Com o decorrer dos dias, no entanto, as diferenças entre as capitais se fazem mais evidentes. Hospedei-me em um bom hotel em Altamira, bairro de classe alta, próximo à estação de metrô com o mesmo nome.
Na primeira semana, eu parecia ser a única hóspede. Não via outros visitantes no restaurante durante o café da manhã, nos elevadores ou nas demais áreas comuns. Pelo lado de fora, notava que as varandas dos quartos estavam sempre fechadas e as luzes apagadas.
Apesar de rica, Altamira também tem filas -- menores, é verdade, do que na região central. Às 7h da manhã, os moradores se enfileiram para comprar pão. Chegam o mais cedo que podem para garantir o menor preço, por 3 bolívares soberanos a unidade (R$ 0,20, segundo a conversão do Banco Central brasileiro). Quem não consegue, acaba comprando os mais caros --pães doces e mais incrementados - que custam 8 bolívares soberanos cada (R$ 0,54).
Na época da visita da reportagem à cidade, o país utilizava como moeda os bolívares fortes. Os valores foram convertidos para a nova moeda, o bolívar soberano, em vigor desde o fim de agosto.
Muitos restaurantes estão fechados. Os que ainda continuam funcionando dificilmente ficam cheios. Nem todos os pratos do cardápio estão disponíveis. Receitas com peixe, por exemplo, estão em falta por conta do alto custo do ingrediente.
O mesmo acontece nas farmácias, mercearias ou demais comércios. Quase todos os produtos estão em falta. O que ainda está disponível para venda custa caro e poucos caraquenhos conseguem pagar, seja suco, biscoitos ou uma simples pastilha de remédio para dor de cabeça.
Leite, por exemplo, não pude comprar. Procurei durante toda a primeira semana que estive na cidade, não encontrei e acabei desistindo. Quem tem sorte paga de 70 a 100 bolívares soberanos por um litro de leite (R$ 4,70 a R$ 6,70). Com a margarina aconteceu o mesmo: estava em falta. O produto só retornou às prateleiras já no fim da minha viagem, custando pouco mais de 30 bolívares soberanos (R$ 2) .