Vettel com a preferência

Jogo de equipe da Ferrari ajuda o alemão a vencer na Hungria e a abrir vantagem sobre Hamilton no campeonato

Julianne Cerasoli Do UOL, em Budapeste
AP Photo/Darko Bandic

Dois jeitos de vencer

A Ferrari já demonstrou várias vezes seu modus operandi: desde bem cedo no campeonato, escolhe o piloto ao qual dará a prioridade e faz o que for preciso para garantir que ele vai maximizar seus pontos. Isso mesmo quando uma vitória da equipe está ameaçada.

O GP da Hungria foi mais uma prova disso, com Kimi Raikkonen visivelmente mais rápido depois que Sebastian Vettel passou a ter problemas com sua direção, e sofrendo a pressão de Lewis Hamilton, em nenhum momento uma inversão foi cogitada, o que também é resultado da falta de possibilidades de ultrapassagem no circuito de Hungaroring.

Na Mercedes, uma postura bem diferente e até certo ponto surpreendente. O piloto que estava mais perto da ponta no campeonato, Lewis Hamilton, primeiro teve a chance de atacar as Ferrari quando a equipe ordenou que Valtteri Bottas lhe cedesse o terceiro lugar. E depois, como não conseguiu se aproximar o suficiente, devolveu a posição e três pontos ao finlandês, que estava com um ritmo inferior.

"Nós nos mantemos fiéis a nossos princípios e a nossa palavra", disse o chefe da equipe Toto Wolff.

Não é a primeira vez que a Mercedes acaba se colocando em uma posição complicada por tentar usar da maneira mais justa possível as sempre impopulares ordens de equipe. E, com Bottas andando sempre tão perto de Hamilton e se mantendo na briga pelo campeonato - a diferença atual entre os dois companheiros é de 19 pontos - não será a última vez que veremos duas maneiras de lutar pelo campeonato frente a frente.

Frases do GP da Hungria

Foi uma decisão difícil, porque na volta final o Botas já estava uns 7 segundos atrás, mas acredito que foi uma decisão correta. Eu pensei: 'será que eu arrisco desacelerar tanto e cair para quinto e perder ainda mais pontos no campeonato?' Foi uma decisão importante, mas acredito que foi o certo

Lewis Hamilton

Lewis Hamilton, piloto da Mercedes, sobre a troca de posição com Bottas

Eu já estava preocupado, mas eu agradeço ao Lewis por cumprir a promessa e devolver a posição no fim (...) Mas fico feliz que o combinado foi cumprido e só tenho a agradecer a Mercedes também

Valtteri Bottas

Valtteri Bottas, piloto da Mercedes, sobre a inversão com Hamilton na pista

Obviamente, foi um ótimo final de semana para todos nós. Foi uma corrida difícil, mas no final o resultado foi perfeito (...) Eu estava controlando a corrida e queria me certificar de que não acabaria com os pneus porque tínhamos um problema com o volante, ele estava pendendo para um dos lados basicamente por toda a corrida - e estava cada vez pior. Eu não conseguia ser muito agressivo porque não podia atacar as zebras. Não foi uma corrida fácil, mas ainda assim consegui ter um bom ritmo para ficar na frente e controlar a corrida

Sebastian Vettel

Sebastian Vettel, piloto da Ferrari, comentando a vitória na Hungria

Mais uma vez o piloto mais antidesportivo

Nico Hulkenberg

Nico Hulkenberg, piloto da Ranault, revoltado por ter sido fechado por Kevin Magnussen

Chupe minhas bolas

Kevin Magnussen

Kevin Magnussen, piloto da Haas, respondendo à crítica de Nico Hulkenberg

Descasando e me recuperando para a próxima corrida em boa companhia!

Felipe Massa

Felipe Massa, piloto da Williams, que viu a prova pela TV ao lado do filho após ser vetado para a corrida, em razão de tonturas na véspera

Quem brilhou

Zsolt Czegledi/AP Zsolt Czegledi/AP

Alonso homem-show

Aproveitando uma das poucas oportunidades da McLaren usar o rendimento de seu bom chassi sem ser atrapalhado pela falta de potência do motor Honda, devido às características do circuito de Hungaroring, Fernando Alonso conseguiu o melhor resultado possível para a equipe em Budapeste: um sexto lugar, atrás apenas das Ferrari, Mercedes e da Red Bull de Max Verstappen. Isso, com direito a uma grande ultrapassagem sobre Carlos Sainz e à volta mais rápida da prova.

AFP PHOTO / ANDREJ ISAKOVIC AFP PHOTO / ANDREJ ISAKOVIC

Sainz no limite

Carlos Sainz disse que a largada em que ganhou cinco posições foi "talvez a melhor da carreira". Depois disso, o espanhol jogou duro para se defender de Alonso, que estava mais rápido, e só foi superado após várias tentativas do espanhol, em uma briga bastante ferrenha e que chegou perto do limite em alguns momentos. Enquanto isso, com o mesmo carro da Toro Rosso, seu companheiro Daniil Kvyat se arrastava na briga pelas últimas posições.

Quem brigou

Mark Thompson/Getty Images Mark Thompson/Getty Images

Homem ou menino?

O sempre sorridente Daniel Ricciardo fechou a cara depois que seu companheiro Max Verstappen o tirou do GP da Hungria logo na segunda curva. O holandês vinha por dentro e tinha sido superado pelo australiano quando forçou demais na freada e escorregou para cima da outra Red Bull, que não continuou na corrida. "Veremos se ele vai reagir como alguém da idade dele ou como um homem", bradou Ricciardo. Depois de ser punido pela manobra e de chegar em quinto, Verstappen disse que "bater com o companheiro não é o ideal" e garantiu que conversaria com o australiano.

Reprodução Reprodução

Clima quente nas entrevistas

O clima esquentou entre Nico Hulkenberg e Kevin Magnussen após os dois tocarem na corrida, causando a punição do dinamarquês. Ainda descontente, o piloto da Renault procurou o colega na zona destinada às entrevistas e, com um tapinha nas costas de Magnussen, falou ironicamente para o piloto "continuar assim" e lhe deu os parabéns. O piloto da Haas não deixou barato: "Chupe minhas bolas", disse Magnussen, chamado de "o piloto mais antidesportivo do grid" por Hulkenberg. Depois, o alemão ainda foi classificado como "uma criança mimada" pelo chefe de Magnussen, Guenther Steiner.

Andrew Boyers/Reuters Andrew Boyers/Reuters

Mistério de Massa

Felipe Massa saiu da segunda sessão de treinos livres na sexta-feira direto dos boxes para o motorhome da Williams já acompanhado por médicos, não aparecendo para dar a entrevista marcada para logo após o treino. De lá, foi para o Centro Médico e logo foi encaminhado ao hospital.

No sábado, sentindo-se melhor, chegou a tentar voltar ao carro, mas não sentiu a mesma tontura do dia anterior e, bastante abatido, desistiu de disputar a prova. Ao UOL Esporte, o brasileiro negou categoricamente que estivesse sofrendo de uma labirintite viral e definiu seu mal-estar como "uma vertigem". Porém, médicos que o atenderam dizem o contrário.

Na pista, não havia muito o que o piloto pudesse fazer em um final de semana duro para a Williams devido às características da pista, e seu substituto Paul Di Resta, que pegou uma batata quente por nunca ter andado no carro deste ano até o início da classificação em Budapeste, largou em penúltimo e acabou abandonando com um vazamento de óleo.

Bastidores

Giampiero Sposito/Reuters Giampiero Sposito/Reuters

Ferrari sem mudanças

A dobradinha da Ferrari foi assistida pela chefia da empresa em Budapeste. E logo após a bandeirada, o presidente Sergio Marchionne acabou confirmando a permanência de Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen para o ano que vem, dizendo que o time "não vai mudar a dupla de pilotos". Perguntados sobre a confirmação, no entanto, nem Vettel, nem Raikkonen, quis afirmar que seguem na Scuderia.

AP Photo/Yong Teck Lim AP Photo/Yong Teck Lim

Mercado aquecendo

Ainda que tudo indique que as três maiores equipes, Mercedes, Ferrari e Red Bull, vão manter suas duplas de pilotos para a próxima temporada, o cenário está se agitando no meio para o final do pelotão. Quem assegurou isso em Budapeste foi um dos maiores negociadores do paddock na atualidade: Toto Wolff. O chefe da Mercedes também é responsável pelos contratos de motores e dos pilotos que estão no programa de desenvolvimento do time alemão, como Pascal Wehrlein e Esteban Ocon.

Juliane Cerasoli/UOL Juliane Cerasoli/UOL

Paddock estilo pub

Os novos donos do Liberty Media não param de trazer novidades para a área em que as equipes ficam instaladas em onde os VIPs e torcedores que pagam pacotes especiais são recebidos. Na Hungria, foram instalados uma mesa de ping-pong tradicional, uma em que, ao invés de raquetes, eram usados os pés e uma bola de futebol para jogar, um pebolim, um dardo e até um autorama. Nem é preciso falar o que fez mais sucesso.

Xinhua/Jure Makovec Xinhua/Jure Makovec

Opinião: a resposta da Ferrari

Depois da Mercedes ser superior em quatro pistas seguidas, passou a existir a dúvida se o time alemão já poderia ser considerado o melhor em qualquer tipo de condição. Mas a performance dominante da Ferrari em Budapeste mostrou que o time segue na frente nas pistas mais travadas, dando mais fôlego para o campeonato.

Mas a fase mais decisiva começa agora: os carros devem aparecer bastante diferentes na Bélgica, após a pausa de férias do verão europeu da F-1, de pouco menos de quatro semanas.

E é aí que começa praticamente um novo campeonato, com pontos positivos e negativos para ambas as equipes: para a Ferrari, pesa a favor a vantagem de 14 pontos de Vettel, mas há a preocupação com as punições por trocas de componentes de motor de inevitavelmente vão ocorrer - o alemão já está no quarto e último turbo ao qual tem direito.

E, na Mercedes, fica a dúvida de como lidar com o fato de Hamilton e Bottas estarem tirando pontos um do outro com mais frequência do que ocorre em Maranello, mas também é fato que, na guerra de desenvolvimento, são os alemães que estão levando o campeonato até aqui.

(Por Julianne Cerasoli)

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