A arquiteta Clarissa Souza, professora da Universidade Santa Cecília e pesquisadora do Observatório Socioespacial da Baixada, diz que a preocupação de Tatiane atinge a grande maioria das famílias das palafitas.
"Ninguém escolhe viver na miséria em que eles vivem. Se der uma opção de apartamento de dois quartos, é claro que eles vão querer. Mas é preciso fazer um mapeamento correto da renda dessas pessoas, senão não sobra dinheiro para comer, mesmo que se pague, por exemplo, uma taxa mínima de água", diz.
O gerente regional da CDHU da Baixada Santista, Rafael Redó, afirma que o critério adotado é o de que, mesmo desempregada, a família consiga reunir todo mês o valor de um salário para viver. E que, nesses casos, a prestação da nova moradia não passa de R$ 143,10 --quem comprova renda maior, paga mais.
Além disso, segundo ele, os mutuários são acompanhados por equipe de assistência social, que oferece respaldo em caso de dificuldades com o pagamento e encaminha a programas de geração de renda do estado.
Clarissa também observa que é preciso buscar alternativas além dos conjuntos habitacionais, já que as áreas para construir são poucas e o problema exige soluções rápidas. Segundo ela, existem edifícios antigos no centro da cidade que podem ser reabilitados. Muitos deles, inclusive, acabaram se tornando cortiços, estando precariamente ocupados.
A superintendente de Planejamento Habitacional da CDHU, Maria Claudia Pereira de Souza, concorda com a professora e diz que o caminho também passa pela regularização fundiária de áreas já urbanizadas e urbanização de trechos de favelas, acelerando a oferta de moradia.
Um mapeamento dos assentamentos precários das regiões metropolitanas do estado de São Paulo, incluindo os da Baixada Santista, está sendo realizado pela CDHU em parceria com os municípios e, segundo Maria Claudia, vai ajudar na identificação das demandas por moradia.
As áreas serão classificadas em: 1) as que não precisam de nenhuma obra, mas necessitam de regularização; 2) as que deverão ser urbanizadas parcialmente com baixo índice de remoção de famílias que vivem em condições precárias; 3) as que terão parte urbanizada, mas com um alto índice de famílias a serem removidas por se tratar de uma área de grau de risco maior ou que necessitam de obras de maior porte; e 4) aquelas que necessitam de desocupação total, com recuperação para áreas de risco ou áreas de proteção ambiental.
Hoje, muitas cidades desconhecem o tamanho do problema, trabalhando com números subestimados de moradias precárias e até desconhecimento de suas reais condições. A última atualização que a Cohab Santista tem da quantidade de domicílios em favelas como o Dique da Vila Gilda, por exemplo, é de 2006.