
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, liberou a divulgação de 2.800 documentos secretos sobre o assassinato do ex-presidente John F. Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963. Mas parte dos registros (300 arquivos) continuará restrita por razões de "segurança nacional"
Com a divulgação de mais de 2,8 mil documentos sobre a morte do ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy, novos detalhes sobre a dinâmica do assassinato de 1963 estão surgindo. Entre os pontos destacados pela mídia norte-americana, estão uma possível conexão do atirador Lee Harvey Oswald, morto dois dias após assassinar o Kennedy, com a polícia secreta da então União Soviética, a KGB.
Segundo um dos memorandos do FBI, os soviéticos chegaram a pensar em uma "conspiração bem organizada" da ultradireita nos Estados Unidos porque temiam que algum "general irresponsável" lançasse um míssil contra seu território por conta do assassinato.
Já um memorando da CIA sugere que Oswald conversou com um oficial da KGB na Embaixada da Rússia na Cidade do México, dois meses antes de assassinar o presidente. Esse representante, o cônsul Valeriy Vladimirovich Kostikova, seria o responsável pela seção de "sabotagem e assassinatos" da polícia secreta soviética. No entanto, em outro documento do FBI, há a informação de que os dirigentes da URSS consideravam o atirador um "maníaco neurótico".
Eventuais relações entre Lee Harvey Oswald e o governo de Fidel Castro também são sugeridas.Um áudio de março de 1967 obtido pelo FBI relata uma conversa entre dois cubanos, um deles identificado como espião do governo, na embaixada do país na Cidade do México.
O suposto espião, funcionário da embaixada, disse que os "Estados Unidos estavam tentando culpar Cuba pela morte". O outro homem, então, afirmou que Oswald deveria ser um "bom atirador". O suposto espião respondeu: "sim, ele era muito bom. Eu o conheci".
Um comitê da Câmara dos EUA que investigou assassinatos, no entanto, considerou que assassinar Kennedy "não valia a pena" para Fidel. "Esse comitê não acredita que Castro assassinaria Kennedy, porque esse ato, se descoberto, teria dado aos Estados Unidos uma desculpa para destruir Cuba. Esse risco não valia a pena."
Se há indícios de que Fidel não pretendia matar Kennedy, não se pode dizer o mesmo sobre a CIA em relação ao líder cubano. Diversos documentos liberados na quinta mostram planos da agência para assassinar Fidel, inclusive tentando envenenar sua roupa de mergulho.
Um memorando do FBI fala sobre a proteção de Oswald após assassinar Kennedy. No texto, o diretor do FBI, J. Edgar Hover, afirma que "notificou o chefe de polícia" e que ele "garantiu que Oswald teria proteção suficiente". A notificação ocorreu porque a polícia recebeu uma ameaça de morte contra Oswald, uma noite antes do crime.
"Na noite passada, recebemos uma chamada de Dallas de um homem que falava num tom de voz calmo e que dizia ser membro do comitê organizado para matar Oswald", escreveu Hoover em 24 de novembro. "[O chefe da polícia de Dallas] assegurou que lhe tinha sido dada proteção adequada. Mas isso não foi feito".
A proteção não foi suficiente e o assassino acabou sendo morto por Jack Ruby, dono de um clube na cidade de Dallas, durante uma de suas saídas escoltadas da delegacia para a prisão.
Um dos arquivos tem o testemunho de Richard Helms, ex-diretor da CIA, à comissão presidencial para atividades da CIA, onde ele comenta as ações da agência na Guerra do Vietnã. No fim da conversa, a comissão o questiona sobre JFK.
"Existe alguma informação sobre o assassinato do presidente Kennedy que forneça alguma mostra que Lee Harvey Oswald era, de alguma maneira, um agente da CIA ou age..."
O documento é cortado exatamente neste trecho.
Um dos documentos já analisados mostra que o presidente Lyndon B. Johnson (na foto acima, fazendo o juramento para se tornar presidente dos EUA após a morte de Kennedy), que era vice de Kennedy e que assumiu o posto após a morte do democrata, acreditava que o crime fora cometido como uma resposta ao assassinato do presidente do Vietnã do Sul, Ngo Dinh Diem, durante a guerra.
Especialistas sobre o assassinato de Kennedy acreditam que os documentos não irão afastar as teorias sobre uma complô.
Mas a avalanche e variedade de documentos promete manter ocupados os curiosos: de memorandos do diretor do FBI a interrogatórios com testemunhas em Dallas que deram pistas após o assassinato, um fato muito importante na história dos Estados Unidos.
Alguns incluem notas manuscritas difíceis de ler.
"Muitas pessoas pensam que eles (...) conterão uma solução para o caso sobre a qual todos possam concordar, mas isto não vai acontecer", disse Gerald Posner, autor do livro "Case Closed", que concluiu que Oswald realmente agiu sozinho.
"Ninguém vai abandonar sua crença em uma conspiração só porque a liberação dos arquivos não prova isso", acrescentou. "Eles dirão que (a prova) deve ter sido destruída ou escondida".
Larry Sabato, professor de política da Universidade da Virgínia e autor de "The Kennedy Half Century", observou que os documentos retidos vão alimentar as especulações.
"O que quer que eles estejam segurando será chamado de Pedra de Rosetta", disse Sabato a agência de notícias AFP. "Só alimentará mais teorias da conspiração".
Oswald, que desertou para a União Soviética em 1959, mas retornou aos Estados Unidos em 1962, foi preso logo após o assassinato de Kennedy, depois de matar um policial de Dallas.
O assassino foi morto a tiros dois dias depois por um dono de boate, Jack Ruby, quando ele estava sendo transferido da prisão.
De acordo com o jornal "The New York Times", a maior parte dos dados analisados até o momento mostram "o drama e o caos" que foram os dias e meses que se sucederam após o crime. No entanto, uma parte da documentação, que foi divulgada pelo Arquivo Nacional, não foi tornada pública por Donald Trump, após a solicitação tanto do FBI como da CIA, por conterem informações que podem trazer "perigo" para a segurança da nação. O republicano colocou sigilo por mais seis meses nessa documentação, que representa cerca de 5% dos dados.
As versões digitais dos documentos não mais confidenciais já estão disponíveis no site do Arquivo Nacional, segundo a determinação de uma lei americana de 1992.