Depois de quatro anos de relacionamento, quando terminei, ouvi do meu ex que 'se eu não ficasse com ele, não ficaria com ninguém'. E, para conseguir isso, divulgou fotos íntimas minhas na internet.
Foram e-mails semanais enviados para cerca de 15 mil pessoas da minha cidade, além de fotos impressas e CDs com as imagens entregues para os moradores. Do dia para noite, fui de colunista social presente em todos os eventos locais a persona non grata na cidade.
Meu mundo acabou. Enquanto as mulheres me odiavam, os homens mexiam comigo em todo lugar. Perdi meu emprego e até meus filhos foram atingidos. Tive de mandar o mais velho para viver com o pai e a mais nova sofria bullying por conta da minha 'má fama'.
Eu queria fugir, mas consegui juntar forças para buscar justiça, precisava provar que eu não tinha culpa ali. Entrei com ação nas pequenas causas, mas ele pagou uma multa e continuou mandando as fotos por vários anos. Enquanto isso, advogados da cidade não queriam pegar minha causa, eu estava desempregada e sem credibilidade. Era a Geni de Maringá.
Eu posso ter ganhado na Justiça, mas a pornografia de revanche é um crime que te marca para sempre. A cada clique das pessoas, eu sou violentada novamente."
Consegui ajuda de um advogado e um perito digital de São Paulo. Uma busca e apreensão dos computadores do meu ex provou sua culpa e, finalmente, ele foi condenado em 2013. A multa de R$ 30 mil era risível, não cobre nem de longe as marcas que tudo deixou na minha vida. Mesmo assim, aquela condenação foi quase como uma certidão de renascimento para mim.
Com a força da vitória, fundei a ONG Marias da Internet, para ajudar outras mulheres que também passam pela pornografia de revanche, e procurei um deputado para propor que esse tipo de crime esteja previsto na lei. Desde 2013, com ajuda de advogados, peritos e psicólogas voluntárias, ajudo meninas e mulheres que sofrem com pornografia de revanche.
Além disso, vi o projeto de lei 5555/2013 ser escrito, começar a tramitar e ser aprovado na Câmara. Ele modifica a Lei Maria da Penha para a pornografia de revanche passe a ser considerada uma forma de violência doméstica – e agora aguarda aprovação no Senado.
Rose Leonel, 47, jornalista, Maringá, PR