"É preciso ser sempre melhor que os europeus"
O jogador brasileiro, quando se transfere para um time europeu, chega com a obrigação de ser o melhor do time. Pesam a tradição do futebol pentacampeão mundial de revelar craques e os altos salários pagos.
Essa responsabilidade chega acompanhada da inveja dos atletas locais e causa situações de boicote. O exemplo é do meia Paulo Sergio, campeão do mundo em 1994, que enfrentou a oposição dos companheiros quando foi para o Bayer Leverkusen, da Alemanha, em 1993. “Lembro que tinha um deles que, quando chegava perto de mim, virava e tocava a bola para outro. Não fazia isso porque era negro ou alguma coisa desse tipo, mas por se estrangeiro e estar ocupando o espaço deles”.
Na Ucrânia, Betão diz que ouviu de um treinador russo que os brasileiros que lá atuam têm a obrigação de serem melhores do que os locais porque têm salários mais altos. “Eles acham que todo brasileiro tem que ser igual ao Pelé, ao Ronaldinho. Tem que ter magia nas pernas”.
O zagueiro acredita que ter aprendido o idioma local contribuiu para que fosse mais respeitado. A partir daí, percebeu como os jogadores locais questionavam, em comentários entre eles, os estrangeiros. “Depois que eu aprendi a falar russo, escutava comentários maldosos. Eles dizem: ‘pagou não sei quantos milhões e o cara não chuta uma bola no gol. Deixa ele fazer sozinho, então’. Começam a tirar sarro. Dão um passe mais forte para ver se a gente vai ter um bom domínio”.