De segundão a nome do GP

Depois da fraca exibição na corrida do Bahrein, Valtteri Bottas dá a volta por cima e domina a Rússia

Julianne Cerasoli Do UOL, em Sochi (Rússia)
Mark Thompson/Getty Images

“Você é tão bom quanto sua última corrida” é um bordão tradicional do mundo do automobilismo. E quem sentiu isso na pele foi Valtteri Bottas: o finlandês chegou para o GP da Rússia respondendo perguntas sobre sua função de coadjuvante na luta pelo título entre Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, depois de ter recebido ordens de equipe em duas oportunidades no Bahrein; e saiu como o grande vencedor em Sochi, após superar Hamilton com propriedade por todo o final de semana.

O início de temporada do piloto que herdou o cockpit do atual campeão do mundo, Nico Rosberg, não tem sido nada fácil. Bottas rodou sozinho atrás do Safety Car na China, no que considera o maior erro de sua carreira, e foi bem inferior a Hamilton no Bahrein, depois de ter conquistado a pole. Mas é a forma como o piloto da Mercedes vem dando a volta por cima após as decepções que chama a atenção.

Ele começa a colocar um ponto de interrogação na cabeça dos dirigentes da Mercedes: com um rival tão forte como Sebastian Vettel, que já abriu 13 pontos na liderança do campeonato depois do segundo lugar na Rússia, liberar a luta interna não seria entregar o título de bandeja para o alemão?

Após quatro etapas, Vettel tem 86 pontos contra 73 de Hamilton e 63 de Bottas.

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Frases da Rússia

Foi uma reclamação no calor do momento, mas ele favoreceu (Bottas) duas vezes. Primeiro, abrindo para ele seguir e depois me fazendo perder tempo. Mas é assim quando se tem retardatários

Sebastian Vettel

Sebastian Vettel, sobre atrito com Massa

Ele realmente gosta de reclamar.

Felipe Massa

Felipe Massa, sobre reclamação de Vettel

Muito obrigado (Felipe). Eu tenho que pagar uma cerveja a ele

Toto Wolff

Toto Wolff, brincando sobre Massa ter favorecido Bottas

Tinha que fazer a curva e torcer para que ele usasse o cérebro.

Jolyon Palmer

Jolyon Palmer, sobre acidente com Grosjean

Demorou até um pouco de tempo, mais de 80 corridas até que esse momento chegasse, mas valeu a pena esperar.

Valtteri Bottas

Valtteri Bottas, sobre a primeira vitória na F1

Como estamos atrás do Bottas?

Kimi Raikkonen

Kimi Raikkonen, antes de ser informado que Bottas era o líder

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Dedo da discórdia

Um incidente na parte final do GP da Rússia fez com que Felipe Massa e Sebastian Vettel se estranhassem. O alemão se irritou ao tentar ultrapassar o brasileiro no final – o piloto da Williams era retardatário, enquanto o da Ferrari estava em segundo.

Ao conseguir ultrapassar Massa, Vettel mostrou o dedo do meio para o brasileiro e perguntou no rádio "o que foi isso?". "Foi uma reclamação no calor do momento, mas ele me fez perder tempo", minimizou Vettel ao UOL Esporte.

Questionado sobre o incidente, Massa não se mostrou incomodado e apontou o próprio Vettel como responsável pela demora na ultrapassagem. "Eu deixei o lado direito para ele passar e ele que não quis ir. E acho que reclamar faz parte do trabalho dele", afirmou.

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Quem foi bem

AFP PHOTO / Johannes EISELE AFP PHOTO / Johannes EISELE

Kimi Raikkonen

Demorou um pouco para Kimi Raikkonen ter um bom final de semana nesta temporada, mas a performance do finlandês no GP da Rússia foi tudo o que a Ferrari estava esperando dele: mais confortável com o carro depois que o time fez mudanças no acerto, Kimi ficou a meio décimo de Sebastian Vettel na classificação e conseguiu se colocar entre o alemão e seu rival na luta pelo título, Lewis Hamilton. Após a prova, até o mau humor que tem marcado o ano do finlandês tinha desaparecido.

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Sebastian Vettel

Após os treinos livres de sexta-feira, o alemão ficou até por volta das 23h no circuito, reunido com os engenheiros, quando todos os demais pilotos do grid já tinham ido embora. O motivo era aproveitar a brecha que apareceu de surpreender em uma pista em que a Mercedes dominou nos últimos anos. E, mesmo com a derrota para Valtteri Bottas, Vettel acabou saindo de Sochi no lucro, abrindo 13 pontos para Hamilton, após mais um final de semana sem erros.

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Force India

Os pilotos saíram de Sochi sem saber se foi uma questão de adaptação à pista, mas a Force India teve uma performance superior às das corridas anteriores, começando pela classificação, que vinha sendo o "calcanhar de Aquiles" do time até aqui. Na corrida, Sergio Perez e Esteban Ocon ficaram na zona de pontuação por toda a prova e conseguiram até deixar a Williams em alerta. O time, que está em quarto no mundial de construtores, promete melhoras para a próxima etapa, na Espanha.

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Pneu furado complica Massa

Felipe Massa esperava aproveitar que a Williams se deu bem com o circuito de Sochi para lutar com as Red Bull, mas acabou apenas com o nono lugar. O plano vinha dando certo na classificação, quando o brasileiro se colocou entre Ricciardo e Verstappen, porém na corrida ficou claro que o carro rival tinha ritmo melhor.

Assim, o piloto vinha fazendo uma corrida até solitária em sexto, com ritmo superior à Force India, quando teve um furo no pneu e fez uma segunda parada que não estava nos planos, perdendo posições. Com isso, o nono lugar acabou deixando Massa no lucro. 

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Galvão cita Bottas para defender Massa

A boa largada e atuação de Valtteri Bottas no GP da Rússia serviram para Galvão Bueno mandar um recado aos críticos de Felipe Massa. Durante as primeiras voltas, o narrador usou o tempo para valorizar o desempenho do brasileiro quando tinha o finlandês como seu companheiro de equipe.

“O Bottas mostrando o que é serve muito aos detratores do Felipe Massa. Principalmente aqueles que às vezes nas redes sociais – temos, infelizmente, um certo número daqueles que não tem educação e nem ali deveriam estar. Acho muito bom que esteja acontecendo isso, porque foram dois anos que eles estiveram ali, juntos, de igual para igual, dividindo posições, pontos, levando a Williams à terceira colocação”, iniciou Galvão.

“Aos detratores de plantão do Felipe Massa, lembrem-se dos últimos anos o que aconteceu com o Massa e o que já está fazendo o Valtteri Bottas, que é bom demais”, completou.

Quem foi mal

REUTERS/Maxim Shemetov REUTERS/Maxim Shemetov

Jolyon Palmer

Já virou uma tradição apontar Jolyon Palmer como um dos piores do GP. Afinal, o inglês claramente está um nível abaixo de seus competidores e continua cometendo muitos erros mesmo não sendo mais um novato. Na Rússia, Palmer bateu na classificação e reconheceu o equívoco que o fez largar (bem) atrás do companheiro Nico Hulkenberg pela quarta vez em quatro provas. E sua corrida não durou mais de uma curva após batida com Romain Grosjean.

AP Photo/Pavel Golovkin AP Photo/Pavel Golovkin

McLaren

O time tem mesmo que virar notícia por ações ousadas como levar Fernando Alonso para as 500 Milhas, porque na pista está complicado. Na corrida, o espanhol sequer largou, com problemas técnicos, enquanto Stoffel Vandoorne terminou apenas na frente das duas Sauber. Pelo menos a Honda promete melhoras para o GP da Espanha.

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Lewis Hamilton

O inglês não se encontrou em nenhum momento durante o final de semana e reconheceu após a prova que o melhor que aconteceu na Rússia foi a corrida acabar. E não houve um motivo especial: ele simplesmente não conseguiu acertar o carro de maneira que fizesse os pneus funcionarem na janela de temperatura correta. Para piorar, Valtteri Bottas foi bastante superior e restou a Hamilton esperar que as coisas voltem ao normal em Barcelona.

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Opinião: Mundial de 2017 é um "déjà-vu" de 2007?

Nas duas primeiras corridas, o script foi perfeito: enquanto Lewis Hamilton se preocupava com a ameaça de Sebastian Vettel com a Ferrari, Valtteri Bottas somava mais pontos em outra luta importante para a Mercedes: a do Mundial de Construtores. Mas nas últimas duas provas, e especialmente neste domingo na Rússia, o time alemão começou a entrar em um território mais complicado.

Ainda na quinta-feira, Hamilton foi questionado se não temia um repeteco de 2007, quando ele e Fernando Alonso tiraram pontos um do outro dentro da McLaren e acabaram perdendo o campeonato para Kimi Raikkonen, da Ferrari. O inglês disse que não se lembrava daquele campeonato, mas depois de ver Bottas não apenas vencer, mas tendo um desempenho muito superior em Sochi, é melhor ele refrescar sua memória.

O GP da Rússia foi incomum para Hamilton, que não conseguiu entender como tirar o melhor rendimento dos pneus, e nada impede que ele volte a andar na frente de Bottas na próxima corrida, em Barcelona. Mas a evolução do finlandês tem sido clara e seus números, pelo menos em classificação, já são melhores do que as médicas de Hamilton contra seu ex-companheiro Nico Rosberg.

O chefe da Mercedes, Toto Wolff, celebra a relação dos dois e diz que a equipe funciona muito melhor internamente do que nos tempos de Nico. Mas a tabela do campeonato mostra um Sebastian Vettel com 13 pontos de vantagem, enquanto Hamilton e Bottas estão separados por apenas 10. E ter um inimigo externo é a maior ameaça à paz interna que o time alemão poderia ter.

O que o UOL viu

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Diversão no avião

Sochi é uma das corridas em que os pilotos que moram em Mônaco alugam um avião, devido às conexões complicadas do aeroporto de Nice à cidade russa. Aliás, um dos motivos que fizeram os pilotos lamentarem a aposentadoria de Rosberg foi porque era ele quem organizava esses voos. Mas isso acabou não sendo um problema. No voo lá estava Max Verstappen com sua inseparável maleta com o PlayStation, o que animou a viagem de Daniel Ricciardo e Felipe Massa. Estaria o trio brincando com simuladores de corrida? Nada disso: o favorito é Fifa.

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Nova tatuagem de Kimi

Kimi Raikkonen apareceu com uma nova tatuagem no antebraço em Sochi, com o rosto de seu filho. Ficou no mínimo uma composição interessante com o antigo tribal com a palavra Iceman (Homem de gelo, em inglês) que ele tem no mesmo braço. Kimi, inclusive, se prepara para a chegada de seu segundo bebê com a esposa Minttu. Dessa vez, será uma menina.

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