O Príncipe do Egito

Com protagonismo, Salah vai ganhando status de super-herói em trajetória surpreendente do Liverpool

Gustavo Setti Colaboração para o UOL
Rui Vieira/AFP

Introdução

Liverpool x Roma tinha tudo para ser uma batalha, digna de filmes de época com duelos entre impérios. Mas rapidamente o exército da casa mostrou quem ia mandar em Anfield. O papel de protagonista coube ao egípcio Mohamed  Salah, que no reencontro com seu ex-time acabou com a defesa do "império romano".  Se antes da Liga dos Campeões, muitos achavam que o atacante faria apenas figuração, Salah tem mostrado desempenho digno de personagem principal da competição continental.

Após o primeiro jogo da semifinal da Liga dos Campeões, o UOL Esporte separou o que de mais relevante aconteceu no gramado do estádio Anfield. Do melhor ao pior, passando ainda pelo vilão, o final inesperado e quem mais se destacou.

Mostramos abaixo quem foram os destaques positivos e negativos do duelo, com a licença poética de brincar com tradicionais premiações do cinema.

Nosso herói não veste capa

A expressão que ficou popular em memes e brincadeiras nas redes sociais, pode explicar bem o sentimento do torcedor do Liverpool em relação ao egípcio. Desbancar Mohamed  Salah é missão para muito poucos ultimamente. Em seu grande palco e com a plateia ao lado, o egípcio justificou na partida de ida contra a Roma o motivo de ser o herói do time inglês até o momento.

No primeiro tempo, uma apresentação de classe com direito a dois golaços: o primeiro com um chute preciso no ângulo de Alisson, e o segundo com toda a categoria para tocar por cima do goleiro brasileiro sem nem colocar muita força na bola.

Com dois gols na conta, Salah ainda deu de garçom e contribuiu com duas assistências, uma para Mané e outra para Firmino, na etapa final. Para celebrar tantos méritos dentro de campo, ele ainda viu sua atuação de gala ser premiada com aplausos no Anfield ao sair de cena substituído por Ings aos 29 minutos do segundo tempo.

Depois de ser o segundo mais votado nas eleições presidenciais do Egito, mesmo sem ser candidato, agora só falta ele virar um deus no país.

O cidadão é simplesmente o melhor jogador de futebol do mundo no momento.

Julio Gomes

Julio Gomes

Jogo mortal

O Liverpool já vencia a Roma por 3 a 0 quando Salah recebeu pela direita e não encontrou muita resistência para driblar Juan Jesus e dar a bola para Firmino só empurrar para a rede. O brasileiro viu o egípcio ir para cima dele e não fez praticamente nada. Plantou os pés no chão e em um piscar de olhos teve que sair correndo atrás do camisa 11. Aí já era tarde demais. Ele cortou para a direita e cruzou rasteiro antes de sair o quarto gol dos donos da casa.

A apatia do zagueiro brasileiro foi só um reflexo do desempenho da zaga romana em boa parte do jogo. Nem de perto, lembrou a defesa que parou o Barcelona no Estádio Olímpico. Juan, que tinha a função de parar as arrancadas e jogadas de Salah, acabou como o grande vilão desse sistema defensivo falho. 

É verdade que o papel do brasileiro dentro do jogo não era dos mais fáceis, mas Juan falhou e perdeu praticamente todos os duelos contra o camisa 11 do time inglês. Resta a Juan Jesus torcer para o jogo virar e de vilão assumir papel de herói no jogo de volta, em Roma. 

Nas quartas de final, o Juan Jesus tinha anulado o Messi. A Roma acreditou que dava para repetir essa estratégia contra o Liverpool e contra Salah. O problema é que o Liverpool joga com três homens de ataque natos, e a Roma tentou anulá-los com uma linha de três atrás. Não tinha como dar certo. Coitado do Juan, que foi quem teve que fazer a marcação individual do Salah e foi completamente destruído pelo egípcio em campo.

Rafael Reis

Rafael Reis

Já Estou com Saudades

O jogo em Liverpool foi um autêntico roteiro de filme para Salah. O egípcio era jogador da Roma até a temporada passada, mas foi negociado com o clube inglês por 42 milhões de euros (R$ 178 milhões na cotação atual). Quase um ano depois, chegou o grande momento do primeiro reencontro dele com a ex-equipe.

Dentro de campo, o camisa 11 teve papel de vilão da Roma, mas mostrou classe e respeito pelo time italiano. Com dois golaços que fizeram o Anfield explodir, Salah soube controlar as emoções, não comemorou e ficou simplesmente parado e ergueu as mãos quase como um pedido de desculpa por ter marcado.

A torcida do Liverpool agradece o protagonismo do egípcio, enquanto o sentimento dos italianos é de saudade. Depois de uma atuação como essa, o dinheiro gasto na compra de Salah virou quase que piada na Inglaterra.

“Desse jeito, é impossível defender contra o Salah. Ele tem um gigantesco impacto. O primeiro gol foi uma finalização de gênio, mas o segundo foi uma jogada brilhante. O que ele está jogando nessa temporada não é normal”, disse Jurgen Klopp, técnico do Liverpool.

A não comemoração dos gols mostra o respeito. Meu amigo romanista escreveu no WhatsApp: "Ah não, ele não..."

Julio Gomes

Julio Gomes

Sempre ao Seu Lado

Alex Oxlade-Chamberlain virou personagem de um verdadeiro drama na partida entre Liverpool e Roma. O meia do time inglês era um entre os 22 coadjuvantes da partida quando o jogo teve um final precoce para ele.

Logo aos 18 minutos do primeiro tempo, o camisa 21 se lesionou e precisou ser substituído por Wijnaldum. Chamberlain deu um carrinho para desarmar Strootman, mas torceu o joelho direito e ficou caído no gramado. Após atendimento médico, ele tentou apoiar o pé no chão, mas o joelho falseou.

O jogador deixou o campo de maca muito aplaudido pelo torcedor do Liverpool, mas a situação dele pode ganhar ares ainda mais sérios. Afinal, se for confirmada alguma lesão grave, o meia inglês também estará fora da Copa do Mundo e, lembrando um filme blockbuster, terá visto a temporada naufragar como um Titanic.

A lesão sofrida pelo Oxlade-Chamberlain no início da partida doeu muito. Doeu muito para o torcedor do Liverpool, que viu seu time perder o jogador do meio-campo que mais se aproxima do ataque, que mais faz companhia ao tridente ofensivo mágico do Liverpool, e doeu muito para o torcedor da Inglaterra, porque qualquer lesão tão perto da Copa do Mundo é sempre um risco enorme de corte e de desfalque. Apesar de ainda não termos o grau da lesão, ela assusta bastante e assustou o técnico Gareth Southgate.

Rafael Reis

Rafael Reis

Débi & Loide

A arbitragem foi a grande responsável por um lance típico de filme besteirol americano. Em uma situação inusitada no início do jogo, o auxiliar Stefan Lupp viu o seu instrumento de trabalho quebrar e ficou apenas com o cabo nas mãos para marcar um lance de impedimento.

Depois do imprevisto, o árbitro Felix Brych levou uma nova bandeirinha, mas o instrumento voltou a quebrar segundos depois nas mãos de Lupp, que não sabia se tentava consertar o objeto ou acompanhava a bola rolando dentro de campo.

Coube então ao quarto árbitro ir até o outro lado do campo, consertar a bandeira e permitir a Lupp continuar trabalhando sem precisar de um novo instrumento. Quem adorou a cena foi o torcedor do Liverpool. Não faltaram gargalhadas da torcida que estava logo atrás do bandeirinha.

E os torcedores dando risada lá atrás?? Hilário

Julio Gomes

Julio Gomes

Bad Boys

A mistura do Brasil com o Egito nunca deu tão certo, e quem aprecia tudo isso da plateia é o torcedor do Liverpool. Mais uma vez, Salah e Firmino comandaram a equipe inglesa em uma vitória na Liga dos Campeões. Os dois são iguais até na quantidade de gols: são 10 bolas na rede para cada na atual edição do torneio. O egípcio ainda soma quatro assistências e o brasileiro sete passes para gols na competição.

Os primeiros gols do jogo contra a Roma foram marcados pelo egípcio, e ambos com assistência do brasileiro. Aos 36 minutos, o camisa 9 deu o passe e viu o camisa 11 acertar o ângulo de Alisson. Depois, Firmino puxou contra-ataque e mandou para Salah em profundidade. De frente para o gol, o egípcio tocou na saída do goleiro brasileiro.

No segundo tempo, eles inverteram os papéis. Aos 16 minutos, o camisa 11 retribuiu o favor, fez jogada pela direita e cruzou rasteiro para o camisa 9 completar para o gol vazio. Essa dupla dinâmica lembra bem Marcus Burnett e Mike Lowrey, os dois policiais inseparáveis de Miami que protagonizaram o filme “Bad Boys”.

Salah e Firmino nasceram para jogar juntos. O brasileiro é o falso 9 que se movimenta pelo campo todo e que sai da área para abrir espaço para as infiltrações do craque egípcio. Eles são complementares, são como Batman e Robin. Mérito de Jurgen Klopp, que percebeu isso e montou um time que só funciona por causa dessa dupla de ataque.

Rafael Reis

Rafael Reis

Fragmentado

Jurgen Klopp é daqueles técnicos que se expressam muito na beira de campo. É só apontar uma câmera para ele que já dá para ver como o treinador do Liverpool vai do sorriso de alegria à explosão de raiva em segundos. E foi justamente assim no primeiro jogo contra a Roma.

No primeiro tempo, Klopp vibrou para comemorar um gol, mas logo se deu conta de que o lance tinha sido anulado por impedimento de Mané. Pouco depois, porém, ele foi ao êxtase duas vezes graças a Salah.

Já na etapa final, o técnico alemão sorriu ainda mais com os outros três gols do Liverpool, mas mudou totalmente a expressão quando viu a equipe italiana buscar a reação. Com os dois gols da Roma, que deixaram o placar em 5 a 2, Klopp mostrou mais uma vez que não faltam caras e bocas para ele.

"Sei que agora não parece um resultado tão bom, ao levar dois gols nos últimos minutos, mas amanhã veremos que é muito positivo", disse o treinador.

Como sempre. Poucos técnicos vivem tanto o jogo

Julio Gomes

Julio Gomes

O Império Contra-Ataca?

Todo grande filme tem uma grande reviravolta, e a história de Liverpool x Roma pode ser mais um exemplo disso. Os italianos já estavam derrotados em campo e não sabiam qual a melhor saída depois de verem os ingleses abrirem 5 a 0 no placar. Porém, em quatro minutos, o torcedor romanista viu a luz no fim do túnel.

Aos 36 do segundo tempo, Dzeko aproveitou falha da zaga e descontou. Pouco depois, aos 40, Perotti não desperdiçou cobrança de pênalti e fez a pequena parte do público no estádio vibrar. É verdade que a Roma perdeu o jogo por 5 a 2, mas a equipe ganhou novo fôlego depois da reação.

Para ir à final, os italianos precisam vencer por 3 a 0, o que não é nenhuma novidade. Afinal, foi justamente por esse placar que o time bateu o Barcelona no segundo jogo das quartas de final e se garantiu na semi. Coincidência?

"Nós já viramos um resultado deste uma vez, e não foi um milagre. Quem não acredita nisso, tanto no campo quanto nas arquibancadas, pode ficar em casa", disse Eusebio Di Francesco, técnico da Roma.

Sabe aqueles filmes sequenciais, muitas vezes da Marvel, que têm cenas pós-crédito que só servem para aguçar a curiosidade do telespectador? Foi mais ou menos isso o que aconteceu em Anfield. Com o 5 a 0, o segundo jogo da semifinal não tinha muitos atrativos. Com os dois gols da Roma e a lembrança do que aconteceu em Roma x Barça nas quartas, todo mundo vai ficar ligado na partida de volta. Apesar do Liverpool ser favorito e estar com uma mão na classificação, ainda dá para a Roma, ainda mais pelo histórico das quartas de final.

Rafael Reis

Rafael Reis

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