É muito difícil fazer uma contagem precisa de quantos meros existem mar adentro, seja pela extensão marítima na qual eles vivem, seja pelo simples fato de que eles estão sempre em movimento. Para ajudar nessa árdua tarefa, o Projeto Meros do Brasil lança mão de algumas estratégias. Uma delas é o uso de microchips e tags eletrônicos. A marcação de meros jovens é feita com microchips. Quando um peixe é capturado e solto para monitoramento, é colocado um microchip com um código exclusivo, tornando possível reconhecê-lo se ele for recapturado em outro momento. "O microchip permite acompanhar o deslocamento, o uso dos estuários e manguezais pelos peixes jovens e também o crescimento de cada um", explica Maíra.
Já a tecnologia usada nos indivíduos adultos é um pouco mais sofisticada: trata-se da telemetria acústica, inspirada em uma metodologia desenvolvida na Florida State University (FSU) e depois aprimorada no Brasil pelo Projeto Meros. Esse método consiste na implantação subcutânea de tags ultrassônicos nos peixes. As tags emitem um sinal sonoro detectado por receptores instalados em pontos previamente determinados como, por exemplo, nas áreas de agregação, onde eles se reproduzem. O registro ocorre em intervalos de 60 segundos. A instalação de uma rede de receptores nos locais de estudo possibilita o registro da movimentação e migração dos meros marcados entre estes pontos.
Outras duas tecnologias importantes usadas para acompanhar o movimento de Epinephelus itajara são a foto-identificação (usada também em outros projetos com animais marinhos, como baleias e raias-manta) e o BRUV (Baited Remote Underwater Video), uma câmera subaquática que é acoplada a uma isca. O primeiro depende da ajuda humana: mergulhadores profissionais e turistas que fotografam peixes em seus mergulhos enviam fotos dos meros ao Projeto que, por sua vez, consegue compará-las por meio de um software de reconhecimento. Como no jogo dos sete erros, o software descarta as que são diferentes entre si, mediante análise de manchas, pintas e até machucados, até encontrar imagens com peixes idênticos. "Temos um resultado muito positivo em Fernando de Noronha onde, por ser longe da costa, nem imaginávamos que haveria vários meros", diz Maíra.
Já o BRUV, a câmera acoplada a uma isca, atrai a fauna aquática para dentro de seu campo de visão, tornando possível fazer um levantamento mais amplo sobre os lugares por onde eles nadam e estimativas de abundância. Quando equipado com duas câmeras sincronizadas, o stereo-BRUV, é possível ainda medir o comprimento dos peixes com elevada precisão, além de estudar padrões comportamentais dos meros. "É fundamental para áreas onde o mergulho é considerado perigoso ou inacessível", explica a gerente geral do Projeto Meros do Brasil.