
Estudantes tomam as ruas com palavras de ordem. Barricadas interrompem o trânsito. Trabalhadores cruzam os braços, e o comércio baixa as portas. Rapidamente, as imagens rodam o mundo –mesmo sem redes sociais ou internet.
Estamos em maio de 1968, durante aquela que foi a maior greve geral da França, mas também uma das mais emblemáticas do século 20. Talvez pelo tamanho das passeatas, que levaram mais de 200 mil pessoas às ruas, pela estética dos combates, com pedras na mão e carros queimados, ou pelos slogans utilizados --como o célebre "é proibido proibir". Ou, mais provavelmente, por tudo isso junto.
Tudo começou com uma revolta de estudantes universitários em Nanterre, no interior da França. E em pouco tempo, tomou todo o país. Feministas, operários, agricultores se somaram ao movimento –cada grupo com reivindicações diferentes, mas todos parte de uma mesma conjuntura: o mundo estava inquieto.
Crítica à Guerra do Vietnã e revolta após a morte de Martin Luther King, nos Estados Unidos. Oposição ao regime soviético na então Tchecoslováquia. Endurecimento da ditadura no Brasil. Essas eram algumas agendas que, em diversas partes do planeta, geravam indignação.
Meio século mais tarde, as cenas das manifestações francesas de maio de 1968 se cristalizaram como símbolo desse momento de revolta mundial.
Saiba quem foram os principais personagens desse episódio que marcaram a maneira como vamos às ruas reivindicar.
O movimento começou na universidade de Nanterre, a oeste de Paris. Em 22 de março, o estudante alemão Daniel Cohn-Bendit e uma centena de colegas ocuparam um prédio para protestar contra a prisão de estudantes franceses que se opunham à guerra do Vietnã.
A agitação se espalhou pelo país e explodiu quando, em Paris, cerca de 600 estudantes foram presos dentro da Universidade de Sorbonne após um protesto. “Os estudantes se transformaram em manifestantes descontrolados”, disse o prefeito de Paris na época, Maurice Grimaud. A Cidade Luz se transforma em um campo de batalha.
Os estudantes franceses lutavam contra o sistema –representado pelos policiais, pelos símbolos do poder ou da sociedade de consumo.
Os violentos confrontos entre policiais e manifestantes marcam as imagens dos protestos neste ano.
Com capacetes e escudos, policiais entraram na Universidade da Sorbonne para desocupá-la em 3 de maio de 1968. Na sequência, abundam as imagens de confrontos entre policiais e manifestantes. Jatos d’água, armas de borracha e cassetetes estampam as páginas dos jornais da França e do mundo.
Os confrontos com os policiais não eram apenas físicos. Maio de 1968 foi marcado também pelas provocações dos estudantes em relação às forças de ordem. Nessa época, surgiram os apelidos comparando os policiais às forças nazistas.
No caldeirão de reivindicações que compunham as pautas dos protestos, demandas e inquietações femininas tiveram também seu espaço. Nas residências universitárias, por exemplo, elas se queixavam da separação entre homens e mulheres e pediam moradias mistas. Havia ainda uma vontade de sair às ruas e gritar.
“Em 1968 eu completei 25 anos. Era professora de história em um colégio e foi um ano rico de experiências: meu primeiro trabalho, a independência, a vida no interior, enfim, a explosão de maio”, disse Florence Herlin em um depoimento que compõe o livro Filles de Mai 68 (“Mulheres de 1968”).
Em um primeiro momento, os automóveis foram utilizados como escudos pelos estudantes, evitando assim o avanço das forças policiais. De 10 para 11 de maio, o que ficou conhecido como "A Noite das Barricadas": diversos carros foram queimados e tombados no Quartier Latin, bairro universitário onde fica a Sorbonne.
Os veículos viraram, rapidamente, alvo da ira dos manifestantes, que viam nas máquinas símbolos do capitalismo a serem destruídos.
“Muitos parisienses compraram carros parcelados e esses automóveis não existem mais, foram incendiados durante as manifestações. A quem os infelizes proprietários devem apelar? Ao governo, à polícia, ao senhor Cohn- Bendit?”, dizia uma edição do jornal “L’Auto Journal” da época.
Em 13 de maio, a revolta extrapolou os campi universitários e chega às fábricas. Em solidariedade aos estudantes duramente reprimidos em suas manifestações, operários decidiram cruzar os braços.
Em todo o país, trabalhadores ocuparam fábricas, pararam os transportes públicos ou impediram o acesso às sedes das empresas. A partir de 14 de maio, com as fábricas ocupadas, os trens e os transportes paralisados e os postos de gasolina desabastecidos, a França viveu a maior greve geral de sua história, um movimento que durou duas semanas e teve a adesão de sete a dez milhões de trabalhadores.
A indignação chegou também às zonas rurais. Em 25 de maio, agricultores tomaram a Praça Real, em Nantes, e a rebatizaram de “Praça do Povo”.
Havia também quem estivesse contra as manifestações. Em 30 de maio de 1968, milhares de pessoas foram às ruas de Paris demonstrar apoio ao então presidente francês, general de Gaulle.
“Cohn-Bendit, vai para casa”, diziam cartazes carregados pelos participantes –em alusão ao estudante alemão que havia iniciado os protestos na França.
É o início do fim das manifestações. Pouco a pouco, os trabalhadores retomam seus postos de trabalho. Mas nem a França, nem o mundo seriam mais os mesmos após aquele mês.
(Com agências internacionais)
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