A primeira vez que os adolescentes puderam votar foi também a primeira vez que os brasileiros puderam escolher um presidente depois de 29 anos, intervalo que engloba a eleição de Jânio Quadros, em 1960, sua renúncia, em 1962, o golpe civil-militar que tirou João Goulart da Presidência, em 1964, os 21 anos de ditadura militar e o período de redemocratização até a eleição presidencial de 1989, já com voto direto.
Mas o voto não representa todas as possibilidades que os adolescentes têm de atuação na política. Sophia de Castro, 16, vai votar, mas ressalta que “não necessariamente o jovem politizado precisa votar ou tirar título”. “Porque política é muito maior do que eleição. Na verdade, eu acho que eleição não é nada perto do que a gente pode fazer.” Sokabe, 17, tem uma visão parecida: “Acho que a população acredita que o exercício democrático é pautado só no voto e outros fatores da democracia são deixados de lado”.
A visão de o voto não ser a única “arma política” agrada à Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). A entidade foi uma das principais articuladoras da inclusão do direito ao voto facultativo de adolescentes de 16 ou 17 anos na Constituição de 1988.
O voto é parte de um processo importante, mas não pode só depositar o seu destino. O voto não é o fim
Camila Lanes, 19, presidente da Ubes
Em 1989, na primeira vez em que os adolescentes puderam participar pelas urnas, eram 3,1 milhões de pessoas com 16 anos ou 17 anos aptas a votar, cerca 2,9% do eleitorado. O número de jovens com título de eleitor ainda aumentou para a eleição municipal de 1990, com 3,2 milhões de adolescentes, representando 3,5% dos eleitores brasileiros na época.
A partir de então, considerando os anos eleitorais, a proporção de adolescentes no eleitorado sempre esteve próximo dos 2%, com exceção de 1996 (1,02%) e 2000 (0,82%). Em abril de 2016, estava em 1,7%, o segundo pior resultado em relação a anos com eleições municipais.
"A gente observa, agora, que existe um movimento diverso do que havia nos anos 1980 e 1990. Naquela época, havia uma grande politização dos jovens, mas com um viés de esperança e de atuação partidária”, diz Cláudio Couto, cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Agora, a gente até vive um momento de ebulição e muita discussão política, mas o momento é de descrença em relação aos políticos e aos partidos. Especialmente entre os mais jovens.
Cláudio Couto, cientista político da FGV
Giovana Rezende, 16, concorda. “Conheço amigos meus que escolhem não ler sobre política, não opinar. Eu acho isso muito errado porque o mundo, o mundo corporativo, seu trabalho, seus amigos vão exigir isso de você, uma opinião. Porque você é um cidadão que precisa falar o que acha.”