em um republicano mais moderno, essa pessoa não fará políticas que eu goste. Mas ainda prefiro isso ao Trump. Tenho muitos amigos muçulmanos, negros, e também brasileiros, e essas pessoas têm algo a temer com Trump no poder. Racistas e brancos supremacistas tentarão aterrorizá-los. Quero fazer tudo que posso para que eles se sintam seguros no país.
Depois de ser eleito, Trump começou a recuar de algumas propostas mais radicais que lançou na campanha. Você acha que a mudança de discurso, agora mais conciliatório, não inviabiliza essas chances?
Não, porque as pessoas ouviram o que ele disse nos últimos 18 meses. Mesmo que mude o discurso agora, não altera o fato que ele deu poder a pessoas, uma pequena parcela de seus apoiadores, que são racistas, brancos supremacistas e promovem o ódio. Independentemente de qual Trump a gente tenha como presidente, essas pessoas ainda pensarão que está tudo bem em atacar as pessoas por causa de sua raça ou religião.
Vocês não temem uma reação violenta de seguidores do Trump caso a estratégia funcione?
Se um candidato republicano alternativo fosse selecionado, acho que os apoiadores do Trump ficariam tristes, só que isso não seria duradouro ou significativo. Eles ainda teriam um presidente republicano que indicará juízes conservadores à Suprema Corte e vai desfazer muitas coisas que Obama fez.