Blockchain virou pop

Entenda a tecnologia por trás do bitcoin

Bruna Souza cruz Do UOL Tecnologia
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Você já deve ter ouvido falar sobre o bitcoin. Aquela moeda virtual que acabou fazendo muita gente ganhar dinheiro-- e perder também.

Só que o que muita gente ainda não sabe é que a tecnologia por trás do bitcoin tem sido considerada uma das mais importantes revoluções tecnológicas dos últimos anos: o blockchain.

O blockchain (cadeia em blocos, em tradução literal) é o grande sistema que faz o bitcoin e outras criptomoedas funcionarem, mas o potencial de transformar radicalmente uma série de outros setores é o que tem feito dele a tecnologia da vez.

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Blockchain no presente e no futuro

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Dinheiro mais rápido

O tempo de transação entre o envio e o recebimento de dinheiro dentro do blockchain é muito mais rápido do que os métodos convencionais. Como não precisa de intermediários, a transferência pode ser realizada com pessoas de qualquer parte do mundo sem passar por bancos.

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Alimentos

Na França, a rede Carrefour anunciou o uso do blockchain para rastrear a origem de frangos vendidos sobre a marca Filière Qualité. Os clientes terão, por meio de um QR code, acesso a data de nascimento do frango, de abate e tratamentos veterinários. A ideia é que outros produtos também sejam registrados para o mesmo fim.

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Eleições

Ideia radical? Alguns países já estão usando a tecnologia durante eleições. Neste caso, é possível garantir que um voto foi para determinado candidato/partido-- com o devido anonimato-- e que ele não foi duplicado. O que torna em tese a eleição mais segura contra fraude.

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Publicação de livros

A produção de um livro completo aqui no Brasil -- o Blockchain Revolution -- já foi financiada dentro de um sistema de blockchain. O sistema recompensou todas as pessoas que contribuíram com uma fração de uma criptomoeda escolhida previamente.

É um banco de dados seguro e poderoso distribuído. É um instrumento extremamente prático para você fazer operações sofisticadas

Carl Amorim, mestre em administração de empresas e diretor do Blockchain Research Institute no Brasil

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Bancos

Existem alguns testes e um deles é permitir que clientes enviem dinheiro para suas contas no exterior bem mais rápido. Outros analisam desenvolver blockchains próprios para que as transações de seus clientes fiquem em um local mais seguro e passível de rastreabilidade. Mas neste caso, alguns especialistas criticam o fato do blockchain não ser público e sim particular.

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Contratos inteligentes

Por ser um sistema seguro, documentos oficiais como escritura de imóveis, contrato de direitos autorais, contratos de de compra e venda de algo podem ser formalizados dentro de blockchain. O uso ainda é experimental, mas a tendência que é que o processo cresça.

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Cartórios

Documentos que precisam do cartório para serem validados podem ser usados dentro da engenharia do blockchain e testes já estão sendo feitos no setor. Quem sabe, logo mais, a gente não precise ir até o local para emitir registro de nascimento, de casamento e reconhecer firma. Tudo pode ser feito com uma assinatura digital autenticada dentro do blockchain.

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Registros médicos

Testes também estão sendo feitos para identificar como o sistema do blockchain pode ser usado para armazenar informações médicas, como dados do prontuário e prescrições. O Governo da Estônia começou a testar a tecnologia no setor médico.

O blockchain permite transparência. Estou muito empolgado com a oportunidade do blockchain lutar contra a corrupção. Essa é a hora que poderosas tecnologias podem ajudar a resolver esses grandes problemas de comportamento

Don Tapscott

Don Tapscott, pesquisador canadense especialista em criptomoedas e cofundador do Blockchain Research Institute

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Governos

Os gastos públicos poderiam ser armazenados em um blockchain público. Com isso, as informações estariam disponíveis para a população e o risco de qualquer alteração dos dados seria menor, ou até mesmo impossível, conforme as regras para o funcionamento da tecnologia.

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Indústria da música

Cantores, compositores e gravadoras poderiam ser beneficiários se os arquivos de áudio fossem comercializados via blockchain. A cada compra, as três categorias receberiam automaticamente a respectiva porcentagem do total arrecadado.

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Ingresso para shows

O setor de ingressos também é um que tem estudado usar a tecnologia do blockchain para tornar a compra, a venda e a distribuição dos bilhetes mais seguras. A empresa Upgraded é uma das que aposta nisso, principalmente para evitar fraudes.

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Bebidas

Pode parecer estranho, mas até a produção de cerveja pode ter ajuda da tecnologia. Ainda não é realidade, mas um mestre cervejeiro poderia fazer de sua receita um ativo digital. Com isso, todo mundo que quisesse ter acesso a ela, pagaria um valor em criptomoeda e o autor seria remunerado por isso. Isso diminuiria o uso indevido do documento virtual sem os devidos direitos autorais.

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Para ser um blockchain é preciso...

  • Todo mundo ter o controle

    Como todo mundo sabe de tudo, a tecnologia é considerada descentralizada e distribuída. Não existe um dono que controla as informações. Todos os envolvidos ficam interconectados na mesma rede.

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  • Não existir intermediários

    Qualquer tipo de transação feita dentro do blockchain é feita entre "quem envia e quem recebe". Não existe intermediários no processo e tudo é feito de A para B e vice-versa.

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  • Tudo ser público

    Todas as transações dentro de um blockchain podem ser acessadas por qualquer pessoa, já que elas ficam públicas e disponíveis na internet para quem quiser acessar.

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  • O conteúdo não ser editável

    As transações são rastreáveis já que são públicas e os registros inseridos são invioláveis. Você pode adicionar um dado novo, mas não pode mudar os dados já registrados, que ficam salvos no banco de dados de forma ordenada cronologicamente. Qualquer sinal de alteração, todo mundo fica sabendo e as máquinas conectadas bloqueiam a operação.

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  • Anonimato

    Em cada transação, o usuário possui uma identidade virtual que é criptografada. Com isso, eu não sei que o internauta A é a Maria e nem que o B é o João. Por isso, é impossível saber quem está por trás de todo o processo. Eu só consigo saber acessando os registros públicos do blockchain que a pessoa A fez uma transação para a pessoa B.

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O sistema é contra fraudes. Em caso de tentativa, o sistema mesmo reconhece e trava. Então, seria preciso mudar tudo em questão de segundos, mas não existe uma força computacional hoje tão forte para fazer isso

Fernando Barrueco, diretor da Bomesp e representante da Fundação Niobium, entidade internacional sem fins lucrativos que possui a própria criptomoeda

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Blockchain é perfeito?

Em dez anos, o blockchain mais famoso do mundo, que é o do bitcoin, ainda não foi violado e não há registros de que hackers tenham conseguido editar dados ou roubá-los. O sistema que envolve o bitcoin é seguro porque ele é capaz de registrar, autenticar e rastrear TODAS as transações feitas dentro dele.

Quando ouvimos falar de roubo de criptomoedas, por exemplo, é porque a violação ocorreu no equipamento do usuário ou na corretora contratada pelo internauta. Mas nada disso aconteceu ainda dentro dos próprios blockchains existentes.

Especialistas afirmam que é a tecnologia mais segura do momento. Mas é impossível afirmar que ela será assim para sempre. Os cibercriminosos desenvolvem estratégias cada vez mais elaboradas e a segurança do blockchain deve ser prioridade para quem adotar o sistema, segundo os profissionais ouvidos pelo UOL Tecnologia.

Nos últimos meses, uma série de ataques virtuais ganharam o noticiário mundial. Um dos mais recentes envolveu o sequestro de computadores para que eles minerassem ilegalmente a criptomoeda Monero, que fica em um blockchain próprio. E o pior: para isso bastava abrir um site infectado-- mais de 4 mil páginas foram afetadas em todo o mundo.

Eu acredito que a chance de haver fraudes é muito remota. Entretanto, quando falamos de cibersegurança, sabemos que não há sistema cem por cento seguro. Sempre há uma chance remota de fraude ou violações. Neste caso, seria preciso mobilizar muitos recursos -- humanos, financeiros, tecnológicos -- para comprometer os mecanismos de segurança do blockchain

Andre Leon S. Gradvohl, membro sênior do IEEE e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)

Blockchain do mal

Até aqui foi possível ver o quanto a tecnologia do blockchain podem influenciar nossas vidas em um futuro próximo.

Mas não podemos deixar de lembrar que o sistema ainda está em evolução e algumas lacunas precisam ser preenchidas e desafios precisam ser superados.

  • Impacto ambiental

    Para o blockchain funcionar é preciso que existam computadores conectados trabalhando para manter o sistema ativo. No caso do Bitcoin, por exemplo, o gasto energético é algo absurdamente alto. O consumo de energia envolvendo a criptomoeda é maior do que em muito país. Calcula-se que ele tenha atingido perto de 12,5 mil megawatt/hora, o que é comparável a todo o gasto energético do Iraque.

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  • Pornografia infantil

    Como os arquivos digital no blockchain são transmitidos por meio de pseudônimos baseados em códigos, pessoas mal-intencionadas têm usado o sistema para compartilhar pornografia infantil, já que a identificação é uma tarefa bem difícil

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  • Drogas, armas e crimes

    A compra e venda destes itens também circulam em alguns blockchains que funcionam atualmente. Um deles é o do bitcoin, que no começo ficou bem conhecido por abrigar o comércio de drogas, armas e produtos ilegais. Os usuários se aproveitam do perfil anônimo e criptografado para esconder suas identidades.

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