
Maria Esther Bueno é o maior nome da história do tênis brasileiro. Não apenas isso, ela é o maior ícone do esporte feminino do país. A paulista encantou o planeta, especialmente nas quadras de grama, ao conquistar em três oportunidades o troféu do torneio de simples de Wimbledon: 1959, 1960 e 1964.
Com um estilo elegante de jogo, a ex-tenista também foi quatro vezes campeã do US Open: 1959, 1963, 1964 e 1966, além de outras dezenas de títulos em duplas em Grand Slams. Número 1 do mundo em quatro oportunidades, Maria Esther conquistou um total de 589 títulos (segundo o site oficial da ex-tenista) e entrou no Hall da Fama do Tênis, em 1972.
Esquecida por muitos brasileiros, Maria Esther chegou a se queixar que era mais condecorada no exterior do que no Brasil. Porém, voltou aos holofotes no fim dos anos 1990 quando Gustavo Kuerten brilhou em Roland Garros. A ex-tenista virou comentarista do SporTV em coberturas de Grand Slams e de Jogos Olímpicos, recebendo homenagens em torneios no Brasil. Até os últimos momentos de vida, não deixou de frequentar as quadras, mostrando seu amor incondicional pelo tênis.
Maria Esther Bueno era muito reservada. Tinha em Pedro, seu irmão dois anos mais velho, o maior companheiro. Os dois cresceram jogando juntos. Em 2012, quando ele morreu, Maria Esther, que morava sozinha em São Paulo, deixou até de jogar tênis. Com o passar do tempo, voltou às quadras. Nos últimos anos, passava boa parte de seus dias no clube Sociedade Harmonia de Tênis, onde batia bola de três a quatro vezes por semana, sempre em sessões de uma hora.
"Tênis era tudo na vida dela. Ela encarava o tênis de uma forma muito séria, muito gostosa. Ela tinha pino no ombro, prótese no quadril, então queria jogar com pessoas que batessem mais reto e tinham mais controle de bola. A gente ficava impressionado com a regularidade dela. Era incrível. Os amigos ficavam impressionados com ela e o quanto ela gostava de jogar tênis”, conta Mauro Menezes, ex-top 200 e que convivia muito com Maria Esther no Harmonia.
Nos últimos anos, foi muito homenageada e mais reconhecida do que nos 20 anos anteriores. Primeiro, com o SporTV a incluindo nos comentários de transmissões de tênis. Mais tarde, com homenagens no Rio Open e nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A quadra central do centro olímpico de tênis foi batizada com seu nome.
Financeiramente, Maria Esther não fez fortuna. Sem patrocinador e sem uma reserva (os torneios de sua época não tinham prêmio em dinheiro), não tinha grandes fontes de renda nos últimos anos. Recebeu muito apoio no Harmonia.
Maria Esther sempre foi reconhecida internacionalmente, não só pela quantidade de títulos que conquistou, mas pela graça de seu tênis, praticado com estilo e suavidade. Na “Tennis Encyclopedia”, o jornalista Bud Collins escreveu: “voleando lindamente, jogando com ousadia de tirar o fôlego, a ágil brasileira se tornou a primeira sul-americana a ser campeã de Wimbledon em simples”.
Outro texto famoso sobre a brasileira está no livro “In Wimbledon: The Hidden Dream”. Nele, Gwen Robyns relatou que “ela parecia um gato siamês exótico quando se movia pela quadra. Maria era sinuosa, sensual e feminina. Eles a chamavam de Rainha de Wimbledon”.
Em seu auge, a brasileira também se destacou na moda. Maria Esther foi, inclusive, alvo de uma disputa entre figurinistas. Ao ser vista usando roupas da marca Fred Perry, ouviu do famoso designer Ted Tinling, ex-tenista que se tornou o mais badalado figurinista no mundo do tênis, que ele queria fazer vestidos para ela e que não aceitaria “não” como resposta.
Foi em um dos vestidos que Tinling desenhou especialmente para ela que Maria Esther deu o que falar em Wimbledon-1962. Ela entrou em quadra com uma saia rosa sob o vestido, e o público murmurava cada vez que a brasileira sacava - quando era possível ver o detalhe.
Mais tarde, no mesmo torneio, Maria Esther trocou o rosa pelas cores do All England Club (verde e roxo), mas a direção do clube não gostou nada e, no ano seguinte, estabeleceu que tenistas só deveriam usar branco.
Quem já foi a Wimbledon sabe o quanto Maria Esther Bueno sempre foi reverenciada pelos britânicos. Era impossível circular pelo All England Club sem parar a cada metro para fotos com fãs - inclusive jovens que nunca a viram jogar uma partida oficial. Ela sempre teve lugar reservado no Royal Box, o camarote real da Quadra Central de Wimbledon.
Seu sucesso, contudo, não era só em Wimbledon. Na Arena O2, sede do ATP Finals, a popularidade era igual. Pessoas e mais pessoas paravam a brasileira para uma foto ou um autógrafo.
Maria Esther era tão querida no Reino Unido que até bateu bola com a família real. Ela foi chamada para jogar com a princesa Diana e os dois príncipes: William e Harry. Depois do encontro, a brasileira se disse surpresa pois não sabia que o trio jogava tênis.
Já não havia tênis feminino - não no alto nível - antes de Maria Esther Bueno, que começou a fazer sucesso no exterior já como adolescente. No pouco tempo que passava no Brasil (às vezes, só quatro meses por ano), procurava treinar apenas com homens.
Além disso, o estilo de tênis jogado por ela não era fácil de ensinar. “Pela empunhadura, o tênis que a Maria Esther Bueno jogava era dificílimo”, explica Roberto Marcher, atual diretor do Brasil Open e autor do livro “O Tênis no Brasil - de Maria Esther Bueno a Gustavo Kuerten”. “Não dava para copiar. Ela era única. E aí não se criou uma escola. Na Suécia, depois do Bjorn Borg, veio uma 'porrada' de tenista”.
O Brasil nunca mais brilhou no feminino em Grand Slams. A maior revelação recente foi Bia Haddad. que chegou a 58ª posição do ranking da WTA no ano passado, mas está afastada das quadras neste momento se recuperando de uma lesão.
Avessa ao marketing pessoal ou ao endeusamento, ela sempre foi tímida, querida e humilde. Seus títulos e as pessoas falavam por ela. Ela não. Quando falava as pessoas ficavam loucas com suas incríveis histórias. Hoje perdemos o maior ícone e nome do tênis do nosso país. Mais uma gênio esquecida, deixada de lado. Mais uma incrível atleta que não foi reconhecida como merecia. Mais uma atleta mais reconhecida fora do que dentro do nosso país. Maria Esther vai deixar saudade e mais uma lição. Nossos ídolos precisam ser tratados com muito mais dignidade. Precisamos cultivar mais o reconhecimento e respeitar o passado.
Imagem: Reprodução/WikiwandMaria Esther sempre foi um ícone no nosso país, que representou da melhor forma possível. Teve resultados brilhantes na carreira, dentro e fora da quadra sempre mostrou muito luta, sempre foi uma pessoa muito boa, fez bem para o esporte. Vou tentar da melhor forma possível fazer o meu melhor dentro de quadra para seguir essa luta pelo nosso país. Guardarei todos os momentos que tive com ela, que foram poucos, mas tive a oportunidade de conversar com ela no Rio Open. Desejo tudo de bom para sua família, e vida que segue. Ela está lá nos assistindo agora.
Imagem: Matthew Stockman/Getty ImagesDia triste não só para o tênis brasileiro, mas para o tênis mundial. Que descanse em paz a maior tenista de todos os tempos que já tivemos. Muito obrigado, Maria Esther, por tudo que fez pelo tênis. Sempre prestou tudo que pode ao tênis, sempre acompanhando até os últimos dias. Sempre dava força e boa sorte, com energias bem positivas. É um dia triste para o tênis, a gente teve uma grande perda. Eu desejo meus sentimentos à família. O mundo do tênis hoje está de luto em nome da Maria Esther Bueno.
Imagem: Julian Finney/Getty ImagesEla foi a maior ganhadora de títulos do nosso país. Uma das maiores esportistas da nossa história e para a nossa sorte, uma tenista. Tenho um enorme respeito por ela. Foi uma super jogadora, pioneira no nosso país,onde pouca gente conhecia o esporte e em uma época onde tudo era muito mais difícil. As viagens, a premiação quase não existia.. Eu não tinha uma relação próxima com ela. A gente se cumprimentava quando se encontrava, mas o que sempre me impressionou foi como ela era sempre respeitada lá fora, especialmente em Wimbledon e no US Open.
Imagem: Marcello Zambrana/DGWComo conquistou a maioria de seus grandes títulos fora do país e passava até oito meses no estrangeiro, era normal que Maria Esther Bueno fosse mais reconhecida na Europa e nos Estados Unidos - ainda mais no mundo pré-internet, quando a notícia demorava a chegar e vinha exclusivamente pelos jornais impressos.
A brasileira se acostumou a ser mais reverenciada fora do país, mas isso não a impediu de revelar certa mágoa com o prestígio menor - em comparação com as sedes dos principais torneios do mundo - que sentia quando vinha ao Brasil.
Até 1967, os maiores torneios do mundo eram restritos a atletas amadores e não havia prêmio em dinheiro. Foi nesse período que Maria Esther Bueno conquistou todos seus sete títulos de Slams em simples. Wimbledon, por exemplo, dava prêmio em vouchers, que os campeões podiam trocar por mercadorias.
“A gente jogava mesmo pela honra, pela vontade de ser o melhor, de ser reconhecida. Estou na Enciclopédia Britânica, meu nome sempre foi mencionado nos melhores livros de tênis, então isso, para mim, é uma vitória pessoal muito grande. Por ser mulher, porque é mais difícil para a mulher, e por ser brasileira. Tenho muito orgulho dessas vitórias e dos meus 589 títulos”, disse em entrevista ao Esporte Ponto Final.
A carreira de Maria Esther, no entanto, não foi longa. Quando o circuito inteiro se profissionalizou, em 1968, ela sofreu com lesões e não voltou a competir no nível de antes.
Campeã pela primeira vez em Wimbledon , em 1959, Maria Esther Bueno não escapou dos abraços dos políticos de olho em sua popularidade. A multicampeã foi recebida pelo presidente Juscelino Kubitschek, na então capital Rio de Janeiro, e ovacionada pelo público brasileiro em desfile em carro aberto.
Em 1965, o joelho esquerdo de Maria Esther Bueno já incomodava. Ela passou por uma cirurgia e precisou de quatro meses de recuperação. No entanto, pouco depois foi seu cotovelo direito que começou a provocar dores. A brasileira continuou jogando até que, em 1968, ouviu de médicos que o estrago era grande demais e ela não voltaria a jogar.
Maria Esther insistiu até o começo de 1969, quando foi inevitável voltar a uma mesa de operações. Submeteu-se a várias cirurgias - ela cita mais de 20 - que praticamente reconstruíram seu cotovelo e seu ombro direitos.
Já no meio da década de 1970, a brasileira voltou a competir. Mesmo longe de seu auge, conquistou o Aberto do Japão de 1974 e ganhou US$ 6 mil como prêmio. Foi o maior cheque de sua carreira. Maria Esther também voltou a Wimbledon em 1976 e 1977. Na última participação, só treinava uma hora por dia para não controlar as dores no braço. Ainda assim, alcançou a terceira rodada, mas acabou eliminada pela grande Billie Jean King.
Em 1963, Maria Esther Bueno participou dos Jogos Pan-Americanos de São Paulo. Já uma estrela do tênis mundial, a tenista não teve dificuldades para levar a medalha de ouro. Na decisão, ela superou a mexicana Yolanda Ramirez, por um duplo 6/3.
No entanto, a melhor história daquele Pan em São Paulo envolveu um cãozinho.
"Eu tinha ganhado um filhote de cachorro e estávamos brincando quando acidentalmente ele mordeu minha mão direita e rasgou bastante a parte interna de um dos dedos. Foi preciso fazer vários pontos e visitas diárias ao hospital durante o torneio para que eu pudesse jogar a semana toda", relembrou em entrevista à Folha de S.Paulo.
Não tenho dúvidas de que ela foi uma mulher que marcou e deixou um legado. É difícil comparar com outras porque já se foram muitos anos. Existiram outras que também se destacaram no esporte brasileiro, mas na proporção dela, com o reconhecimento que ela teve mundialmente, é difícil. É uma referência pra todos nós. Foi mais valorizada e homenageada fora do Brasil. É um problema do nosso país, as pessoas aqui não fazem questão de reconhecer os ídolos, de passar para as novas gerações quem foram os nossos ídolos.
Imagem: Rio 2016/Marcos de PaulaEla foi revolucionária. Toda mulher atleta brasileira tem ela como exemplo. Já fiz várias reportagens e gravações com ela. Ela sempre chegava e falava pra mim: "Sou sua fã, adoro seu trabalho". Eu dizia que ela era a minha inspiração. É uma dessas pessoas incríveis que mudaram o esporte brasileiro. O legado que ela deixa é o de uma pessoa com atitude, mas ao mesmo tempo ela parecia uma princesa falando comigo, uma delicadeza tão grande, que eu não conseguia imaginar ela batendo forte numa bolinha do jeito que ela batia, porque ela era tão delicada. A Maria Esther é um exemplo de guerreira, uma batalhadora, uma pessoa que vai atrás e não tem medo, e por isso me identifico muito com ela. É um ícone mundial.
Imagem: Reprodução / TV Globo