
Não houve tempo para comer. Almoços de família de domingo foram interrompidos, a comida ficou toda na mesa. Crianças deixaram para trás brinquedos, e as roupas ainda estão estendidas nos quintais. Animais morreram petrificados.
As autoridades guatemaltecas reagiram devagar aos sinais de que o Vulcão de Fogo tinha uma erupção iminente, o que aconteceu em 3 de junho. O resultado foi um dos mais trágicos desastres naturais e humanitários da história recente da Guatemala.
O vulcão entrou em erupção no começo do domingo. Ao meio dia, cuspia colunas quilométricas de cinzas que, quando caíram, atingiram em cheio plantas, casas, gentes e bichos no país da América Central.
Mesmo com o barulho da montanha e com a queda das primeiras cinzas na manhã de domingo, muitos guatemaltecos ficaram parados. Eles apostavam que a sorte que os protegeu por décadas estaria, novamente, do lado deles.
Mas à tarde a situação piorou.
Toneladas de cinzas, impulsionadas por gases tóxicos escaldantes, desceram pelos flancos do Vulcão de Fogo.
Esses "fluxos piroclásticos" atingem velocidades muito mais rápidas e letais do que a lava, arrastando árvores e pedras gigantes em seu caminho até as vilas.
Quando a maioria das famílias dos vilarejos de El Rodeo e San Miguel de los Lotes percebeu o que estava acontecendo, só tiveram tempo de correr.
Minha família estava almoçando. Eles deixaram os pratos de comida e fugiram. Não levaram nada, só a roupa do corpo.
Agora, tudo na paisagem que já foi exuberante e verde está revestido por grossas camadas de cinzas vulcânicas de cor sépia, criando uma estranha sensação de navio fantasma. Onde antes havia vida, agora há calor, poeira e um cheiro persistente de enxofre.
Em uma casa, as páginas de uma Bíblia estão chamuscadas. Lá fora, o gado estava morto. Nas cozinhas, havia comida em panelas pronta para ser servida.
Pelo menos 114 pessoas morreram e cerca de 200 estão enterradas sob os escombros da vila nas encostas do vulcão. O Vulcão de Fogo está entre as regiões de Sacatepequez, Escuintla e Chimaltenango, a cerca de 50 km da Cidade da Guatemala, a capital do país.
Equipes de resgate caminham pelos telhados das casas como se fossem o chão, cavando o topo das construções, onde encontram corpos daqueles que não conseguiram fugir.
Somente poucos cachorros, galinhas, coelhos e gatos sobreviveram.
Quando a matéria vulcânica em chamas começou a cair, alguns escaparam a pé, outros de carro.
“Eu peguei a caminhonete e escapei com vários vizinhos quando avistamos a fumaça”, disse o fazendeiro Alejandro Velasquez, de 46 anos.
Minha família inteira está desaparecida. Eu daria minha vida para encontrá-los.
Os que tiveram menos tempo apenas correram pelos arbustos e saltaram sobre as cercas de arame farpado para para chegar à estrada principal da cidade de Escuintla, perto de Los Lotes.
Muitos perderam de dez a 50 parentes, descendentes de pequenas famílias que estavam em Los Lotes há quarenta anos. Eles continuam procurando seus parentes — ou, pelo menos, seus corpos.
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