
Empenhada em incentivar a equipe, a psicóloga Célia Domiciano teve uma ideia: tocar um sino toda vez que alguém entrasse em sua ONG para se matricular. Seria uma forma de registrar e celebrar cada novo aluno.
O sino começou a tocar, e muito. Mas silenciou em determinado momento. Preocupada, Célia quis entender o que estava acontecendo. A resposta a surpreendeu da forma mais positiva possível: a meta de dobrar o número de alunos fora ultrapassada há tempos. Ou seja, deu tão certo que o sino mal conseguiu acompanhar. "Nem me dei conta de que estávamos indo tão bem. Foi mais rápido do que eu esperava", explica a psicóloga.
A história da Aliança Bayeux Franco-Brasileira (ABFB), ONG comandada por Célia, ilustra como um projeto social é capaz de explorar ao máximo sua potencialidade. A organização social é apenas uma das 115 que contaram com mentoria do Programa VOA, da Cervejaria Ambev, em 2019.
Focado na gestão de recursos e processos, o VOA começou em 2018 e vem mostrando que é possível sonhar alto, desde que as organizações se estruturem da maneira adequada.
Maior cervejaria do mundo, a Ambev tem uma equipe experiente em lidar com os mais variados cenários. Pois é este conhecimento a base da relação com as entidades assistidas pelo programa. Atuando como mentores voluntários, profissionais da Ambev, em aulas e conversas presencias ou via internet, acompanham cada passo das ONGs em relação a questões como finanças, captação de recursos, governança, recursos humanos, e comunicação e marketing.
Tudo com um único objetivo: apoiá-las para que impactem, de forma consistente e organizada, o maior número de pessoas possível.
A ABFB oferece uma série de atividades educacionais, cultural, esportivas e socioambientalistas em Bayeux, na Paraíba. É um dos destaques do VOA ao lado de outras ONGs que igualmente se destacaram, como a Pró-Saber, de São Paulo, e a Moinho Cultural, do Mato Grosso do Sul.
Para figurar entre as melhores, as organizações foram avaliadas com base em três critérios: uso de metodologia, resultados atingidos e sonhar grande. Os quesitos estão em um projeto prático que toda ONG deve apresentar ao completar um ano no Programa VOA.
A Pró-Saber promove a leitura como ferramenta de inclusão social na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. Já a Moinho Cultural transforma vidas na região de fronteira de Corumbá (MS) por meio da dança e da música.
Conheça, na sequência, as histórias destas vencedoras. As inscrições para a edição 2020 do Programa VOA estão abertas. ONGs de todos o país podem se candidatar pelo site.
Com um centro multicultural inaugurado em 2016, a Aliança Bayeux Franco-Brasileira (ABFB) oferece um vasto leque de atividades socioeducativas para jovens, como karatê, judô, violão, dança, teatro, capoeira e futsal.
A ONG paraibana atua também com qualificação socioprofissional, com cursos como empreendedorismo e gestão de pessoas, e ajudando estudantes que vão prestar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) com o Pró-Enem. Todo sábado, de abril a novembro, alunos recebem aulas de reforço voltadas a este importante exame para a sequência da vida estudantil. Uma aluna da entidade entrou em primeiro lugar no curso de Pedagogia da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
Mesmo com resultados ótimos como este, contando com uma boa estrutura e parcerias com universidades, a ABFB ainda atingia um número relativamente pequeno de jovens. Ou ao menos foi assim que a própria entidade entendeu ao estabelecer uma meta ousada: dobrar o número de alunos, que estava em cerca de 150 em maio deste ano.
Pois os meses passaram e hoje a ONG está chegando a quase 800 alunos. Também conseguiu diminuir a evasão de 37% para 4,6%. Um desempenho espetacular, alcançado em grande parte porque, ao integrar o Programa VOA em 2019, a ABFB entendeu e trabalhou seus pontos fortes e fracos.
Célia Domiciano, fundadora da Aliança Bayeux Franco-Brasileira
"Procuramos o VOA porque queríamos melhorar a nossa gestão. Temos, por exemplo, dificuldade em captação de recursos. Já trabalhei em empresas privadas, mas não tinha experiência sobre como tornar uma empresa do terceiro setor autossuficiente.
Conseguimos uma visão muito boa sobre todos os conteúdos do VOA. Em todas as áreas: de gestão, governança, ferramentas de rotina. O conteúdo, espetacular, está lá para qualquer hora em que você tem uma dúvida. É só abrir o material e despertar para novos horizontes.
Também ganhamos uma perspectiva sobre os indicadores de desempenho. Aprendemos a lidar com eles.
Tudo isso impactou demais nossa vida, nossa visão de gestão. Além de ensinar a como buscar recursos sem ficar, vamos dizer, com o pires na mão.
Também fomos muito felizes na relação com nosso mentor. Logo na primeira aula ele nos perguntou qual era o nosso objetivo. Ali estabelecemos, junto com a equipe da ONG, o sonho de dobrar o número de alunos."
A Moinho Cultural trabalha há quinze anos com crianças e adolescentes brasileiros e bolivianos em Corumbá e Ladário (MS), Puerto Suarez e Puerto Quijarro (Bolívia). Em situação de vulnerabilidade social, os jovens têm no instituto aulas de ballet, música clássica, informática e apoio escolar, além de um grupo de convivência e fortalecimento de vínculos, entre outras atividades.
Já são ao menos vinte mil crianças e adolescentes impactados diretamente e cerca de 60 mil indiretamente. Eles entram no projeto a partir dos seis anos de idade. Após completarem dezoito anos, têm a possibilidade de permanecer como monitores bolsistas e depois se tornarem professores.
Alguns dos jovens passam também a integrar, como profissionais, a Orquestra de Câmara do do Pantanal ou a Companhia de Dança do Pantanal. A ONG ainda promove o Moinho in Concert, grande espetáculo no qual os jovens se apresentam como bailarinos, instrumentistas orquestrais, solistas e coralistas.
O Moinho in Concert envolve mais de 600 pessoas e é exibido pela TV para todo o Mato Grosso do Sul. Em 2019, pela primeira vez os alunos da entidade irão não apenas se apresentar, mas também participar da filmagem do espetáculo.
Uma entidade com um trabalho já tão consolidado poderia acreditar que seu potencial atingiu o ápice. Não foi o caso. Com apoio do Programa VOA, a Moinho Cultural alcançou um grande objetivo em 2019: abrir uma sede em Puerto Quijarro.
Márcia Rolon, fundadora do Instituto Moinho Cultural:
"Com as ferramentas do VOA, conseguimos sistematizar nossa metodologia para criar uma cartilha. Ela viraria um manual para a criação de uma franquia social a ser implantada em outras fronteiras.
Não tínhamos muita intimidade com ferramentas de gestão, mas o programa VOA nos passou seu modelo e sua cultura de maneira tão simples e clara que fomos capazes de usar todas as ferramentas.
São 14 delas ao todo. Envolvem tudo, do plano anual a maneiras de organizar o dia a dia. Também tivemos mentores maravilhosos, que nos ensinaram que tudo deve ser colocado no papel, até a descrição da nossa sala de aula.
Com isso, conseguimos criar um projeto piloto em Puerto Quijarro. As crianças de lá não estavam conseguindo chegar ao Moinho por falta de apoio, então implantamos um espaço do instituto na própria cidade.
Deu tão certo que já temos dez crianças bolivianas participando do Moinho in Concert pela nossa orquestra."
"Democracia é dar a todos o mesmo ponto de partida": esta frase do poeta Mario Quintana está na base do trabalho do Instituto Pró-Saber em São Paulo. Desde 2003, a ONG atua na comunidade de Paraisópolis por meio da promoção da leitura entre crianças e jovens.
Só no primeiro semestre de 2019, foram 120 crianças de 4 a 8 anos atendidas pelo projeto, além de 350 alunos de escolas públicas impactados e 200 horas de formação de jovens.
O Pró-Saber consegue resultados tão expressivos formando jovens para aplicar o programa Ler & Brincar nas escolas da rede pública local, capacitando professores e orientando as famílias dos alunos.
O programa Pró Ler & Brincar, desenvolvido pela entidade, oferece um espaço lúdico e seguro às crianças. Na sede do Pró-Saber, dentro da comunidade, elas participam de atividades de leitura, escrita e brincadeiras sob os cuidados de um educador responsável. A carga horária para cada criança é de 600 horas ao ano.
Alunos de sistema público de ensino também podem usufruir de seu programa: monitores formados pelo instituto desenvolvem atividades nas escolas da comunidade, ou as próprias escolas visitam o Pró-Saber para aproveitar um espaço com tanque de areia, mesa de pebolim, ping pong, casinha, escorregador, espaço para o desenho e uso de tinta.
Para completar, o instituto conta com uma biblioteca em Paraisópolis. Em 2019, o local recebeu 887 leitores de 4 a 8 anos, 10363 visitantes (de abril à novembro) e emprestou 40959 livros à comunidade.
O Pró-Saber é mais um caso de uma organização já estabelecida, com vastos serviços prestados ao seu público, que poderia se conformar com aquilo que alcançou até aqui. Mas a entidade, ao integrar o VOA em 2018, definiu que era hora de "soltar as amarras" e sonhar ainda mais alto: impactar 50% das crianças de Paraisópolis (a segunda maior comunidade de São Paulo) até 2021.
Maria Cecília Lins, fundadora do Pró-Saber São Paulo
"O VOA nos ajudou a iniciar uma mudança de gestão administrativa por meio de suas ferramentas, mentoria e acompanhamento. No primeiro ano, pudemos testar o material do programa para entender de que forma aquilo cabia na nossa rotina. Já neste ano, consolidamos as práticas aprendidas.
A Ambev tem a premissa do sonho grande. E, apesar de querer muito em termos de educação, eu tinha o freio de mão puxado. Afinal, sonhar grande significa captar mais (recursos). Estávamos atuando mais ou menos da mesma maneira há 15 anos.
O VOA nos ajudou a sonhar, a soltar um pouco as amarras. E se fizéssemos de outro jeito? Tivéssemos outras práticas de atendimento além daquelas que já usávamos?
Foi neste exercício do ´e se?`, de pensar estratégias, em grandes metas, que chegamos ao sonho de impactar 50% das crianças de 4 a 8 anos da comunidade."