Rodrigo Oliveira

Uma cozinha que tem afeto e inclusão como chaves

oferecido por Selo Publieditorial

"Boa tarde, tudo bem? Temos uma espera de meia hora, mas vocês podem beber uma caipirinha de três limões enquanto aguardam. E que tal uma porção de dadinho de tapioca para acompanhar? Daqui a pouco eu chamo vocês". Assim como os pratos do chef Rodrigo Oliveira, que atraem mais de 20 mil pessoas ao bairro da Vila Medeiros, zona norte de São Paulo, todo os meses, a cordialidade é um dos cartões de visita do Mocotó, definido pelos donos como um restaurante de comida nordestina sertaneja de pai para filho desde 1973.

Nas mesas do estabelecimento, que funciona praticamente o ano inteiro, sentam-se lado a lado o dono do banco, o artista da TV, o trabalhador do bairro, o proprietário da oficina, o funcionário do posto de gasolina, todos em busca de iguarias como a carne de sol artesanal na brasa, servida com manteiga de garrafa, alho assado, pimenta biquinho e chips de mandioca - o prato mais pedido desde 2004, quando foi incluído no cardápio. "Aqui as pessoas ficam à vontade porque todo mundo é tratado da mesma maneira, não importa quem seja", diz o chef, que prefere apresentar o Mocotó como um restaurante inclusivo.

Inclusão, para Oliveira, não significa ser barato, porque só isso não basta, mas ser acessível a todos. "Um lugar que é simplesmente barato significa deixar de fora também gente que aprecia comer, que aprecia a experiência de ser bem servido, bem atendido, de estar em um lugar bonito", diz. "O grande trunfo do Mocotó é encontrar esse equilíbrio delicado entre acolhimento, serviço, ambiente e comida de uma maneira bonita."

A era da exclusividade não se sustenta. Não dá para deixar tanta gente de fora.

Rodrigo Oliveira, Cozinheiro e chef dos restaurantes Mocotó, Esquina Mocotó e BalaioIMS

UOL/Comgas UOL/Comgas

Poucos elementos, muitas possibilidades

Essa beleza compreende um olhar sensível para ingredientes simples, como o feijão, a carne seca, a mandioca - que se transformam em receitas elaboradas graças à aplicação de técnicas sofisticadas, fruto de muito estudo e pesquisa. "A gente não trabalha com muitos elementos, mas faz esforço para tirar o máximo das possibilidades", diz, citando um possível novo prato, em processo de aprimoramento. Trata-se de uma tripa de cordeiro servida com coalhada de ovelha, limão, poejo, páprica feita na casa e ervas da própria horta. "Tripa é super cool", diverte-se. "Isso é ser inclusivo também."

A democratização do acesso à alta cozinha vem na onda de um movimento mundial da qual fazem parte muitos chefs de renome. "Estamos caminhando para um modelo com mais conteúdo e menos acessório", diz Oliveira, citando outros profissionais que também apostam em uma abordagem irreverente da gastronomia, como Jefferson Rueda, que abriu nos últimos anos a Casa do Porco e a lanchonete Hot Pork, em São Paulo, e os donos do El Celler de Can Roca, na Espanha, eleito o melhor restaurante do mundo pelo "The World's 50 best restaurants", que têm uma sorveteria, a Rocambolesc.

"Restaurantes casuais sempre existiram. A diferença é que hoje eles trazem uma técnica apurada, uma mente criativa e até transgressora em muitos casos", diz Oliveira. A essência, explica, é trazer ao alcance de mais gente uma alta cozinha feita com muita precisão. "Esse é o momento do domínio da técnica, da eficiência, de economizar recursos. Esses caras estão trazendo isso para esse universo mais casual, mais acessível."

A importância do afeto

Ao mesmo tempo, as pessoas estão falando cada vez mais sobre comida e estão voltando a valorizar a prática de se reunir em torno do fogão. Nada mais natural, lembra o chef, já que o ato de cozinhar é o que nos torna humanos. O acesso à informação faz com que mais gente esteja atenta aos alimentos que compra e o que coloca no prato.

"Nenhum outro animal cozinha. As pessoas têm esse dado ancestral encravado no DNA. Não à toa, em casa as pessoas se reúnem na cozinha. Quem não tem memórias de família com as pessoas em volta do fogão? Agora é a hora de se reconectar."

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