Os bancos estavam repletos de mães da zika do lado de fora da Associação de Assistência à Criança Deficiente no Recife, quando Jaqueline Vieira chegou, embalando seu filho Daniel, cuja cabeça era pequena demais para seu corpo, com seus dedos fechados em punhos.
Óculos azuis estavam presos à sua cabeça e botas imobilizadoras azuis com desenhos do Mickey Mouse em suas pernas.
Ela e outras mães conversavam. Uma disse que por um breve momento não conseguiu encontrar seu bebê naquela manhã, depois notou que ele rolou e caiu da cama. "Isso é bom", outra disse. "Ele se moveu. Quem dera meu bebê fosse assim."
Desde o nascimento de Daniel há 16 meses, Jaqueline se separou de seu marido, perdeu seu auxílio mensal do governo, deixou um emprego e se vira com outras ajudas do governo.
A própria concepção de Daniel foi contra as probabilidades. Jaqueline desenvolveu câncer uterino quando seu outro filho era pequeno.
Enquanto passava por quimioterapia, ela começou a namorar Dalton Douglas de Oliveira, cinco anos mais novo que ela, que frequentava sua igreja evangélica. Eles apressaram o casamento para que a igreja não descobrisse o sexo antes do casamento.
Um mês após o casamento, ela soube que estava grávida de três meses. "Foi a maior alegria da minha vida", ela disse. Seu marido também ficou empolgado. "Queríamos ter um filho nosso", ele disse.
No quinto mês de gravidez, Jaqueline ficou perturbada quando um médico disse que um ultrassom mostrou hidrocefalia, um cérebro cheio de líquido, e que o bebê poderia morrer, ela lembrou.
Mas no sétimo mês, outro médico discordou, dizendo: "Olhe, seu filho é especial, ele tem um pequeno problema, mas o que ele tem é microcefalia", disse Jaqueline. "Foram boas notícias."
Mas o alívio dela evaporou após o nascimento de Daniel.
Eu achei que tinha sido punição de Deus por ter engravidado quando não deveria."
Os cuidados com uma criança doente estressaram o relacionamento do casal. Dalton disse que sua esposa não lhe pedia ajuda e reconheceu que estava irado demais com ela para oferecer. "Meu problema era com ela, não com o bebê", ele disse.
Aos dois meses, Daniel despertou com dificuldade de respirar. No hospital, Jaqueline lembrou, os médicos suspeitaram que mofo ou poeira em casa estava irritando os pulmões dele, e recomendaram melhorar a qualidade do ar da casa ou se mudarem.
Dalton achou que sua esposa estava exagerando. As coisas explodiram depois disso. Jaqueline deu entrevistas à televisão alegando que seu marido "não dá atenção ao menino", ela disse, reconhecendo que a publicidade gerou doações do exterior.
Após disputas em torno da pensão alimentícia, ele parou de pagar. E quando ele a ignorou na rua, ela disse às pessoas que ele estava na verdade evitando a doença de Daniel.
Jaqueline, uma ex-funcionária da padaria do supermercado que recebia auxílio-doença do governo por câncer, teve dificuldade em pagar pelo medicamento anticonvulsões de Daniel, Sabril, cerca de R$ 300 por mês. Para ajudá-la, um grupo de policiais começou a comprá-lo e ela e outras mães às vezes compartilham comprimidos.