O debate entre os candidatos à Presidência da República promovido pelo UOL em conjunto com a "Folha de S.Paulo" e o SBT, na quarta-feira passada (26) dá a dimensão do isolamento e ao mesmo tempo do profissionalismo que cercam a candidatura de Henrique Meirelles ao Palácio do Planalto.
Geraldo Alckmin patina nas pesquisas, mas teve na plateia o apoio de tucanos como o senador José Serra e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, dentre diversos outros políticos do partido. Fernando Haddad levou os candidatos petistas ao Senado por SP, Eduardo Suplicy e Jilmar Tatto, também entre outros dirigentes da sigla.
Apesar de fazer a campanha presidenciável de um dos maiores partidos do país, nenhuma liderança ou candidato do MDB nacional ou mesmo de São Paulo – como o presidente Michel Temer ou o candidato ao governo do estado, Paulo Skaf -- acompanhou Meirelles aos estúdios da televisão de Silvio Santos, em Osasco, na Grande São Paulo. Nem mesmo o coordenador político de sua campanha, João Henrique Sousa, estava presente.
Em contraste, ele estava assistido pelo seu time de marketing político liderado pelo marqueteiro Chico Mendez, que já fez as campanhas do petista Fernando Pimentel ao governo do MG em 2014 (vitoriosa), e a campanha de Henrique Capriles, candidato à Presidência da Venezuela em 2012 derrotado pelo hoje ditador do país vizinho, Nicolás Maduro.
Integrantes da equipe, como o próprio marqueteiro e o assessor de imprensa, chegaram antes do candidato, como invariavelmente acontece em suas agendas, para sondar e preparar o terreno.
Quando Meirelles apareceu, em um comboio de dois carros, acompanhado de motorista, dois seguranças e mais uma assessora de imprensa, além da mulher, já estavam todos a postos para orientar-lhe, conduzi-lo dentre os jornalistas, fotografar, filmar, gravar e postar conteúdo em suas redes sociais em tempo real. Pelo menos 12 profissionais acompanhavam o candidato.
Já no estúdio, Mendez repassa as últimas recomendações para o pupilo que parece nervoso já no púlpito, o primeiro da direita para a esquerda, na beirada do palco.
Toda a produção não parece fazer jus ao que vem a seguir. O debate transcorre sem maiores surpresas e Meirelles passa a maior parte do tempo relegado a segundo plano.
Um dos últimos a ser questionado no primeiro bloco – além dele restava ao candidato do Podemos, Álvaro Dias, o candidato do Patriotas, Cabo Daciolo – parecia não interessar aos rivais cientes de seus baixos índices de intenção de voto.
Na sua vez, o último de acordo com sorteio pré-definido, restou perguntar a Daciolo: “O que o senhor tem a propor para combater a pobreza no Brasil?”
Teve que ouvir na réplica do adversário que “a democracia é mesmo uma delícia, um banqueiro vir perguntar para um soldado da PM o que fazer para diminuir a pobreza...”. “Não sou banqueiro, sou bancário”, ainda atalhou Meirelles na tréplica, apegando-se ao fato de que era funcionário no banco do qual foi presidente e fiel ao esforço do seu marketing político, que tenta apresentá-lo como um rosto popular.
O ponto alto do candidato do debate, no entanto, deu-se sem sua participação quando a candidata Marina Silva (REDE) fazia uma defesa do papel das mulheres e atacou: “Quando tem uma briga em casa, uma desavença, precisa resolver algo, ninguém chama o Meirelles, chama a mãe, a tia, a irmã, a mulher”, afirmou Marina em referência ao slogan de campanha do emedebista.
Risadas gerais no estúdio e comemoração de Mendez, que foi muito cumprimentado por marqueteiros de outros candidatos e políticos. “Esse slogan é o maior sucesso da eleição”, parabenizou um dirigente tucano.