Montanhas de euros

Janela de transferências muda história recente do futebol com recorde de dinheiro gasto e brasileiros em foco

Bruno Freitas e Karla Torralba Do UOL, em São Paulo
Arte/UOL

Foi um verão e tanto... as manchetes dos jornais europeus estão aí para comprovar. Nunca se gastou tanto dinheiro em uma janela de transferências do futebol – e boa parte dessa montanha de euros veio de investidores fora do continente.

Até o fechamento, na última quinta-feira, circularam mais de 5,1 bilhões de euros (R$ 19 bilhões) nas principais ligas de futebol da Europa. Assim, o mercado de jogadores atingiu um novo patamar financeiro, puxado principalmente pela transferência recorde que levou Neymar do Barcelona ao PSG, por 222 milhões de euros (mais de R$ 830 milhões). 

Da China partiram milhões para tentar reavivar a dupla Milan e Internazionale. Do Qatar, o dinheiro investido no PSG muda o patamar do Campeonato Francês, graças ao status de "jogador mais caro da história", que agora pertence a Neymar.

Mas a janela atípica foi marcada por loucuras mesmo de clubes menos relevantes. Por isso, até nomes sem badalação, como Sigurdsson e Dalbert, moveram fortunas. 

Os milhões gastos no período prometem influenciar os rumos dos campeonatos da temporada e, mais importante, recondicionar o funcionamento do mercado. 

 

Arte/UOL

As 10 maiores transferências

  1. 1

    Neymar

    222 milhões de euros - do Barcelona ao PSG

    Imagem: Reprodução
  2. 2

    Ousmane Dembélé

    105 milhões de euros - do Dortmund ao Barcelona

    Imagem: Albert Gea/Reuters
  3. 3

    Romelu Lukaku

    84,7 milhões de euros - do Everton ao Manchester United

    Imagem: Reprodução/Google+
  4. 4

    Alvaro Morata

    65 milhões de euros - do Real Madrid ao Chelsea

    Imagem: GLYN KIRK/AFP
  5. 5

    Benjamin Mendy

    57,5 milhões de euros - do Monaco ao Manchester City

    Imagem: Reprodução/Twitter
  6. 6

    Alexandre Lacazette

    53 milhões de euros - do Lyon ao Arsenal

    Imagem: Reprodução/As
  7. 7

    Kyle Walker

    51 milhões de euros - do Tottenham ao Manchester City

    Imagem: Divulgação
  8. 8

    Bernardo Silva

    50 milhões de euros - do Monaco ao Manchester City

    Imagem: AP Photo/Dave Thompson
  9. 9

    Gylfi Sigurdsson

    49,4 milhões de euros - do Swansea ao Everton

    Imagem: Reuters/Andrew Boyers
  10. 10

    Nemanja Matic

    44,7 milhões de euros - do Chelsea ao Manchester United

    Imagem: REUTERS/Eddie Keogh

Não será fácil contratar. Um brasileiro de 16 anos de idade vai jogar pelo Real Madrid por 45 milhões de euros (Vinícius Júnior). Você imagina, então, como o mercado está. Talvez ficaremos com muitos jogadores aqui, talvez não... vamos ver nos próximos dias

Pep Guardiola

Pep Guardiola, técnico do Manchester City, em previsão em maio, ainda no começo da janela

Mas ainda não acabou

Apesar de a janela ter sido fechada em alguns dos principais mercados da Europa, em alguns países o mercado segue aberto em setembro. 

A Turquia, sétimo mercado do planeta que mais gastou em reforços na atual temporada (cerca de 90 milhões de euros), permite contratações até o dia 8 de setembro, mesma data de fechamento na República Tcheca. As negociações em Portugal vão até 22 de setembro. Já na Inglaterra, jogadores que estejam sem contrato podem assinar com uma equipe mesmo fora das janelas de transferências.

O que o efeito Neymar provocou na França

AFP PHOTO / Pascal GUYOT AFP PHOTO / Pascal GUYOT

Era uma vez um super time

Um time do porte do Monaco não se infiltra no meio dos grandes da Europa sem pagar um preço. O time do Principado conseguiu quebrar a hegemonia do PSG para conquistar o Campeonato Francês depois de muito tempo. Já na Liga dos Campeões, a equipe dos brasileiros Fabinho e Jemerson bateu favoritos e chegou até a semifinal. Desta forma, com status de grande surpresa da última temporada, os campeões franceses acabaram "depenados" na janela de transferência.

Da foto acima, foram embora Bernardo Silva e Benjamin Mendy, que viraram reforços do Manchester City. Outro titular absoluto que deixou o Monaco foi Tiemoue Bakayoko, agora no Chelsea. Por fim, já quase no desfecho da janela, os atuais campeões da França perderam a jovem estrela Kylian Mbappé para o rival PSG. 

A manobra Mbappé

Para não violar as regras da Uefa sobre limites de gastos (o "fair play" financeiro), o PSG colocou em ação um plano diferente para se reforçar com Mbappé. O acerto com o Monaco foi um empréstimo do atacante de 18 anos, inicialmente. O contrato trará uma opção de compra fixada em 180 milhões de euros, que será validada somente na janela de transferências do ano que vem. 

AFP PHOTO / PIERRE-PHILIPPE MARCOU AFP PHOTO / PIERRE-PHILIPPE MARCOU

Real Madrid: O mais forte da Europa não gasta quase nada

Grande campeão da Europa na última temporada, o Real Madrid, praticamente não tirou dinheiro do bolso em busca de "supercontratações" e, mesmo assim, deve ser outra vez o time a ser batido no continente. O clube "lucrou" 79,5 milhões de euros. 

Foram apenas duas aquisições: Theo Hernández (30 milhões de euros) e Dani Ceballos (16,5 milhões de euros), além da volta de cinco jogadores que estavam emprestados no último ano do futebol europeu. O jovem Vinicius Júnior, comprado por 45 milhões de euros, chegará apenas em 2019.

A estratégia foi manter os jogadores que Zinedine Zidane pretende usar na temporada e se desfazer daqueles fora dos planos do comandante. Estrelas que estavam na reserva do Real foram negociadas e renderam dinheiro.

Exemplos de Álvaro Morata, vendido ao Chelsea por 65 milhões de euros; e James Rodriguez, emprestado ao Bayern de Munique por 13 milhões de euros, e que ainda pode render mais. O brasileiro Danilo também deixou o clube rumo ao City por nada menos que 30 milhões de euros.
 

Albert Gea/Reuters Albert Gea/Reuters

Barcelona é o derrotado da janela?

Nesta janela o Barcelona teve que engolir algo incomum em sua história: perder a queda de braço por uma estrela de primeiro nível. Apesar de lucrar 222 milhões de euros com a multa rescisória de Neymar, o clube esteve exposto no noticiário em boa parte do verão europeu e saiu com a imagem de grandeza desgastada. De quebra, os catalães ainda não conseguiram nenhum grande "golaço" no mercado e ainda perderam a briga para tirar Philippe Coutinho do Liverpool no último dia de janela. 

Além do brasileiro do Liverpool, logo no começo da janela, o Barça não teve sucesso no desejo de contar com o italiano Marco Verratti, do PSG. Depois, o clube sofreu com desconfianças e críticas pelas contratações de Paulinho (40 milhões de euros), Nélson Semedo (30,5 milhões) e Gerard Deulofeu (12 milhões).

Adiante, usou boa parte do dinheiro de Neymar para contratar Ousmane Dembélé (105 milhões), jovem visto como potencial substituto da estrela brasileira, mas ainda com status de aposta. Depois de fracassar por Coutinho, o time ainda pode tentar uma última cartada nesta sexta-feira: Mahrez, do Leicester, é especulado.

Dentro do elenco, o Barcelona ainda lidou com dificuldades para vender atletas que não interessam ao técnico Ernesto Valverde, casos de Arda Turan, André Gomes, Denis Suárez e Lucas Digne.

 

Milan gasta para voltar a ser grande

Após uma temporada em que não conseguiu nem mesmo se classificar para a Liga dos Campeões, o Milan apostou nos cofres abertos graças à venda do clube ao grupo de investimentos chinês Rossoneri Sport Investment Lux.

Ao todo, foram 11 contratações entre empréstimos e compras – mais de 200 milhões de euros gastos. O clube conseguiu até mesmo tirar o zagueiro Leonardo Bonucci da poderosa Juventus. Só com este reforço desembolsou 42 milhões de euros.

Enquanto isso, a rival Inter de Milão não conseguiu concretizar parte das contratações justamente por conta do investimento do país asiático. O clube teve quase 70% de suas ações compradas pelo grupo chinês Suning, mas burocracias impediram os italianos de irem além no mercado. Foram somente cinco compras (sem nenhum nome badalado), que somaram 128 milhões de euros.

Kin Cheung/AP Kin Cheung/AP

A novela do mercado: Coutinho fica no Liverpool

A situação de Philippe Coutinho, uma das principais novelas do mercado da bola europeu envolvendo brasileiros foi encerrada como começou: com o jogador no Liverpool. O Barcelona fez a última oferta de nada menos que 160 milhões de euros (R$ 590 milhões) no último dia da janela espanhola e recebeu um novo "não".

A decisão do Liverpool em manter Coutinho foi tomada pelos empresários americanos que compõem o Fenway Sports Group, proprietários do clube inglês, e que veem na permanência dele uma decisão crucial para brigar pelos títulos disponíveis na atual temporada. "Nem por 500 milhões de euros ele seria vendido", disse uma fonte ligada às negociações ao UOL Esporte.

Dalbert vale 20 milhões? As surpresas da janela

Arte/UOL
Twitter/Divulgação Twitter/Divulgação

Altos valores não chegam ao futebol brasileiro

Ao contrário de janelas de transferências anteriores, os grandes valores pagos pelos times europeus para contratar jogadores não impactaram muito o futebol brasileiro. Dos clubes da Série A, o São Paulo foi o que mais gerou receitas.

Segundo o Transfermarkt, site especializado em transferências, o clube paulista teve receita de 38,5 milhões de euros (R$ 144,6 milhões), mas precisou negociar cinco jogadores para chegar a esse valor.

No ranking dos maiores valores pagos por jogadores de clubes da Série A estão: Thiago Maia (do Santos ao Lille, por 14 milhões de euros); Richarlison (do Fluminense ao Watford, por 12,5 milhões de euros); e Pedro Rocha (do Grêmio ao Spartak Moscou, por 12 milhões de euros).

Mas o principal negócio da janela da Europa foi o que conectou o jovem Vinicius Jr. ao Real (45 milhões de euros). Mas os valores acertados com o Flamengo serão pagos gradualmente, até que o atacante migre de vez para a Espanha, em 2019.
 

O que esperar do futuro

Os valores vão aumentando ano após ano. Não vejo esta janela especificamente como tão especial. É apenas a de maior volume. Aumentam os valores pagos por transmissão, valores dos produtos, clubes ganham mais dinheiro e gastam mais dinheiro. Não acredito que mega empresários torrem dinheiro à toa. Um ou outro até pode ser, mas não de forma generalizada. Se pagam o que pagam é porque têm e sabem que podem ter o retorno.

Julio Gomes

Julio Gomes, blogueiro do UOL

No curto prazo, o inflacionamento não oferece nenhum risco aos clubes ricos. Gera especulação de mercado, os atletas e os agentes ganham mais e o faturamento de algumas agremiações será maior. As que não têm como jogar esse torneio do capital, entre elas estão as da América do Sul, sabem que dentro dos gramados o enorme abismo técnico aumentará. O 'fair play' aparentemente pode ser driblado. Opto, em princípio, pelo ceticismo, pois a regulamentação foi elaborada com influência de cartolas.

Victor Birner

Victor Birner, blogueiro do UOL

A contratação de Neymar e a recém-encerrada janela de transferências têm tudo para serem divisores de água no "Mercado da Bola". A partir de agora, vamos começar a ouvir falar muito de regulação de mercado e bolha do futebol. A tendência é que Uefa e Fifa se movimentem em um futuro próximo para impor limites mais rígidos do que o atual fair-play financeiro. Já se fala inclusive em um possível teto salarial

Rafael Reis

Rafael Reis, Blogueiro do UOL

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