Não é difícil encontrar relatos de negros mortos em Alagoas. Mais complicado é que as famílias queiram aparecer.
Em geral, dizem que têm medo de retaliações, da polícia ou de traficantes que comandam a venda de drogas em bairros periféricos.
"A gente prefere deixar isso pra lá, ainda dói em nós e temos medo, não sabemos quem matou ele", conta a irmã de um jovem negro de 20 anos morto em 2016 no bairro do Clima Bom, em Maceió.
"A dor ainda é muito grande, não sabemos quem matou, não quero aparecer, nem que o nome dele apareça. Desculpa", diz, emocionada, a mãe de outro jovem, de 19 anos, morto no bairro do Jacintinho, em fevereiro.
Um dos poucos que aceitaram falar e mostrar o rosto foi o jornalista Railton da Silva (na imagem acima), 31, que teve o irmão Robson assassinado com cinco tiros, no dia 19 de janeiro. "O corpo dele foi encontrado dois dias depois na lagoa Mundaú. Uma vizinha viu uma reportagem em um site e nos avisou que se tratava dele", conta Railton.
O jornalista conta que o irmão tinha um carrinho de pipoca e convivia com o problema de esquizofrenia, mas era tratado por psiquiatra e psicólogo.
Alguns meses antes de ser morto, Railton diz que Robson (em imagem de arquivo abaixo) deixou de tomar os remédios controlados. A família tem poucas informações sobre o uso de drogas dele, mas afirma que a morte pode ter relação com o tema.
"A gente nunca foi atrás para saber quem o matou e por qual o motivo. A polícia chegou a prender um traficante da área em março, mas soubemos que a denúncia contra ele foi feita por tráfico, não por assassinato", relata.