Hoje não, hoje sim...

GP do Azerbaijão teve briga de trânsito, quebras bizarras e uma sequência inusitada que a F-1 poucas vezes viu

Julianne Cerasolli Do UOL, em Baku (Azerbaijão)
AP/Efrem Lukatsky
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Ninguém apostaria em tanta emoção

Lembra de Cléber Machado gritando "Hoje não, hoje não, hoje sim"? As frases ficaram famosas no GP da Áustria há 15 anos, quando Rubens Barrichello teve uma vitória certa tirada por uma ordem de equipe. Mas poderiam ser repetidas à exaustão durante o GP do Azerbaijão, no último domingo. O número de incidentes bizarros que acabou com a chance de vitória de uma série de pilotos foi alta. Pouca gente testemunhou uma corrida tão inusitada na história da F-1.

Lewis Hamilton era o grande favorito. Largou na pole e vinha dominando até ter um problema bastante incomum: seu descanso de cabeça não foi bem encaixado após uma bandeira vermelha e o inglês teve de voltar aos boxes para fixá-lo. Perdeu a ponta e as chances de subir ao pódio.

O segundo candidato a cair foi Sebastian Vettel, punido pelo “chega pra lá” que deu no rival inglês. A cena foi ainda mais incomum que a de Hamlton. Primeiro, o inglês estava atrás do Safety Car e brecou. Vettel não teve chance de reação e deu um "totó" na traseira do inglês. Descontrolado, o alemão levantou os braços e jogou o carro para cima do rival na sequência. As rodas do lado direito da Ferrari tocaram com as do lado esquerdo da Mercedes - sem grandes danos para ambos.

Nós estamos correndo entre homens

Sebastian Vettel

Sebastian Vettel, falando sobre o toque com Hamilton

Se quer provar que é homem, que saia do carro e faça cara a cara

Lewis Hamilton

Lewis Hamilton, respondendo ao alemão (após a discussão na corrida)

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Naquele momento, quem vinha em terceiro era Felipe Massa. O brasileiro sonhou com a vitória, mas abandonou com uma quebra no amortecedor após a mesma bandeira vermelha que prejudicou Hamilton.

Antes disso, era Max Verstappen quem poderia herdar o primeiro lugar, não fossem problemas no motor. Outros candidatos, Valtteri Bottas e Kimi Raikkonen, já tinham ficado para trás por um toque na primeira curva - Bottas foi para último e Raikkonen, em outro incidente, ainda teve um pneu furado.

No final das contas, méritos de Daniel Ricciardo, que conseguiu se manter longe dos problemas para chegar ao quarto pódio consecutivo - e fazer mais gente se acostumar a beber champanhe na sua sapatilha suada.

Se eu pensei que ia ganhar hoje? Nem por todo meu dinheiro

Daniel Ricciardo

Daniel Ricciardo, sobre a vitória na "corrida maluca"

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O azar de Massa

A vida de Felipe Massa nesta temporada não está nada fácil: o brasileiro ainda não cometeu nenhum erro capital nas oito primeiras provas, mas vem colecionando decepções. Desde o pneu furado da Rússia até os toques nas primeiras voltas na Espanha e no Canadá. Mas, em Baku, ele viveu o capítulo mais doloroso até aqui. Massa largou em nono lugar e ganhou três posições nas primeiras curvas.

Na primeira relargada, brilhou e subiu de sexto para quarto lugar. Quando vinha em terceiro, atrás apenas de Vettel e Hamilton, uma bandeira vermelha levou todos os carros para os boxes. A prova foi retomada e a surpresa: uma quebra na suspensão traseira o fez perder posições. Acabou abandonando.

O pior: como Hamilton teve de fazer uma parada não programada no box e Vettel foi penalizado, Massa tinha todos os motivos para acreditar que existia uma grande chance de vitória. Que foi jogada fora.

Uma pena. Hoje estava no caminho perfeito para quem sabe ter um pódio

Massa

Massa, sobre os problemas que enfrentou

AFP PHOTO / Johannes EISELE AFP PHOTO / Johannes EISELE

Será que o Luís Roberto secou o Massa?

A transmissão da Rede Globo não teve narração de Galvão Bueno, mas Luis Roberto foi um substituto à altura. Como ele vendeu emoções! Ele estava tão empolgado com a performance de Felipe Massa, sonhando com uma vitória verde-amarela, que teve gente que usou a máxima do “se gritar gol antes a bola não entra” e disse que o narrador "secou" o brasileiro.

"Relargada. Olha o Felipe Massa tentando mergulhar. Bora, Felipe! Boa, Felipe. Acelerando! Que manobra de Massa, que momento espetacular do brasileiro. E os dois carros da Force India (se tocaram). Tá demais, que corrida é essa?!! Impressionante, meus amigos. E o Massa tenta passar o Vettel. Incrível, uma corrida espetacular estamos acompanhando", exaltou.

Até Burti pediu calma

Pouco depois, quando Vettel bateu em Hamilton, até o comentarista Luciano Burti pediu calma ao narrador global, alucinado. "Se os dois forem punidos, Felipe pode ser líder da corrida", disse Luis Roberto. "Calma", pediu Burti. "Não, se os dois forem punidos. Preciso saber o que vocês acham", justificou-se o narrador.

No Twitter, teve gente falando que o narrador “não sabe que não pode gritar gol antes do tempo”, que “zicou Felipe Massa” e “agorou“ o brasileiro. Mas também teve quem ficasse preocupado (“Meu Deus, vai enfartar”) e elogiasse (“Quero ele narrando minha vida”).

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Em alta

  • Ricciardo, de novo

    Max Verstappen tem sido mais rápido, mas é Daniel Ricciardo quem tem conquistado os melhores resultados para a Red Bull. A diferença está clara na tabela do campeonato: o australiano tem 92 pontos contra 45 do companheiro. Em Baku, Ricciardo contou com a sorte para vencer, mas também foi agressivo em momentos-chave, como nas relargadas, e fez por merecer a conquista.

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  • Stroll desencantou

    O canadense da Williams vinha deixando a desejar em sua temporada de estreia, mas fez um final de semana perfeito em uma pista difícil como a de Baku. Ficou longe dos toques e dos problemas que foram tirando os adversários de sua frente para conquistar um pódio mais que inesperado. E o piloto de 18 anos garante que não foi coincidência, mas fruto de um trabalho diferenciado iniciado no acerto do carro no Azerbaijão.

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  • Bottas vira o jogo

    Em uma pista travada, ele ficou, na prática, uma volta atrás por quase metade da prova (até a 24ª das 51 voltas). Basicamente, teve apenas meio GP para escalar do último para o segundo lugar, em uma tarde na qual foi difícil manter as asas intactas, com tantos toques aqui e ali. Um resultado importante para a Mercedes não só pelos pontos tirados de Vettel, mas principalmente para manter a equipe à frente da Ferrari no mundial de construtores.

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Em baixa

  • Hulkenberg no muro

    O alemão perdeu uma chance de ouro para conquistar pontos importantes para a Renault ao bater sozinho. Ficou tão irritado que esperou o final da corrida para voltar ao paddock e apareceu na zona mista sozinho, sem o assessor de imprensa, e ainda com o capacete na mão.

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  • Grosjean e os freios

    Em uma tarde na qual Kevin Magnussen chegou a andar em posição de pódio com a Haas, seu companheiro mais experiente Romain Grosjean voltava a ter problemas com os freios que, aparentemente, só vêm atrapalhando o francês. Pouco para quem tinha como meta usar o time norte-americano como porta de entrada para a Ferrari.

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  • Dupla da Force India

    Esteban Ocon era sexto e estava satisfeito. Parecia ser uma tarde em que a Force India iria brigar com a Red Bull para ver quem era o terceiro melhor carro do grid. Mas... um toque entre o francês e o companheiro Sergio Perez na primeira relargada acabou com tudo. Para piorar, o acidente vem duas semanas depois que o time deixou de maximizar outro resultado, no Canadá, também por problemas entre seus pilotos.

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Os movimentos de Alonso

O espanhol estava satisfeito depois da corrida de Baku. E não foi por ter pontuado pela primeira vez no ano: o bicampeão disse que o final de semana foi importante para seu futuro, sem dar mais dicas. Acredita-se que o humor tenha a ver com a reunião de seu empresário, Flavio Briatore, com a Mercedes. O que circula nos bastidores é que está costurado o acordo para os alemães fornecerem motores para a McLaren.

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Raikkonen fica em 2018

Muito tem se falado sobre o mercado de pilotos, mas cada vez mais a permanência de Kimi Raikkonen por mais um ano na Ferrari ganha força. ?Desde 2012 falam que é o último ano dele. E ele sempre fica?, lembrou Romain Grosjean. Para 2018, a questão ferrarista seria a impossibilidade de oferecer mais do que um ano de contrato, pois o lugar de Raikkonen estaria sendo guardado para Daniel Ricciardo.

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Hamilton em saia-justa

O piloto inglês chegou muito bem-humorado a Baku na quinta-feira. E só fechou a cara quando perguntado sobre um assunto: a presença da ex-namorada, Nicole Scherzinger, que faria um show no circuito durante o final de semana de corrida. “Nem sei quem está tocando aqui neste GP”, garantiu o piloto da Mercedes. Com os outros artistas presentes, o grupo Black Eyed Peas, Lewis até almoçou no sábado.

AFP/Pool/Valdrin Xhemaj AFP/Pool/Valdrin Xhemaj

Não havia espaço e tive que subir na zebra. É óbvio que o carro saltou e não consegui manter a linha. Foi um incidente de corrida

Valtteri Bottas

Valtteri Bottas

Não sei o que ele estava fazendo. Bottas freou muito cedo, provavelmente percebeu isso e voltou a acelerar. Foi aí que me acertou

Kimi Raikkonen

Kimi Raikkonen

Era uma corrida que a gente poderia ganhar

Fernando Alonso

Fernando Alonso, que pontuou pela primeira vez na temporada

Acabou o amor entre Hamilton e Vettel

Se a primeira parte do campeonato foi marcada pelos elogios mútuos entre Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, bastaram alguns segundos para as farpas começarem a ser trocadas. E nem adiantou o alemão dizer que iria ligar para o inglês durante a semana para apaziguar a situação.

“Ele nem tem meu telefone”, respondeu o piloto da Mercedes, quinto colocado em uma prova que contava como vitória certa.

Para Vettel, o prejuízo após um impensado chega pra lá no rival depois que Lewis tirou o pé atrás do Safety Car (em um momento no qual cabe ao líder ditar o ritmo) acabou sendo menor: como Hamilton teve problemas e acabou fazendo uma visita não programada ao box, o alemão, mesmo punido, acabou na frente e aumentou sua vantagem na liderança de 12 para 14 pontos.

Por outro lado, Vettel sabe que, pelo segundo final de semana seguido, a Mercedes foi superior. Sua esperança agora é uma atualização de motor que a Ferrari deve levar à próxima etapa, na Áustria. Ou a atual folga na liderança pode começar a ficar pequena demais.

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