Ao longo do trajeto que leva até a maior área de caatinga selvagem do país, no norte da Bahia, é difícil cruzar com outros veículos na estrada. A mais de 100 km de Juazeiro, cidade mais próxima, a região tem pequenos povoados à margem das estradas de terra, casas abandonadas por antigos moradores que fugiram da seca, bodes soltos que circulam pela via.
As horas de viagem levam ao Boqueirão da Onça, região formada por serras e vales estreitos cobertos pela vegetação que só existe no Brasil, a caatinga. Faz dez anos que o decreto que cria uma unidade de conservação no local, do tamanho aproximado de 800 mil campos de futebol, está engavetado.
"Essa extensa caatinga preservada só existe aqui. Aqui vivem onças-pintadas e parda, e a pintada é uma espécie extremamente ameaçada nesse bioma", diz Rogério Cunha de Paula, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), órgão do Ministério do Meio Ambiente.
Ele fez parte das primeiras expedições científicas à região para investigar a biodiversidade local. Nesse atual retorno, pouco mais de dez anos depois da primeira visita, Cunha notou diferenças na paisagem: centenas de torres eólicas fincadas no meio da caatinga.