Único atalho até o topo?

Neymar quer ser o melhor do mundo e agora vai apostar na ousada opção pelo PSG... longe da sombra de Messi

Bruno Freitas Do UOL, em São Paulo
AFP PHOTO/FABRICE COFFRINI

O plano de carreira de Neymar tem como uma das metas a conquista do prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa. Até aqui, com 25 anos, o brasileiro só conseguiu chegar perto uma vez, quando foi finalista em 2015. Mas, em consenso com seu estafe, o atacante entendeu que ir ao topo dependia de uma decisão ousada.

E a decisão apontou para o PSG. Nesta quinta-feira (3 de agosto), Neymar virou jogador do clube francês em contratação de 222 milhões de euros, cifra referente à multa rescisória ao Barcelona. Em Paris, o brasileiro vestirá a camisa 10.

Numa tacada só, Neymar e a equipe que cuida de sua carreira conseguem duas proezas. A primeira: fazer do menino de Mogi das Cruzes o jogador mais caro da história. A segunda: colocá-lo dentro de um projeto esportivo em que é ele a peça principal. Ninguém duvida que, a partir de agora, o PSG será "o PSG de Neymar".

No entanto, a glória até o prêmio da Fifa passa por uma série de desafios. Neymar escolheu uma via inversa em comparação à carreira de outros craques brasileiros. Ronaldinho, por exemplo, trocou o PSG pelo Barcelona para ser o melhor. Por sua vez, o craque dos penteados alternativos vai contra a obviedade. Paris nunca foi um polo do futebol, mas abriga a partir de agora a jogada mais ousada do momento.   

Je suis Paris

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Desafio nº 1: jogar numa liga sem muita badalação

Apesar dos milhões injetados pelos investidores do PSG nos últimos anos, o Campeonato Francês continua sendo uma liga vista como intermediária na Europa, atrás da Premier League inglesa, da Bundesliga alemã e de La Liga espanhola.

A chegada de Neymar tende a valorizar a negociação de direitos de televisão da competição, inclusive junto às emissoras brasileiras. Mesmo assim, a Ligue 1 segue correndo por fora.

Ganhar o Campeonato Francês será obrigação para o milionário PSG, mais forte do que nunca com Neymar. É desta forma que o tradicional jornal "L'Equipé" apresenta o cenário para esta temporada. No entanto, o brasileiro terá que construir seu repertório como postulante ao melhor do mundo contra forças limitadas, como Amiens, Toulouse, Troyes, etc. O número de jogos "nível A" será menor do que na Espanha, certamente.

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Desafio nº 2: quebrar o domínio Barça-Real na Fifa

Historicamente a dupla de gigantes espanhóis domina a relação de vencedores do prêmio da Fifa, numa era inaugurada por Ronaldo Fenômeno há mais de 20 anos. Neste século, no entanto, a polarização entre Barcelona e Real Madrid se tornou ainda mais poderosa. Os dois arquirrivais conseguiram atingir um nível global de disputa de forças, acima do resto do cenário internacional.

O planeta ficou definitivamente aos pés de Barcelona e Real Madrid a partir da rivalidade estabelecida entre Messi e Cristiano Ronaldo. Os dois supercraques têm monopolizado a eleição da Fifa. Desde 2008, todos os troféus ficaram com a dupla.

A última vez que um jogador de outro time foi eleito o melhor do mundo foi em 2008, quando Cristiano Ronaldo ganhou o troféu pela primeira vez, ainda como atleta do Manchester United. Ou seja, a meta de Neymar chegar ao topo passa por destronar Messi e CR7. Isso, jogando longe dos elencos galácticos de Real e Barcelona.   

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Desafio nº 3: ganhar a Champions por um time francês

A histórica virada do Barcelona sobre o PSG na última edição da Liga dos Campeões expôs uma realidade incômoda aos franceses: o futebol do país está aquém de outras nações europeias. Mesmo gastando milhões de seu mecenas do Qatar, o time de Paris ainda parece um intruso entre as grandes forças do Velho Continente.

A última (e única) vez que um time da França conquistou a Liga dos Campeões aconteceu em 1993, quando o Olympique de Marselha derrotou o poderoso Milan na decisão. Mas aquela equipe ficaria marcada por um escândalo de manipulação de resultados e, inclusive, foi impedida pela Uefa de representar a entidade na disputa do Mundial Interclubes daquele ano, contra o São Paulo de Telê Santana.  

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PSG: um clube de tradição limitada

O Paris Saint-Germain representa no futebol uma das metrópoles mais famosas do planeta. No entanto, a história do time ainda está muito aquém do apelo internacional da "Cidade Luz". Fundado em 1970, o clube de apenas 47 anos tem apenas seis títulos nacionais em sua galeria.

Internacionalmente, o PSG tem como conquista única a extinta Recopa, em 1996, com Raí no time. Nos últimos anos, o clube virou uma potência do continente, graças ao dinheiro do magnata Nasser Al-Ghanim Khelaïfi e sua fortuna vinda do Qatar. Mas, apesar do investimento em craques como Ibrahomivic, a equipe não conseguiu chegar nem perto de uma final de Liga dos Campeões. 

Com 156 gols, o sueco Ibrahimovic é o maior artilheiro da história do PSG, seguido do uruguaio Edinson Cavani (131) e do português Pauleta (109). O brasileiro Raí aparece em oitavo, com 72 gols.

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Um rompimento na bagagem

Pedro Ladeira/Folhapress Pedro Ladeira/Folhapress

Pela porta dos fundos de novo

Anos antes da novela PSG, a saída de Neymar do Santos em 2013 já havia sido turbulenta, em uma transferência de valores contestados na Justiça ainda hoje. Muitas partes envolvidas, debates sobre divisão percentual e uma polêmica sobre a legalidade de uma tal carta de preferência. No fim das contas, o clube brasileiro se considera apunhalado pelo jogador que ajudou a formar, assim como a DIS, fundo que investiu no desenvolvimento do craque.  

No ano passado, a Justiça espanhola recebeu a acusação formal por parte da DIS contra Neymar, a família do atacante e dirigentes de Santos e Barcelona por corrupção. O fundo de investimento pede que o atleta seja condenado a cinco anos de prisão e fique impossibilitado de atuar nesse período. Por sua vez, a promotoria do Ministério Público da Espanha requisitou dois anos de prisão e 10 milhões de euros de multa para o atacante.

O grupo DIS argumenta ter direito a receber 40% do valor total da transferência, que, de acordo com a Audiência Nacional espanhola, chegou aos 83,3 milhões de euros. A empresa brasileira, no entanto, recebeu apenas percentual dos 17,1 milhões de euros pagos ao Santos. 

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O novo Figo?

A transferência de Luis Figo ao Real em 2000 mudou a história recente do futebol. Na época, o time da capital espanhola pagou 60 milhões de euros pela multa do astro português no Barcelona. A contratação do meia-atacante inaugurou a era galáctica em Madri, que receberia a continuação com as aquisições de Zidane, Ronaldo e Beckham, um por ano.

De quebra, a troca de camisas de Figo aguçou uma rivalidade que já era histórica. Barcelona e Real Madrid são antagonistas desde os tempos em que o time da capital estava alinhado com a ditadura de Franco, enquanto os catalães eram vistos como símbolos da resistência. Neste século, no entanto, a antipatia rompeu as fronteiras da Espanha e ganhou contornos globais. 

Quando Figo voltou ao Camp Nou pela primeira vez desde a troca de times foi recebido com hostilidade. Uma cabeça de porco foi atirada na direção do português, quando o craque parou para bater um escanteio. Agora, a tendência é que a controversa escolha de Neymar torne o brasileiro um novo "inimigo" do barcelonismo. A reação de torcedores e imprensa catalã com o negócio do PSG já oferece alguns indícios de que o amor pode virar repúdio.  

Vinicius Castro/ UOL Esporte Vinicius Castro/ UOL Esporte

Evaristo segue como o "maior brasileiro"

Foram quatro temporadas prolíficas como atacante do Barcelona, mas Neymar interrompe sua busca para virar o maior brasileiro da história do clube espanhol, graças à escolha pelo PSG. O atacante deixa o time com 105 gols marcados, na terceira posição entre os atletas do Brasil que jogaram de azul e grená.

Desta forma, Evaristo de Macedo continua como o brasileiro que mais gols anotou pelo Barcelona, com 178. Rivaldo aparece na sequência, com 130.

Na última temporada, Neymar conseguiu superar a marca de Ronaldinho Gaúcho pelo Barcelona – 94 gols. O novo reforço do PSG também deixou para trás os números dos ídolos Romário e Ronaldo pelo clube (mas com mais partidas disputadas do que os compatriotas, 186 no total). 

Trio MSN: agora só nos arquivos

Quem viu, viu. Quem não viu agora precisará recorrer aos arquivos do futebol. A combinação entre Neymar, Lionel Messi e Luis Suárez fez história com a camisa do Barcelona. Muito além dos números, fica para a posteridade a fantasia que o trio sul-americano conseguiu na badalada formação de ataque.

Juntos, Neymar, Messi e Suárez estiveram em campo pelo Barça ao mesmo tempo em 110 oportunidades, com 84 vitórias (76% do total). Foram 228 gols do trio.

O auge da formação sul-americana aconteceu na temporada 2014-2015, quando o Barcelona, então dirigido por Luis Enrique, conquistou a tríplice coroa, com os títulos da Liga dos Campeões, do Campeonato Espanhol e da Copa do Rei da Espanha. 

Eduardo Anizelli/Folhapress Eduardo Anizelli/Folhapress

O que importa para a seleção

Pedro Martins/MowaPress Pedro Martins/MowaPress

Em nome do projeto Copa

De longe, quem acompanhou com interesse a novela Neymar foi Tite. Os planos do técnico da seleção brasileira em uma temporada que culminará na Copa do Mundo da Rússia têm o dia a dia do atacante como prioridade. 

Tite se pronunciou sobre a transferência, ainda antes do anúncio oficial do PSG. Em entrevista ao canal "Esporte Interativo" nesta semana, o treinador afirmou que via a mudança de Neymar para a França com bons olhos. Tudo em razão do entrosamento do atacante com outros "selecionáveis" que defendem o time de Paris, como os zagueiros Marquinhos e Thiago Silva e o lateral Daniel Alves. 

Olhando para isso, sim, não vou mentir. Quando você consegue fazer essas conexões de atletas que jogam juntos, que se conhecem dentro de campo, isso facilita

Tite

Tite, técnico da seleção, sobre o lado positivo do acerto de Neymar com o PSG, pensando na Copa

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