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O 'medalha de ouro' foi quando ele comprou a ideia e divulgou uma imagem como labrador humano
Gustavo Kuerten brilhou tanto nas transmissões da TV Globo durante as Olimpíadas que até os memes eram favoráveis. O ex-tenista ofuscou Ronaldo mesmo nos jogos de futebol. Ele diz que não foi por conhecimentos esportivos ou conteúdo jornalístico: a fórmula do sucesso foi vibrar junto com os torcedores brasileiros.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Guga conta como se transformou em "estrela da Globo" e detalha seu relacionamento com Galvão Bueno, fala sobre seu futuro na televisão e ainda defende a ex-presidente Dilma Rousseff.
Ele também fala sobre tênis e sua relação com seu "irmão de espírito" Novak Djokovic, e lembra de uma conversa com Andre Agassi sobre filhos. Por sinal, as crianças são a prioridade da vida de Guga. Veja abaixo:
O tremendo sucesso de Gustavo Kuerten nas Olimpíadas içou o ex-tenista a condição de protagonista na cobertura da Globo. "Cada chegada até o estúdio eram 40 ou 50 minutos de atendimento a uma foto. As pessoas vinham com a bandeira, com a camisa do Brasil." Carismático, extrovertido e brincalhão, Guga nadou de braçada. Mas no caminho contou com um aliado de peso: Galvão Bueno.
Houve muita afinidade entre os dois e Guga acredita que isto aconteceu porque ambos são muito coração, entendem que o esporte é mais que treinamento. "Vai além dos campos, das pistas, braçadas e golpes, e o que for… É mexer com as pessoas… Ele se propõe muito a isso, a levar o esporte como uma ferramenta de comoção, de sentimental… E minha vida na quadra de tênis era assim também."
Kuerten acredita que a inspiração foi uma via de mão dupla na relação entre os dois. "Acho que para ele foi motivador me ter ao lado, porque eu sentia que ele estava vibrando ali junto comigo e contava com essa opinião diferente, essa alegria. Por isso funcionou muito bem. E o cara treina todo o dia muito para fazer aquilo de uma forma espetacular e isso me chamou muito a atenção. É contagiante."
O 'medalha de ouro' foi quando ele comprou a ideia e divulgou uma imagem como labrador humano
Ele diz que o meme que prega o olhar de Guga como modelo pessoa apaixonada ficou top
O ex-tenista fecha o ranking de memes com ele feliz mesmo que seja segunda-feira
Mesmo sem ter experiência na TV, sabe quantas vezes Guga visitou a fono? Nenhuma. O ex-atleta explica, em meio as risadas, que seria mandado embora na segunda sessão por causa do sotaque "manezinho".
Ele diz que ajudou muito ter ao seu lado alguns dos maiores atletas olímpicos do país “Eu era o bicão, o único sem medalha era eu. Ali, perto a sensação era que eu estava respaldado.”
O ex-tenista conta que a expectativa própria era ’10 mil vezes maior que do entorno'. Havia ansiedade, mas Guga não temeu que as coisas saíssem erradas. Usou o aprendizado dos tempos de quadra para enfrentar o momento. “O Larri costumava me dizer antes de entrar na quadra sobre o medo. Ninguém vai bater em ti, não vai acontecer nada.”
Jantar era no máximo aquela pipoca do futebol… Tinha uns cafezinhos, ou aquele sanduichezinho, os canapés… Era nosso jantar, comia às 2 da manhã, 3 da manhã uma pizza requentada
Em tempos em que as pessoas têm a vida documentada no Facebook, Instagram e a janela para o mundo é a tela do celular, Guga surge como um cidadão off-line. Ele conta que não está em nenhum grupo de Whatsapp. Mesmo com o contato de grandes amigos ao alcance da mão, como Nicolás Lapentti, com quem foi campeão de duplas juvenil de Roland Garros em 1994, Kuerten é econômico.
“Ah, eu não sou de grupo de Whatsapp (rs). Eu tenho o contato do Lapentti, a gente fala. Com o (Carlos) Moya também… Mas eu falo assim mais ao vivo, não sei se é coisa da geração que pertenço..."
Guga explica que não necessita manter contato com amigos todos os dias, saber cada passo. A regra se aplica até a Larri Passos, ex-treinador e que mora nos Estados Unidos. “O Larri (Passos), que é um cara que sou muito próximo, eu falo uma vez a cada 20 dias ou mês por mensagem”.
Mas quem vai ser o número 1 do mundo para sempre? Talvez um pai, né… Pode ser para o filho. Um filho também pode ser para o pai, dos filhos já fica difícil porque um não pode ser o número 1
Guga não fez sucesso na televisão à toa; o cara tem carisma. A postura para cima ajuda bastante e ele fala que ficar se queixando da vida não ajuda. “Entrei em um campeonato de cadeira de rodas e tive um irmão, que faleceu, um cadeirante… Vou ficar reclamando se está complicado, se tem trânsito. Não tem espaço para isso, sabe. Acho que essa abordagem, que o brasileiro já teve mais, de ver a vida com uma perspectiva mais feliz, mais leve. Hoje está muito pesada.”
O ex-atleta acrescenta que sempre houve crises e dificuldade e concorda que a situação nacional não pode continuar como está. Mas, no entendimento dele, o mundo não pode parar e as pessoas não devem deixar de ser positivas
“E aí que sinto uma grande diferença, que ao passar dos anos o nosso povo deu uma degringolada nesse sabor de esperança para uma amoação.. Ficou amoado… Fica se lamentando em casa e se já é ruim, vai ficar pior.”
Havia um dilema na formação de Guga. Da mãe, assistente social, ouvia conselhos para ajudar as pessoas. O treinador, Larri Passos, pregava que deveria pisar na cabeça do adversário. Foi preciso resolver a situação para brilhar no circuito. Mas demorou bastante para solucionar a equação. “A três meses de Roland Garros (1997) eu perdi três partidas de jogo ganho.”
O ex-tenista fala que foi uma das maiores dificuldades enfrentadas para ser um profissional de sucesso. “Só perdendo muito e chorando às vezes, porque era muito pequeno, entendendo que aqui dentro (da quadra) primeiro era uma necessidade. E segundo, trazer mais importância para o meu lado, meu desempenho e minimizar o impacto da derrota do adversário.”
A resposta para o dilema apareceu com ajuda do treinador. “Mas acho que o Larri conseguiu criar essa maneira de se importar mais comigo. Desviar o olhar do outro lado, do cara que querendo ou não vai sair derrotado de quadra. Precisa ser assim, não tinha outra forma."
Abatido pela crônica lesão no quadril, Guga terminou a carreira com três títulos em Paris. Mas ele aceitou a provocação de fazer um exercício de futurologia e previu o que teria conquistado caso naõ tivesse encerrado a carreira precocemente: “Roland Garros muito provável. Eu vejo que cinco seria um número razoável.”
Ele ressalta que as quadras duras ficaram mais lentas, o que favorecia o jogo dele. “Naquela época os caras que ganharam seriam os que (eu) estava acostumado a desafiar e vencer, então teria uns cinco anos a mais de grande favoritismo em Roland Garros e com chances reais de ganhar outros Grand Slams. Mas o 'pacote total' não foi suficiente para que isso acontecesse.”
Eu estava com o Agassi esses tempos e caímos numa questão: Por que grandes tenistas não têm filhos tenistas? Começamos a entender que o pai às vezes esquiva o filho porque é um esporte individual. O cara resolve os problemas de A a Z num grau de dedicação e devoção quase que sobre-humana
Aos 20 anos, Guga ganhou Roland Garros, fama e fortuna, mas não perdeu o foco. O ex-tenista diz que não morar no eixo Rio-São Paulo contribuiu para não ser seduzido pelo sucesso. "Acho que Florianópolis ajuda muito porque aqui a vida é mais simples, naquela época então nem se fala… Sai de chinelo, não tem assim uma pretensão ou nenhuma pose para ser considerado."
Ele aproveita o tema para comentar a acusação de que os jogadores de futebol são muito marrentos. Guga pondera que a vida de um esportista é cronometrada e tem hora para comer, fazer fisioterapia, treinar e descansar. Quebrar a rotina significa perda desempenho. “O que eu acho e respeito muito é que se ele precisa passar reto para ter uma boa atuação aquilo faz um sentido.”
O ex-tenista acredita que muita gente desconta suas frustrações pessoais em figuras públicas e os atletas tornam-se um dos alvos. “Então às vezes para ser feliz precisa que o outro seja alguma coisa errada. É muito mais fácil ficar jogando pedra na cruz atualmente, à distância, e sem entender muito. A chance de erro é grotesca. A Rafaela (Silva) é um caso típico desse aí."
Guga foi condenado a pagar R$ 7 milhões ao fisco porque descontou os impostos como pessoa jurídica (20%) e a Receita Federal entendeu que devia ser pessoa física (27,5%). Ele classificou a decisão como lamentável.
“Se eu quisesse utilizar a pessoa jurídica simplesmente para ter beneficio fiscal, seria muito mais fácil ter ido morar fora do Brasil, fixado residência em Monte Carlo ou qualquer outro país com isenção fiscal e me livrado de pagar qualquer imposto. Até porque eu passava muito mais tempo no exterior do que aqui. Mas, para mim sempre fez mais sentido trazer esse dinheiro para o Brasil e investir no meu país.”
A decisão foi tomada no Carf, que é um órgão de recurso de decisões da Receita Federal. O ex-tenista ressaltou que houve empate na votação dos conselheiros e usaram o voto de minerva. Ele anunciou que vai recorrer da decisão na Justiça.
"Acho que é uma fonte de esperança, uma fonte de justiça. Hoje para o povo a Lava Jato é esperança nesse sentido de fim à impunidade."
(Longa pausa e cara de interrogação) "Imprevisível eu diria. Muitas dúvidas e acho que também em dois anos... Vai ser igual, só que diferente."
"Foi um tempo de desperdício, mas tem uma força nela interessante também. Acho que ela pagou uma conta muito cara que não era dela."
"Nem sei quem é. Nem lembro? Foi tanto papelão que eu nem lembro desse cara aí. Que fique lá nos Estados Unidos para não incomodar a gente mais."
"Quando eu vejo uma manchete de jornal um cara que assassinou a moça já teve dez vezes a queixa na polícia. Então entendo também que não é uma questão só dos temas. Aqui a gente vive num país que não funciona."
"A Lava Jato é esperança de fim à impunidade, de basta à corrupção, de 'chega de ninguém trouxa, pô. Vamos ajudar o Brasil'. Um país que tem muito potencial, só que ao longo dos anos isso não vem à tona."