No dia da colisão entre seu carro e a bicicleta, assim que se entregou no posto da Polícia Militar, Alex foi encaminhado para uma delegacia. De lá, foi levado para a prisão, onde permaneceu por 12 dias. Ele responde ao processo em liberdade desde então por conta de um habeas corpus conseguido por seus advogados, num primeiro momento, e por uma decisão da Justiça que reduziu sua pena e a substituiu por serviços prestados à comunidade.
O rapaz afirma que, por pelo menos um ano, se isolou em casa, saindo pouco, apesar da insistência dos amigos. Passou por atendimento psicológico e psiquiátrico e teve diagnosticado um quadro de depressão. Diz que toma medicamentos até hoje.
Eu tenho depressão, sou uma pessoa depressiva, tomo remédios por tudo isso. Foi depois do acidente que eu comecei a ter a depressão."
Alex Siwek, motorista
"Eu não saía muito de casa, porque as pessoas me martirizaram muito depois do acidente. Eu estava com muito medo de sair, de até ser reconhecido, a pessoa partir para a ignorância ou falar alguma coisa, porque eu já estava muito fragilizado", acrescenta.
Alex começou a trabalhar seis meses após o acidente como vendedor de máquinas metalúrgicas, na mesma empresa onde o pai é funcionário. Ele conta que, durante uma feira, foi reconhecido e xingado por um homem.
"Eu fui ao banheiro, lembro de um cara olhar para mim e falar: 'Olha lá o rapaz do braço'. Isso me deixou muito mal na hora", diz.
Outros episódios desse tipo aconteceram, de acordo com Alex. Cerca de um ano e meio depois da colisão do carro com a bicicleta, um veículo parou em frente ao prédio onde ele mora, de madrugada, e alguém gritou: "Cadê o braço, filho da puta?"
"Já aconteceu de um cara olhar para mim e me xingar: 'Você é um filho da puta, você podia ter parado e ajudado o moleque, onde você enfiou o braço, no cu?' Coisas que realmente me traumatizaram."
David, que trabalhava antes de perder o braço, só voltou ao trabalho dois anos mais tarde. Ele tem direito a receber um benefício mensal da Previdência Social e também pôde sacar o seguro de vida pago pela empresa de limpeza de fachadas. Nos oito primeiros meses, porém, ele não recebeu nada.
Estava vivendo às custas da minha mãe e do marido dela. Algumas pessoas chegaram a ajudar, fizeram arrecadação [de dinheiro] no primeiro e no segundo mês. E eu recebi de coração aberto, porque realmente precisava."
David Sousa, ciclista
Para não perder o ano na escola, ele gravava as aulas, voltava para casa e contava com a ajuda da cunhada, que escrevia tudo em seu caderno. "Eu era destro, não fazia nada com a esquerda. Depois do acidente, tive que fazer tudo ao contrário. Minha mão esquerda tinha que ser a direita, e a esquerda, fazer tudo."
Ele voltou a pedalar cinco meses depois da cirurgia de amputação, com os comandos de freio e troca de marchas das duas rodas adaptados para a mão esquerda.