
O plano de carreira de Neymar tem como uma das metas a conquista do prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa. Até aqui, com 25 anos, o brasileiro só conseguiu chegar perto uma vez, quando foi finalista em 2015. Mas, em consenso com seu estafe, o atacante entendeu que ir ao topo dependia de uma decisão ousada.
E a decisão apontou para o PSG. Nesta quinta-feira (3 de agosto), Neymar virou jogador do clube francês em contratação de 222 milhões de euros, cifra referente à multa rescisória ao Barcelona. Em Paris, o brasileiro vestirá a camisa 10.
Numa tacada só, Neymar e a equipe que cuida de sua carreira conseguem duas proezas. A primeira: fazer do menino de Mogi das Cruzes o jogador mais caro da história. A segunda: colocá-lo dentro de um projeto esportivo em que é ele a peça principal. Ninguém duvida que, a partir de agora, o PSG será "o PSG de Neymar".
No entanto, a glória até o prêmio da Fifa passa por uma série de desafios. Neymar escolheu uma via inversa em comparação à carreira de outros craques brasileiros. Ronaldinho, por exemplo, trocou o PSG pelo Barcelona para ser o melhor. Por sua vez, o craque dos penteados alternativos vai contra a obviedade. Paris nunca foi um polo do futebol, mas abriga a partir de agora a jogada mais ousada do momento.
Apesar dos milhões injetados pelos investidores do PSG nos últimos anos, o Campeonato Francês continua sendo uma liga vista como intermediária na Europa, atrás da Premier League inglesa, da Bundesliga alemã e de La Liga espanhola.
A chegada de Neymar tende a valorizar a negociação de direitos de televisão da competição, inclusive junto às emissoras brasileiras. Mesmo assim, a Ligue 1 segue correndo por fora.
Ganhar o Campeonato Francês será obrigação para o milionário PSG, mais forte do que nunca com Neymar. É desta forma que o tradicional jornal "L'Equipé" apresenta o cenário para esta temporada. No entanto, o brasileiro terá que construir seu repertório como postulante ao melhor do mundo contra forças limitadas, como Amiens, Toulouse, Troyes, etc. O número de jogos "nível A" será menor do que na Espanha, certamente.
Historicamente a dupla de gigantes espanhóis domina a relação de vencedores do prêmio da Fifa, numa era inaugurada por Ronaldo Fenômeno há mais de 20 anos. Neste século, no entanto, a polarização entre Barcelona e Real Madrid se tornou ainda mais poderosa. Os dois arquirrivais conseguiram atingir um nível global de disputa de forças, acima do resto do cenário internacional.
O planeta ficou definitivamente aos pés de Barcelona e Real Madrid a partir da rivalidade estabelecida entre Messi e Cristiano Ronaldo. Os dois supercraques têm monopolizado a eleição da Fifa. Desde 2008, todos os troféus ficaram com a dupla.
A última vez que um jogador de outro time foi eleito o melhor do mundo foi em 2008, quando Cristiano Ronaldo ganhou o troféu pela primeira vez, ainda como atleta do Manchester United. Ou seja, a meta de Neymar chegar ao topo passa por destronar Messi e CR7. Isso, jogando longe dos elencos galácticos de Real e Barcelona.
A histórica virada do Barcelona sobre o PSG na última edição da Liga dos Campeões expôs uma realidade incômoda aos franceses: o futebol do país está aquém de outras nações europeias. Mesmo gastando milhões de seu mecenas do Qatar, o time de Paris ainda parece um intruso entre as grandes forças do Velho Continente.
A última (e única) vez que um time da França conquistou a Liga dos Campeões aconteceu em 1993, quando o Olympique de Marselha derrotou o poderoso Milan na decisão. Mas aquela equipe ficaria marcada por um escândalo de manipulação de resultados e, inclusive, foi impedida pela Uefa de representar a entidade na disputa do Mundial Interclubes daquele ano, contra o São Paulo de Telê Santana.
O Paris Saint-Germain representa no futebol uma das metrópoles mais famosas do planeta. No entanto, a história do time ainda está muito aquém do apelo internacional da "Cidade Luz". Fundado em 1970, o clube de apenas 47 anos tem apenas seis títulos nacionais em sua galeria.
Internacionalmente, o PSG tem como conquista única a extinta Recopa, em 1996, com Raí no time. Nos últimos anos, o clube virou uma potência do continente, graças ao dinheiro do magnata Nasser Al-Ghanim Khelaïfi e sua fortuna vinda do Qatar. Mas, apesar do investimento em craques como Ibrahomivic, a equipe não conseguiu chegar nem perto de uma final de Liga dos Campeões.
Com 156 gols, o sueco Ibrahimovic é o maior artilheiro da história do PSG, seguido do uruguaio Edinson Cavani (131) e do português Pauleta (109). O brasileiro Raí aparece em oitavo, com 72 gols.
Anos antes da novela PSG, a saída de Neymar do Santos em 2013 já havia sido turbulenta, em uma transferência de valores contestados na Justiça ainda hoje. Muitas partes envolvidas, debates sobre divisão percentual e uma polêmica sobre a legalidade de uma tal carta de preferência. No fim das contas, o clube brasileiro se considera apunhalado pelo jogador que ajudou a formar, assim como a DIS, fundo que investiu no desenvolvimento do craque.
No ano passado, a Justiça espanhola recebeu a acusação formal por parte da DIS contra Neymar, a família do atacante e dirigentes de Santos e Barcelona por corrupção. O fundo de investimento pede que o atleta seja condenado a cinco anos de prisão e fique impossibilitado de atuar nesse período. Por sua vez, a promotoria do Ministério Público da Espanha requisitou dois anos de prisão e 10 milhões de euros de multa para o atacante.
O grupo DIS argumenta ter direito a receber 40% do valor total da transferência, que, de acordo com a Audiência Nacional espanhola, chegou aos 83,3 milhões de euros. A empresa brasileira, no entanto, recebeu apenas percentual dos 17,1 milhões de euros pagos ao Santos.
A transferência de Luis Figo ao Real em 2000 mudou a história recente do futebol. Na época, o time da capital espanhola pagou 60 milhões de euros pela multa do astro português no Barcelona. A contratação do meia-atacante inaugurou a era galáctica em Madri, que receberia a continuação com as aquisições de Zidane, Ronaldo e Beckham, um por ano.
De quebra, a troca de camisas de Figo aguçou uma rivalidade que já era histórica. Barcelona e Real Madrid são antagonistas desde os tempos em que o time da capital estava alinhado com a ditadura de Franco, enquanto os catalães eram vistos como símbolos da resistência. Neste século, no entanto, a antipatia rompeu as fronteiras da Espanha e ganhou contornos globais.
Quando Figo voltou ao Camp Nou pela primeira vez desde a troca de times foi recebido com hostilidade. Uma cabeça de porco foi atirada na direção do português, quando o craque parou para bater um escanteio. Agora, a tendência é que a controversa escolha de Neymar torne o brasileiro um novo "inimigo" do barcelonismo. A reação de torcedores e imprensa catalã com o negócio do PSG já oferece alguns indícios de que o amor pode virar repúdio.
Foram quatro temporadas prolíficas como atacante do Barcelona, mas Neymar interrompe sua busca para virar o maior brasileiro da história do clube espanhol, graças à escolha pelo PSG. O atacante deixa o time com 105 gols marcados, na terceira posição entre os atletas do Brasil que jogaram de azul e grená.
Desta forma, Evaristo de Macedo continua como o brasileiro que mais gols anotou pelo Barcelona, com 178. Rivaldo aparece na sequência, com 130.
Na última temporada, Neymar conseguiu superar a marca de Ronaldinho Gaúcho pelo Barcelona – 94 gols. O novo reforço do PSG também deixou para trás os números dos ídolos Romário e Ronaldo pelo clube (mas com mais partidas disputadas do que os compatriotas, 186 no total).
Quem viu, viu. Quem não viu agora precisará recorrer aos arquivos do futebol. A combinação entre Neymar, Lionel Messi e Luis Suárez fez história com a camisa do Barcelona. Muito além dos números, fica para a posteridade a fantasia que o trio sul-americano conseguiu na badalada formação de ataque.
Juntos, Neymar, Messi e Suárez estiveram em campo pelo Barça ao mesmo tempo em 110 oportunidades, com 84 vitórias (76% do total). Foram 228 gols do trio.
O auge da formação sul-americana aconteceu na temporada 2014-2015, quando o Barcelona, então dirigido por Luis Enrique, conquistou a tríplice coroa, com os títulos da Liga dos Campeões, do Campeonato Espanhol e da Copa do Rei da Espanha.
De longe, quem acompanhou com interesse a novela Neymar foi Tite. Os planos do técnico da seleção brasileira em uma temporada que culminará na Copa do Mundo da Rússia têm o dia a dia do atacante como prioridade.
Tite se pronunciou sobre a transferência, ainda antes do anúncio oficial do PSG. Em entrevista ao canal "Esporte Interativo" nesta semana, o treinador afirmou que via a mudança de Neymar para a França com bons olhos. Tudo em razão do entrosamento do atacante com outros "selecionáveis" que defendem o time de Paris, como os zagueiros Marquinhos e Thiago Silva e o lateral Daniel Alves.
Olhando para isso, sim, não vou mentir. Quando você consegue fazer essas conexões de atletas que jogam juntos, que se conhecem dentro de campo, isso facilita
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