Guga em 5 sets

Guga explica "efeito Matrix" que viveu em Roland-Garros 97, elege os maiores do tênis e fala sobre seus ídolos

Giuliano Zanelato e Carlos Padeiro Do ESPORTE(ponto final), em Florianópolis (SC)
ESPORTE(ponto final)

Set #1 - "Aquele suspiro mudou tudo"

O esporte é ferramenta que auxilia as pessoas a encontrar a melhor versão de si mesmas. Ao ser questionado sobre o maior momento que viveu no esporte, aquele instante que mudou tudo, Guga não hesita e começa a filosofar sobre um segundo que aconteceu em Roland Garros e continua vivo em sua mente.

Ao iniciar o 4º set das quartas de final, em 1997, o desconhecido Guga já estava mentalmente nas cordas diante do gigante russo Kafelnikov. O rival era mais experiente (foi campeão em Paris um ano antes) e tinha plena capacidade para controlar psicologicamente o embate.

Guga continuava tentando acertar as bolas. Mas para ganhar de um atleta que ele considerava muito acima do seu nível, era preciso mais do que bater bem na bola. Era preciso mudar, ou encontrar um tenista que estava lá dentro de Guga, mas nem ele próprio, com apenas 20 anos, sabia que existia.

Foi aí que o brasileiro viu um "suspiro" de Kafelnikov, um sinal de cansaço, de "humanidade". E era Guga quem tinha provocado aquele suspiro. O que aconteceu depois? "Tudo e nada". No entanto, naquele sinal de fraqueza do rival surgiu o maior tenista da história do Brasil. Não por mágica, porque ele já estava ali, tinha se preparado por anos para encontrar a si mesmo naquele segundo, naquela quadra.

Para quem duvida que o esporte tem um pouco de arte, um pouco de loucura, um pouco de filosofia, o próprio Gustavo Kuerten conta os detalhes no vídeo abaixo. Ele diz que naquele dia viu o "efeito Matrix".

Adam Butler/AP Adam Butler/AP

Set #2 - Guga elege os maiores tenistas da história

Guga revela que, quando criança, seu quarto tinha dois pôsteres: um de Björn Borg, que pertencia a seu irmão, e outro de John McEnroe, que era seu. Ambos estão em seu TOP 5, por representarem ídolos que ajudaram a construir seu amor pelo tênis. A relação era praticamente de admiração por “super-heróis”. Eles não eram reais, na cabeça do pequeno Guga, que iniciava no esporte.

Conforme o tempo passa e sua capacidade tenística cresce, a relação com os grandes de sua modalidade vai se tornando menos lúdica e passa ser mais técnica. Desta fase, mais adulta, vêm os outros nomes que completam o Top 5... Só que, com uma jogada de mestre, Guga transforma num TOP 6, no match point.

Rogério Carneiro/Folhapress Rogério Carneiro/Folhapress

Set #3 - Piquet e Senna estão no top 5 do esporte

Gustavo Kuerten elege os maiores do esporte. Dois astros do basquete abrem a lista, por influência do pai Aldo Kuerten, que praticava a modalidade. Na sequência, vêm campeões da Fórmula-1. É interessante a comparação que Guga faz entre Nelson Piquet, tricampeão em 1981, 83 e 87, e Ayrton Senna, que despontou depois e também ganhou três títulos (1988, 90 e 91). Guga era criança e preferia Piquet, mas depois se encantou com Senna (veja o que ele diz no vídeo a seguir).

O ídolo do tênis não se contém com o TOP 5 e amplia para além de cinco nomes. Quando parecia que ia fechar o Olimpo do esporte com Michael Phelps em sexto, elege o que chama de número zero em sua lista, um ícone do esporte que, para Guga, é o maior de todos: Robert Scheidt. Acabou fazendo um TOP 7 do esporte.

Leandro Moraes / UOL Leandro Moraes / UOL

Set #4 - O que fazer para revelar novos "Gugas e Marias Esther"?

Não se trata de comparar tenistas que ainda estão surgindo com lendas. Mas a verdade é que uma sociedade tem que criar mecanismos e políticas para desenvolver e facilitar o encontro de jovens atletas com o esporte, e não esperar que eles apenas desbravem o caminho, quase por milagre, até uma quadra de tênis escondida e longínqua. A história de desbravadores sempre é inspiradora, mas também é pontual. 

Segundo Guga, criar metodologicamente o número 1 do mundo é praticamente impossível - o número 1, o gênio, acontece, ele é quase uma força da natureza. O Federer acontece. Ele “escolheu” a Suíça para nascer. A Maria Esther Bueno acontece. Ela “escolheu” o Brasil. Você apenas não pode “jogá-lo fora”. Podemos, sim, formar grandes atletas e usar o esporte muito além das quadras. Talvez no Brasil, a gente esteja desperdiçando a rodo grandes atletas, números 5, 10, 50 do mundo, enquanto torcemos pelo surgimento do próximo desbravador.

Steve Powell/Getty Images Steve Powell/Getty Images

Set #5 - Quem inspirou Guga?

O momento de inspiração para o torcedor Guga vem lá de sua infância. 

E não por acaso é a medalha de ouro de um atleta que, assim como Guga, foi um desbravador: Joaquim Cruz em 1984 - a única medalha de ouro do Brasil na Olimpíada de Los Angeles e a única medalha de ouro olímpica brasileira em pistas de corrida até hoje. 

Embora o atletismo em nosso país não tenha conseguido seguir os largos passos de Joaquim Cruz, Gustavo Kuerten conta como assistir pela TV àquele alto corredor de uniforme azul realizar o improvável foi essencial para que, o garoto de 8 anos que buscava espelhos para se afirmar, acreditasse que era possível um brasileiro ascender num esporte pouco tradicional no país. 

A imagem de Joaquim Cruz carregando a bandeira do Brasil ao final daquela prova, sendo narrada por Osmar Santos em rede nacional para todo o país, é tão marcante no esporte brasileiro quanto a imagem do próprio Guga desenhando um coração no saibro no tricampeonato em Roland Garros.

Atualmente, Joaquim é treinador do Comitê Paralímpico dos EUA.

Gostou? Então veja entrevistas com outros ídolos do esporte

ESPORTE(ponto final) ESPORTE(ponto final)

Um canal especial do UOL Esporte

A entrevista com Gustavo Kuerten foi realizada pelo ESPORTE(ponto final), um canal onde ídolos falam sobre os grandes momentos que viveram e viram no esporte.

Episódios inéditos são publicados na nossa página no Youtube. CLIQUE AQUI E SE INSCREVA!

Você também pode acompanhar no FACEBOOK e na nossa página no UOL Esporte.

ler mais

Curtiu? Compartilhe.

Topo