Essa é uma história espiritual. Vou explicar.
Quando eu jogava na Itália, a mãe e o pai foram me visitar. Levei os dois para conhecer o Vaticano. A mãe comprou um terço para todos os parentes. Antes da minha viagem para a Copa, a minha cunhada mais nova, que ainda mora em Bagé, sonhou com a mãe. No sonho, ela dizia que era para mandar aquele terço pra mim.
Eu havia perdido minha mãe dois anos antes daquele sonho. Foi ela que escolheu meu nome, Claudio. Eu era o único dos nove filhos que dava selinho nela.
Todo dia, antes de sair para os treinos ou para os jogos, eu colocava esse terço dentro da fronha do travesseiro. Esse travesseiro era especial, eu tinha levado do Brasil.
No dia de Brasil e Holanda, peguei o terço, me ajoelhei e fiz uma oração para a véia lá em cima me ajudar. E para Deus me proteger.
Fui pro jogo e fiz o que fiz. Fui para entrevista da Fifa com o Bebeto, mas estava com a cabeça no hotel, no terço. Porque a mãe falava para mim que, um dia, eu seria campeão do mundo.
Quando chegamos no hotel, os caras foram para o restaurante. Eu fui para o quarto. Cheguei lá e não tinha mais terço. Até me emociono. O terço desapareceu. Fui na lavanderia e nada. Esquece. Zero.
Tem gente que não acredita. Acho que a véia levou aquela bola na falta, fez aquela curva para que eu fizesse o gol. Parece que aquele jogo foi feito pra mim. Aquela desconfiança. Aquele papo de "o cara vai deitar em cima de você". Cavei a falta. Fiz o gol. Para mim, aquele terço cumpriu sua missão.