Hamilton dá o troco

Vettel foi o rei em Mônaco, mas no Canadá, Hamilton e a Mercedes foram soberanas

Julianne Cerasoli Do UOL, em Montreal (Canadá)
Clive Mason/Getty Images
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Com a precisão de um relógio suíço

Sebastian Vettel é alemão, mas parecia ter emprestado a eficiência dos relógios da Suíça, onde mora, nas primeiras seis etapas do campeonato da Fórmula 1. Em todas as provas, nunca tinha chegado atrás da segunda colocação. A consistência era tão grande que Lewis Hamilton não escondeu a preocupação ao se ver com 25 pontos de desvantagem após terminar em sétimo lugar em um desastroso GP de Mônaco. Mas nada como correr “em casa”: enquanto o inglês esbanjava segurança no circuito em que mais venceu do que perdeu em 11 anos de carreira, o alemão vivia sua primeira corrida acidentada da temporada.

A vitória de Hamilton começou a ser construída com uma pole position em que não apenas igualou as 65 poles de Ayrton Senna, mas que também foi uma pole “a la Senna”, com três décimos de vantagem em uma pista em que as diferenças costumam ser mínimas. Uma boa largada foi suficiente para selar a conquista, uma vez que o companheiro (e segundo colocado) Valtteri Bottas em momento algum teve ritmo para ameaçar.

Enquanto isso, Vettel sofria: espremido entre Bottas e Verstappen na largada, o alemão teve a asa dianteira quebrada. A Ferrari demorou a perceber e perdeu a oportunidade de fazer o pit stop ainda sob Safety Car. Com isso, Vettel foi parar em último e teve de escalar o pelotão. Mesmo assim, chegou em quarto.

Por um lado, a Ferrari novamente se mostrou forte chegando perto do pódio, mesmo com uma parada a mais. Por outro, Vettel agora sabe que terá de enfrentar um Hamilton confiante em duas semanas, no Azerbaijão.

Minha primeira pole foi aqui. Minha primeira vitória foi aqui. Repetir isso no fim de semana foi especial. Essa atmosfera é única

Lewis Hamilton

Lewis Hamilton

Pelo menos foi mais divertido do que se estivesse andando sozinho na frente. Mas não é o resultado que a equipe e o carro mereciam

Sebastian Vettel

Sebastian Vettel

Dan Istitene/Getty Images Dan Istitene/Getty Images

Quem foi bem

  • Nova F-1 tem Wi-Fi grátis

    Mais mudanças da nova administração da categoria começaram a ser sentidas no GP do Canadá, passando pela divulgação de um vídeo da antes secreta reunião dos pilotos e pela retomada da famosa corrida de barcos no Circuito Gilles Villeneuve - que acabou com a vitória da McLaren e teve a participação dos chefes técnico (Ross Brawn) e de marketing (Sean Bratches). Para os fãs, teve também Wi-Fi nas arquibancadas pela primeira vez. Alguém imagina tudo isso na época de Bernie Ecclestone?

    Imagem: REUTERS/Chris Wattie
  • Consistência de Ricciardo

    Max Verstappen pode ser um piloto mais exuberante, mas é Daniel Ricciardo quem vem conquistando os melhores resultados para a Red Bull - e chegou ao terceiro pódio consecutivo em Montreal. O australiano conseguiu se manter longe das confusões da primeira volta e teve um ritmo muito forte por toda a corrida.

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  • Recuperação de Vettel

    O alemão acabou ficando na pior posição possível após entrar nos boxes logo depois de um Safety Car, quando o pelotão estava compactado, e colocar pneus que não durariam até o final. Mas com ultrapassagens agressivas, especialmente na parte final da prova, quando lutou com as Force India, Vettel mostrou serviço para sair de 18º para quarto, minimizando o prejuízo em um domingo que poderia ter terminado bem pior.

    Imagem: Paul Chiasson/AP

Quem foi mal

  • Honda e seus motores

    Primeiro, era esperado para o Canadá um upgrade que acabou ficando na promessa (também não está confirmado para a próxima etapa, em Baku). Segundo, a performance em uma pista sensível à potência do motor foi péssima, com os carros da McLaren perdendo 10km/h na reta, mais ainda do que ano passado. E, para completar, o time perdeu a chance de pontuar pela primeira vez no ano com uma quebra de motor a duas voltas do fim.

    Imagem: Xinhua/Rex Shutterstock/ZUMAPRESS
  • Carlos Sainz

    O acidente causado pelo espanhol colocou o ponto final em um final de semana frustrante. Ele foi mais lento que o companheiro Kvyat na classificação e pareceu esquecer a máxima de que "não se ganha corrida na primeira volta" e não deixou espaço para Grosjean, causando o strike que vitimou ainda Felipe Massa. Pelo menos, pediu desculpas depois de ter sido punido com a perda de três posições no próximo GP.

    Imagem: Reprodução/Sportv
  • Sérgio Perez

    Faltou ao mexicano saber jogar em equipe. E isso pode ter custado um pódio para a Force India. O mexicano diz que não, mas estava claramente mais lento do que o companheiro Ocon. Ao negar a ordem para deixar o francês passar (mesmo com a promessa de que as posições voltariam a ser invertidas caso este não conseguisse superar Ricciardo, que era terceiro), Perez mostrou mais uma vez porque saiu pela porta dos fundos da McLaren.

    Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Eu, se acontece algo do tipo, faço. Ele, se acontece o mesmo, não faz

Esteban Ocon, sobre o companheiro Perez não ter obedecido ordens de equipe

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Mais uma decepção na conta de Massa

Em uma pista na qual chegou a ser desclassificado por sair do box com o sinal vermelho, Felipe Massa viveu mais um capítulo de sua sina em Montreal. O brasileiro vinha muito feliz com o comportamento do carro e, em condições normais, estaria na briga pelo quarto lugar com Sebastian Vettel. Mas sua corrida não durou mais do que quatro curvas: o piloto foi acertado por um desgovernado Carlos Sainz depois de um toque do espanhol com Romain Grosjean, em uma largada que foi bastante agressiva no meio do pelotão.

É mais uma para a conta do GP do Canadá. Não sei o que acontece aqui

Felipe Massa

Felipe Massa

Reação na hora certa

Se você perguntar a um piloto se ele precisa ganhar determinada corrida, ele certamente dirá que sim. Mas a vitória de Lewis Hamilton no GP do Canadá tem um peso a mais para o piloto inglês. Ela veio como fruto de uma pole position que demonstrou a reação da equipe Mercedes em relação às dificuldades que o time vinha tendo em aquecer os pneus em classificação. As condições eram similares às de Mônaco, onde Hamilton sofreu sem saber muito bem o porquê. E, de quebra, veio com o bônus de representar 13 pontos descontados da vantagem de Sebastian Vettel, que pela primeira vez na temporada teve uma corrida acidentada.

Mas esse timing preciso não para por aí. Hamilton tem uma sequência difícil de provas pela frente: em Baku, a Ferrari tem tudo para voltar a andar na frente, e a Áustria é um daqueles circuitos em que Hamilton nunca se adaptou. Nenhuma vitória é de se jogar fora, mas aproveitar seu histórico invejável em Montreal era fundamental para Hamilton mostrar, como o Muhammad Ali que ele gosta de citar, que não sentiu o golpe da derrota de Mônaco.

Chris Wattie/Reuters Chris Wattie/Reuters

Réplica deu conta

A iniciativa de dar o capacete de Ayrton Senna a Lewis Hamilton quando o inglês igualasse o número de poles do brasileiro partiu da família do tricampeão e tinha um script diferente. O casco original usado por Senna na vitória no GP de Mônaco de 1987 foi levado a Monte Carlo, oficialmente, para ser exposto em uma suíte dedicada a Senna, mas ele seria entregue a Hamilton caso a marca caísse naquele final de semana. Isso não aconteceu e, por conta de uma questão de seguros, o capacete teve de ficar lá e uma réplica passaria a viajar a cada prova até que Lewis chegasse à pole de número 65. Mas o inglês ficou tão contente com a surpresa que ficou andando para cima e para baixo com sua réplica em Montreal.

Gostaria de saber falar português para expressar meu amor e meu apreço pela família de Senna por me dar esse presente, por Ayrton e pelos brasileiros em geral

Lewis Hamilton

Lewis Hamilton, após igualar as poles de Senna e receber o capacete

Será que eles vão voltar?

Reprodução/thejudge13 Reprodução/thejudge13

Rosberg na Ferrari

Circulou a informação fortemente em Montreal de que há possibilidade de Nico Rosberg retornar à Fórmula 1. O alemão decidiu se aposentar após ser campeão ano passado, mas estaria negociando sua volta com ninguém menos do que a Ferrari. Vale lembrar que os contratos de Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen acabam no final deste ano. Vettel, aliás, disse que ainda é cedo para começar a negociar uma possível renovação.

Leonhard Foeger Leonhard Foeger

Kubica em Monza

Outra informação que circulou foi sobre o teste de Robert Kubica na semana passada, com a Renault. Não foi coincidência: o polonês, que teve sua promissora carreira terminada após acidente de rali em 2011 que quase decepou seu braço, teria o plano de colocar o ponto final em sua relação com a F-1 fazendo uma sessão de treinos livres em Monza. Por causa das limitações de movimentos no braço, um retorno definitivo é impossível.

Chris Wattie/Reuters

Frases da corrida

Mais uma punição? É, tipo, uma brincadeira, certo? E eu levei dois pontos na carteira, o que é uma estupidez. Somos taxistas agora?

Daniil Kvyat

Daniil Kvyat, bravo por ter recebido duas punições depois de um erro dos comissários

Vou largar em último em Baku

Fernando Alonso

Fernando Alonso, perguntado sobre o que pensou quando seu motor quebrou a duas voltas do fim

Dan Istitene/Getty Images Dan Istitene/Getty Images

Sim, o "Professor Xavier" bebeu champanhe na bota suja de um piloto de Fórmula 1

O pódio do GP do Canadá foi muito diferente do que você está acostumado a ver. Depois da tradicional entrega de troféus, quem roubou a cena foi o ator Patrick Stewart. Para os mais velhos, ele é o capitão Jean-Luc Picard, de Jornada nas Estrelas. Para os mais novos, é o Professor Xavier, dos X-Men. Na cena mais chocante do pós-corrida, entrou na onda do terceiro colocado Daniel Ricciardo e bebeu o champanhe da vitória na sapatilha suja do piloto - depois que o próprio Ricciardo já tinha tirado a maior parte do suor...

É uma boa safra"

elogiou Stewart.

Ele foi o segundo ator de Hollywood a provar o champanhe na bota do australiano: o primeiro foi Gerard Butler, o Leonidas de 300 (que não foi tão educado e disse que odiava Ricciardo por tê-lo feito provar a bebida).

A entrevista de Lewis Hamilton também foi épica: lembrando que o Professor Xavier é telepata, ele não respondeu imediatamente o que estava sentindo. "Você sabe ler mentes. Então sabe o que estou sentindo agora", divertiu-se o vencedor.

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