O candidato só

Isolado no MDB e com 2% nas pesquisas, Meirelles gasta R$ 45 milhões do próprio bolso na campanha; por quê?

Aiuri Rebello Do UOL, em São Paulo
Arte/UOL

Desafio à lógica

Pela primeira vez na história, pelo menos desde a redemocratização, um candidato à Presidência da República está bancando do próprio bolso toda sua campanha eleitoral. Henrique Meirelles já gastou R$ 45 milhões declarados ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) — é a segunda campanha mais cara de 2018, atrás apenas dos R$ 51 milhões gastos pelo PSDB com Geraldo Alckmin (PSDB) — mas tem irrisórios 2% das intenções de voto, de acordo com as últimas pesquisas de intenção de voto.

A campanha eleitoral do ex-ministro da Fazenda do presidente Michel Temer e ex-presidente do Banco Central nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (de 2003 a 2010) é "uma ofensa à lógica", na definição de Josias de Souza, blogueiro do UOL. A cifra corresponde a quase 12% do seu patrimônio declarado: R$ 377,4 milhões.

Candidatos que não possuem chance real de sucesso fazem parte do jogo eleitoral e entram no páreo por motivos diversos e neste ano não é diferente, mas nunca investem tanto — principalmente do próprio dinheiro. Isolado politicamente e estagnado nas pesquisas depois de um pequeno crescimento (ele partiu de 1% nas primeiras pesquisas do ano), Meirelles faz uma campanha que em nada fica devendo às dos adversários com chances reais de passar ao segundo turno, a não ser pela intenção de voto.

Em busca de respostas para entender esta empreitada eleitoral, o UOL foi ouvir pessoas que trabalham na milionária campanha política, políticos do MDB, entrevistou o próprio candidato cinco vezes (uma com exclusividade e as outras em meio a entrevistas coletivas) e acompanhou agendas suas ao longo das duas últimas semanas. 

Eduardo Anizelli/ Folhapress Eduardo Anizelli/ Folhapress

Luz, câmera e ação

O debate entre os candidatos à Presidência da República promovido pelo UOL em conjunto com a "Folha de S.Paulo" e o SBT, na quarta-feira passada (26) dá a dimensão do isolamento e ao mesmo tempo do profissionalismo que cercam a candidatura de Henrique Meirelles ao Palácio do Planalto.

Geraldo Alckmin patina nas pesquisas, mas teve na plateia o apoio de tucanos como o senador José Serra e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, dentre diversos outros políticos do partido. Fernando Haddad levou os candidatos petistas ao Senado por SP, Eduardo Suplicy e Jilmar Tatto, também entre outros dirigentes da sigla.

Apesar de fazer a campanha presidenciável de um dos maiores partidos do país, nenhuma liderança ou candidato do MDB nacional ou mesmo de São Paulo – como o presidente Michel Temer ou o candidato ao governo do estado, Paulo Skaf -- acompanhou Meirelles aos estúdios da televisão de Silvio Santos, em Osasco, na Grande São Paulo. Nem mesmo o coordenador político de sua campanha, João Henrique Sousa, estava presente.

Em contraste, ele estava assistido pelo seu time de marketing político liderado pelo marqueteiro Chico Mendez, que já fez as campanhas do petista Fernando Pimentel ao governo do MG em 2014 (vitoriosa), e a campanha de Henrique Capriles, candidato à Presidência da Venezuela em 2012 derrotado pelo hoje ditador do país vizinho, Nicolás Maduro.

Integrantes da equipe, como o próprio marqueteiro e o assessor de imprensa, chegaram antes do candidato, como invariavelmente acontece em suas agendas, para sondar e preparar o terreno.

Quando Meirelles apareceu, em um comboio de dois carros, acompanhado de motorista, dois seguranças e mais uma assessora de imprensa, além da mulher, já estavam todos a postos para orientar-lhe, conduzi-lo dentre os jornalistas, fotografar, filmar, gravar e postar conteúdo em suas redes sociais em tempo real. Pelo menos 12 profissionais acompanhavam o candidato.

Já no estúdio, Mendez repassa as últimas recomendações para o pupilo que parece nervoso já no púlpito, o primeiro da direita para a esquerda, na beirada do palco.

Toda a produção não parece fazer jus ao que vem a seguir. O debate transcorre sem maiores surpresas e Meirelles passa a maior parte do tempo relegado a segundo plano.

Um dos últimos a ser questionado no primeiro bloco – além dele restava ao candidato do Podemos, Álvaro Dias, o candidato do Patriotas, Cabo Daciolo – parecia não interessar aos rivais cientes de seus baixos índices de intenção de voto.

Na sua vez, o último de acordo com sorteio pré-definido, restou perguntar a Daciolo: “O que o senhor tem a propor para combater a pobreza no Brasil?”

Teve que ouvir na réplica do adversário que “a democracia é mesmo uma delícia, um banqueiro vir perguntar para um soldado da PM o que fazer para diminuir a pobreza...”. “Não sou banqueiro, sou bancário”, ainda atalhou Meirelles na tréplica, apegando-se ao fato de que era funcionário no banco do qual foi presidente e fiel ao esforço do seu marketing político, que tenta apresentá-lo como um rosto popular.

O ponto alto do candidato do debate, no entanto, deu-se sem sua participação quando a candidata Marina Silva (REDE) fazia uma defesa do papel das mulheres e atacou: “Quando tem uma briga em casa, uma desavença, precisa resolver algo, ninguém chama o Meirelles, chama a mãe, a tia, a irmã, a mulher”, afirmou Marina em referência ao slogan de campanha do emedebista.

Risadas gerais no estúdio e comemoração de Mendez, que foi muito cumprimentado por marqueteiros de outros candidatos e políticos. “Esse slogan é o maior sucesso da eleição”, parabenizou um dirigente tucano.

Bruno Santos/ Folhapress Bruno Santos/ Folhapress

Desejo solitário

Ser presidente do Brasil é um sonho. Não importa o quanto você insista ou varie a forma de perguntar, a resposta do candidato do MDB para quem tenta entender sua empreitada eleitoral é sempre uma variação deste tema central.

Meirelles enxerga a própria candidatura, segundo conta, como uma forma de retribuir ao Brasil tudo o que ele conquistou por meio de uma educação 100% pública nos ensinos Básico, Médio e Superior. Ou pelo menos é o que diz. "Eu decidi contribuir para o país, esse é o único motivo da minha vida pública”, afirma. “Não tem nada por trás, já cheguei ao topo da minha carreira, tive muito sucesso financeiro. Para mim isso é que dá sentido à vida, simples assim, acho que cada um deve contribuir na medida de suas possibilidades.”

Aos 72 anos, ele tem pressa. Não sabe, ou pelo menos não diz, já que não admite a derrota provável no domingo (7), quantas eleições mais pretende enfrentar. Foi ser presidente do Banco Central no governo Lula em 2003, depois de ter voltado dos EUA, onde dirigiu o Bank of Boston -- ficou no cargo até 2011, o presidente mais longevo na história da instituição. O executivo fez ainda uma campanha a deputado federal por Goiás em 2002. Foi eleito mas não chegou a tomar posse, para poder participar do governo petista. 

Nunca mais havia sido candidato -- trabalhou em grandes empresas brasileiras, entre elas o grupo J&F, dono da JBS de Joesley Batista – ganhou (muito) mais dinheiro e não explica em sua narrativa esse hiato de cinco anos no sonho de ajudar o país. Apenas em 2016, ganhou R$ 217 milhões com estes serviços, a maior parte de sua fortuna declarada. 

Em 2017, seu nome apareceu ligado a duas offshores nas Bahamas, no vazamento global de informações sigilosas que ficou conhecido como "Paradise Papers". Meirelles afirma que as empresas foram declaradas à Receita Federal e que pretende usar uma delas (a outra foi fechada) para doar parte de sua fortuna a projetos de educação quando morrer. 

No mesmo ano, aceitou o convite do presidente Michel Temer após o impeachment de Dilma Rousseff e voltou ao governo federal, desta vez na condição de ministro de Fazenda.

Sua candidatura sempre foi vista com desconfiança por caciques do partido e desde o começo ele partiu de uma situação de isolamento dentro da legenda, apesar de ter vencido a indicação partidária com ampla margem -- prometeu pagar a própria campanha sozinho e não mexer no fundo eleitoral partidário do MDB.

Em suas agendas, não é incomum vê-lo sem a companhia de nenhum outro candidato da legenda.

Hoje, vê o senador em busca de reeleição Renan Calheiros (MDB-AL) fazer campanha para Fernando Haddad (PT). Seu maior aliado dentro da sigla, o presidente Michel Temer, tem uma imagem tóxica dada sua impopularidade, e assim é mantido escondido.

Arte/UOL

Fazia sentido (no começo)

Políticos do MDB ligados à candidatura dizem que, inicialmente o plano de Meirelles fazia sentido. “Ele entrou como Ministro da Fazenda em uma economia arrasada”, afirma o correligionário, sobre a ida para o governo Temer em 2016.

“Acho que o plano era fazer as reformas, colocar o país para crescer e retomar o emprego. Aí ele sairia do governo para ser o candidato que salvou o Brasil, nos braços do povo, a exemplo do que aconteceu com o Fernando Henrique Cardoso, que coordenou o Plano Real enquanto era ministro do Itamar e saiu para em 1994 eleger-se presidente. O problema é que deu tudo errado, o país continua na lama, ele fez parte do governo mais impopular da história”, afirma o emedebista.

“E mesmo assim ele seguiu em frente. Teve o caminho dificultado, sabotado, tentaram amarrar o partido em outras chapas, tiraram o dinheiro [Meirelles só teve a indicação a presidenciável aceita na convenção do partido pois acertou com a cúpula que não usaria dinheiro do Fundo Eleitoral do MDB em sua campanha], e mesmo assim ele não desistiu. É intrigante essa teimosia”, diz o político.

“Depois de oito anos no governo federal, fiquei um tempo na iniciativa privada e vi agora [quando foi ministro da Fazenda de Michel Temer] uma nova chance de ajudar e tirei o país da recessão”, afirma  Meirelles laconicamente sobre a passagem e sem reconhecer os revezes na economia e no plano eleitoral.

“Agora quero continuar a mudar a vida dos brasileiros para melhor”, segue ele sobre a decisão de concorrer para presidente.

Mas, por que investir tanto em uma campanha sem chance de vitórias?

Marcelo Chello/CJPress/Folhapress Marcelo Chello/CJPress/Folhapress

Descompasso

Mesmo que o investimento na campanha de Meirelles tivesse vindo do fundo eleitoral partidário e não do bolso do próprio candidato, ainda haveria um descompasso muito grande em relação a outras candidaturas do mesmo porte, considerado o número de eleitores potenciais.

De acordo com as últimas pesquisas de intenção de voto para presidente, Meirelles se mantém em torno de 2% da preferência do eleitorado. Ele aparece empatado com o presidenciável do Podemos, Álvaro Dias, que também pontuou 2%.

Dias arrecadou R$ 5,2 milhões para sua campanha até agora: 60% do fundo eleitoral do Podemos e outros 38% de doações de pessoas físicas. O restante de fundos diversos. Do próprio bolso, Dias não investiu nada.

O candidato a presidente mais rico neste ano não é Meirelles e sim João Amoêdo, do Novo – que possui 3% das intenções de voto e assim empata com Meirelles dentro da margem de erro -- que declarou possuir R$ 425 milhões em bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), quase R$ 50 milhões a mais que Meirelles.

Mesmo assim, Amoêdo doou “apenas” R$ 235 mil nestas eleições, a 15 diretórios estaduais de seu partido – nenhuma doação direta para a própria campanha, que até agora arrecadou R$ 3 milhões de fontes diversas.

Meirelles não doou nem R$ 1 para outros candidatos ou diretórios.

Adriana Spaca/Framephoto/Estadão Conteúdo Adriana Spaca/Framephoto/Estadão Conteúdo

"Vai ficar um patrimônio de imagem"

“Você tem que olhar em perspectiva”, diz um dos profissionais de comunicação que trabalha na campanha de Meirelles e pediu para não ter o nome divulgado.

“Ele era absolutamente desconhecido do público, nunca tinha concorrido, investiu pesado e sai dessa eleição com um ‘recall’ [como é chamado no jargão publicitário o ‘patrimônio de imagem e conhecimento do público em geral’ de um político provocados pela exposição durante a campanha] enorme, um patrimônio de imagem que dá para ser usado depois, em outros carnavais”, afirma o profissional que diz não saber ao certo quais os planos do candidato do MDB para o futuro.

“Um cara do mercado financeiro, que acumula quase R$ 400 milhões de patrimônio ao longo da vida saindo do zero não é um sujeito inocente né”, afirma. “Pode ter certeza que ninguém enganou ele dizendo que tinha chances reais de vitória, como alguns jornalistas chegaram a sugerir recentemente.”

“O cara assumiu riscos a vida toda, sabe ver o custo contra o benefício, e decidiu fazer uma aposta calculada”, diz. “Fomos contratados para fazer uma campanha profissional, do nível que um investimento deste tamanho pode proporcionar, e é o que estamos fazendo.”

“Ele tem a vida resolvida e claro para ele mesmo que quer fazer isso da vida, quer muito ser presidente, quer ajudar o Brasil com uma vida pública consistente, deixar um legado, um nome para a história”, afirma.

“Pelo menos é isso que ele diz para a gente também, e achamos isso louvável. Nunca tinha trabalhado em uma campanha com um cliente assim, tão idealista, quase romântico”, diz o profissional da propaganda política. “É um cara desapegado, se o dinheiro está sobrando, por que não tentar? Acho que ele está certo.”

O comunicador diz também que o trabalho é inédito em questões mais prosaicas. “Tudo declarado com nota fiscal, o pagamento não atrasa, o cliente não implica com detalhes, fornece a estrutura necessária, outra coisa fazer campanha com ele”, diz. “Entrou no clima da campanha, topa tudo nessa pegada de tirar do pedestal, desmistificar o banqueiro, vai pra rua, faz caminhada, está se divertindo muito com a campanha e parece satisfeito com o resultado.”

Rahel Patrasso/Xinhua

Como se gasta R$ 45 milhões?

iStock/Getty Images iStock/Getty Images

Até sexta-feira (28), a campanha de Meirelles tinha arrecadado R$ 45 milhões exatos, 100% doados pelo próprio candidato. Já contratou R$ 43,352 milhões em despesas diversas.

Com 1 minuto e 55 segundos, o terceiro maior tempo na programação atrás das campanhas do PSDB e do PT, a maior parte do investimento é feito na produção do programa de TV para o Horário Eleitoral Gratuito e para as inserções comerciais ao longo da programação na TV aberta: R$ 24 milhões até agora.

Geraldo Alckmin (PSDB), que possui o maior tempo de TV, 5 minutos e 32 segundos, declarou gastos de pouco mais de R$ 15 milhões com a produção do programa de TV.

Outros R$ 3,4 milhões foram gastos em adesivos, santinhos e outros materiais gráficos como placas e faixas. Em viagens de jatinho executivo pelo país foram R$ 396 mil, e R$ 725 mil saíram para os advogados de campanha.

No Facebook, onde conta com 245 mil curtidas em sua página, o candidato fez 17 anúncios a um custo de R$ 1,164 milhão. No Google, investiu R$ 400 mil em anúncios patrocinados nos resultados de busca. Ao todo, a campanha na internet já custou R$ 5,8 milhões. 

Em pesquisas eleitorais, o candidato investiu outros R$ 3,4 milhões de acordo com as contas declaradas ao TSE.

Ao todo, a campanha já contratou mais de 70 empresas fornecedoras, incluindo gráficas e institutos de pesquisa, e 67 pessoas diretamente, de acordo com a prestação de contas declarada ao TSE.

O marqueteiro Mendez e sua equipe não revelam quanto estão cobrando pela campanha de Meirelles.

“Na produtora, temos toda condição de trabalho com computador, comida decente, salários em dia”, afirma um dos vários jornalistas que trabalham na campanha. “Em 2016 foi tudo muito pobre, muito ruim. Essa campanha parece os velhos tempos”.

“Fazer uma campanha direito é muito caro: figurinista, maquiador, eletricista, marceneiro, produtores internos e de rua, cinegrafistas, captadores de som, comida, limpeza, transporte, apoio administrativo, redatores, assessores, web designers, equipamento para este povo todo trabalhar, espaço, viagens”, enumera o funcionário da campanha.

“As pessoas olham o valor e acham que está todo mundo ficando rico. Os profissionais são muito bem pagos, é verdade, no mínimo o dobro do que ganharia na mesma função em um emprego regular, mas a maior parte do dinheiro é gasta na produção, sem falar na parte política, nos acordos com os correligionários do interior...”, diz ele.

Ricardo Matsukawa/UOL Ricardo Matsukawa/UOL

Sem ostentação (ou quase)

Meirelles esforça-se para passar uma imagem de homem simples e acessível, que dialogue com o grosso do eleitorado, e tenta afastar a imagem de milionário inacessível do mercado financeiro. Discreto, nas agendas eleitorais na rua procura sempre usar calça, sapato social e camisa com as mangas arregaçadas – com no máximo um paletó por cima. Nada de gravata.

Sempre está acompanhado de no mínimo dois seguranças e quase uma dezena de profissionais da campanha e assessores. Anda em comboios com no mínimo dois veículos, mas nada que chame muita atenção. Os carros utilizados nas agendas de campanha em São Paulo e região são do modelo Azera, da Hyundai, sedã luxuoso da marca. 

Na rua esforça-se para ser espontâneo, sorrir, abraçar e conversar com estranhos, que muitas vezes são arredios a suas abordagens não muito naturais e sem jeito. Em visita ao Instituto Politécnico da USP (Universidade de São Paulo), jogou sinuca com os alunos. Na 25 de março, em São Paulo, assoprou bolinhas de sabão. Na campanha, já carregou bebês e só não montou em um jegue por que não apareceu um na frente, de acordo com um assessor que costuma acompanhar suas saídas em público.

O esforço faz parte da estratégia de comunicação da campanha elaborada por Chico Mendez e sua equipe, que tenta de qualquer jeito vincular sua imagem à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o qual aparece em fotos na sua propaganda de TV.

Sua passagem pelo governo de Michel Temer mal é mencionada nas suas peças de publicidade, e o presidente nunca é mencionado nominalmente. O fato de ter trabalhado com Lula e Temer foi transformado em um “ativo” pelo marqueteiro, que argumenta na corrida eleitoral que não interessa a corrrente ideológica, quando precisa de ajuda com a economia o mandatário de plantão sempre “chama o Meirelles”, que nem o eleitor é convidado a fazer.

Mas existem limites. Pessoas que trabalham com ele dizem que sempre tem um álcool em gel no carro, com o qual tem o hábito de se limpar após o corpo a corpo com o eleitorado.

Em uma sabatina com veículos de comunicação pela qual passou nas últimas semanas, integrantes de sua equipe tiveram o cuidado de usar a própria água mineral na máquina de café expresso disponível no estúdio de gravação. Também não são comuns imagens dele comendo quitutes populares ou bebendo cafezinho na campanha de rua.

Suamy Beydoun/AGIF/Folhapress Suamy Beydoun/AGIF/Folhapress

Meirelles S.A.

Sem jeito, o coordenador político destacado pelo MDB para ajudar na campanha de Meirelles, o ex-ministro dos Transportes, João Henrique Sousa, admite que esta campanha “é uma situação diferente”.

“É uma situação diferente, atípica, um candidato que não precisa que a coordenação da campanha arrume dinheiro para ele", afirmou em uma agenda de campanha recente na qual acompanhava o candidato. "Ele acaba tendo bem mais controle sobre tudo, a campanha é gerida como se fosse uma empresa mesmo", explica. 

Por ser o dono de todo o investimento, Sousa diz que Meirelles não tolera desperdício. "Ele dá condição do pessoal trabalhar, mas sem esbanjar."

Sobre o isolamento político, o coordenador da campanha discorda. "Somos apoiados por correligionários onde quer que vamos, nossa campanha está ganhando corpo", afirmou, parecendo otimista.

Ricardo Matsukawa/UOL Ricardo Matsukawa/UOL

Vida de candidato

Enquanto a derrota estatisticamente inevitável não chega, Meirelles parece se divertir com a campanha que comprou para si. Na semana retrasada, participou de um ato com candidatas do MDB em SP e um grupo de “líderes comunitárias da periferia ligadas ao MDB", como foi explicado no evento, que aconteceu na sede da legenda na capital.

“Pessoal, vamos ensaiar direitinho para a hora que ele chegar a gente demonstrar bastante animação hein”, dizia uma das líderes às demais. “Chama o Meirelles! Chama o Meirelles!”, respondeu o coro com toda a espontaneidade possível.

Instantes depois, o carro de Meirelles encosta. “Chama o Meirelles, chama o Meirelles!”, grita a claque previamente ensaiada a hora que ele desce. Sem jeito, cumprimenta as presentes, dá declarações para os jornalistas que o acompanham e sobe para a “reunião” com as lideranças femininas – as mesmas que gritavam seu slogan de campanha na porta do local.

Na reunião, apresenta algumas palavras sobre a importância da mulher para o Brasil, fala de políticas para as mulheres e chama a mulher, Eva Meirelles, que participa ativamente da campanha (eles são casados desde 2003). Apenas Meirelles, sua mulher e duas candidatas do partido falam. As líderes comunitárias saem sem manifestar-se, e tudo dura menos de uma hora.

“Olha, não achei que ficou legal não, era para ter mais gente, ser uma coisa mais animada”, reclamou com a moça que puxava a claque no começo do evento uma das produtoras do programa de TV do candidato, que estava com uma equipe filmando o evento.

Logo depois que o candidato foi embora, duas vans encostaram em frente ao local e levaram as mulheres embora.

Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress

E se o próximo presidente "chamar o Meirelles"?

Como um bom político, Meirelles recusa-se a admitir que não tem chances de chegar ao segundo turno nas eleições deste ano. "Eu era completamente desconhecido, parti de uma base muito baixa, e na medida que a campanha vai acontecendo meu nome vai crescendo", repete.

"Neste ritmo, certamente estaremos no segundo turno", afirmava após o debate promovido pelo UOL em parceria com o SBT e o jornal Folha de S.Paulo.

"O que eu sempre quis e estou disposto é a ajudar o país, da melhor forma possível", diz, quando questionado se aceitaria um convite para integrar a equipe do próximo presidente, caso não seja ele. "Essa possibilidade não existe."

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