Pista boa, corrida boa

Circuito chinês ajuda, Hamilton vence e Fórmula 1 mostra que pode ter ultrapassagens com novo regulamento

Julianne Cerasoli Do UOL, em Xangai (CHN)
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Festa, mas não só para Hamilton

Houve quem se apressasse a criticar o novo regulamento da Fórmula 1 após o GP da Austrália devido à falta de ação na pista. Só que a segunda etapa do campeonato, na China, mostrou que há tipos de traçado que só vão ganhar com os novos carros, demonstrando a real perícia dos pilotos.

A prova de Xangai esteve recheada de exemplos disso. A pista começou molhada, secando-se rapidamente, e as temperaturas baixas afetaram cada carro de uma forma, mas os dados ainda assim são significativos: depois de 5 ultrapassagens na Austrália, o GP da China teve 54. E apenas dez delas foram feitas com a ajuda da asa traseira móvel.

Não por acaso, as três primeiras colocações foram ocupadas por três dos mais talentosos pilotos do grid. Lewis Hamilton, da Mercedes, evitou os erros estratégicos da primeira etapa e teve uma vitória relativamente tranquila. A calma do inglês teve a ver com o azar de Sebastian Vettel, que tentou o pulo do gato ao ser um dos primeiros a trocar os pneus intermediários pelos de pista seca, mas acabou atrapalhado por um Safety Car acionado logo depois.

Tendo de se livrar do prejuízo sozinho, o alemão arregaçou as mangas e passou, um a um, Kimi Raikkonen, Daniel Ricciardo e Max Verstappen, que terminaria em terceiro. O holandês, aliás, foi outro dos nomes da corrida, ultrapassando nove carros na primeira volta, justamente quando a aderência é menor devido ao asfalto úmido, no melhor exemplo “quem sabe, faz ao vivo”.

Frases da China

Estava meio entendiado, então decidi bater roda com roda para deixar as coisas mais animadas

Daniel Ricciardo

Daniel Ricciardo, piloto da Red Bull, ironizando sobre a disputa com Vettel

Você deveria ver a cara do meu engenheiro quando disse que queria começar com pneu supermacio

Carlos Sainz

Carlos Sainz, piloto da Toro Rosso, que ousou e terminou em sétimo

As pessoas estavam começando a rodar aqui e ali e estávamos ganhando posições praticamente de graça. Foi uma das melhores coisas que me aconteceu

Fernando Alonso

Fernando Alonso, piloto da Mclaren, que voltou a andar bem e sofrer com o carro

Quando Vettel começou a se aproximar e a fazer tempos parecidos com os meus, eu pensei: 'Agora sim, isso que é corrida!'

Lewis Hamilton

Lewis Hamilton, piloto da Mercedes, comemorando a disputa com o alemão

Tive uma das melhores primeiras voltas da minha vida.

Max Verstappen

Max Verstappen, Piloto da Red Bull, que largou no fim e passou nove carros no início

Depois do Safety Car e com todo mundo de pneu slick parecia que eu estava guiando no gelo, não tinha aderência nenhuma.

Felipe Massa

Felipe Massa, piloto da Williams, que teve problemas com os pneus

Quem foi bem

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Sebastian Vettel

Forte quando teve pista livre, foi decidido no trato com as ultrapassagens difíceis que teve de fazer, contra um carro de sua própria equipe e sobre os rivais que estão imediatamente atrás em termos de velocidade. Não escondeu o sorriso após perceber que a Ferrari está competitiva mesmo no frio e em curvas de alta velocidade, que ajudam a Mercedes.

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Carlos Sainz

Tomou a arriscada decisão de largar com pneus de pista seca, comeu o pão que o diabo amassou nas primeiras curvas, mas se segurou e acabou lucrando com a decisão, chegando em sétimo depois de ter largado em 11º. Não é de hoje que o piloto espanhol aparece bem em corridas mais complicadas.

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Kevin Magnussen

Dinamarquês da Haas foi um dos destaques do meio do pelotão. Sem um dos melhores carros do grid, saltou da 12ª para a oitava colocação, à frente de nomes como Felipe Massa e sua Williams e rivais diretos como Renault, Force India e Sauber.

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Alonso brilha, segura Bottas, mas sofre com Mclaren

Fernando Alonso, mais uma vez, foi um dos destaques do GP. Como já havia acontecido na Austrália, o espanhol superou as limitações da sua McLaren e, enquanto esteve na pista, brigou por pontos e chegou a encarar equipes de ponta.

Em dado momento, segurou Bottas e sua Mercedes por duas ou três voltas, em uma experiência que ele mesmo descreveu como “surreal”. O problema é que o carro deixou o espanhol na mão. Com problemas mecânicos, ele teve de abandonar e é um dos dois pilotos do grid que ainda não pontuaram após duas corridas.
 

Quem foi mal

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Valtteri Bottas

O finlandês não conseguia esconder a frustração consigo mesmo após o fim da prova. Afinal, um erro, raridade na carreira do piloto. lhe custou muito tempo e impediu um segundo pódio consecutivo que deveria ser fácil. É a pressão de pilotar uma Mercedes: sexto lugar é pouco.

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Kimi Raikkonen

Teatro ferrarista à parte, a performance de Raikkonen provocou a reação imediata do presidente Sergio Marchionne, que disse querer conversar com o finlandês sobre seu desempenho. Claro que não ajudou o fato da Ferrari ter postergado ao máximo sua segunda parada, mas não deveria perder das duas Red Bull. Pode muito mais.

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Nico Hulkenberg

Não é a primeira vez na carreira que Hulk tem uma grande chance de mostrar serviço e não consegue. A aparente ânsia em se aproveitar a situação acaba gerando situações como a da China, em que levou duas punições seguidas, somando 15s no total, por ultrapassar sob Safety Car e Safety Car Virtual.

AP Photo/Mark Schiefelbein e AP Photo/Andy Wong, Pool AP Photo/Mark Schiefelbein e AP Photo/Andy Wong, Pool

Mesma reta, duas batidas

Com Pascal Wherlein ainda lesionado por conta de um acidente no começo do ano, o italiano Antonio Giovinazzi segue ganhando oportunidades na Sauber. Na China, ele não só decepcionou como ainda deu prejuízos à escuderia. O novato conseguiu a façanha de bater no mesmo lugar, a reta dos boxes, no treino de classificação e durante a corrida. 

Como foi o brasileiro?

O objetivo de Felipe Massa com a Williams é ficar entre a Red Bull e o pelotão de trás. Assim sendo, o brasileiro cumpriu sua meta na classificação do GP da China. Na corrida, contudo, as coisas foram de mal a pior para o piloto: Massa sofreu com a falta de aderência nas primeiras voltas e perdeu oito posições.

Na tentativa de recuperar-se, a Williams ousou na estratégia, antecipando a parada do piloto, e se deu mal: Massa não conseguiu se manter na pista tanto quanto precisava para fazer a tática funcionar, e acabou tendo de voltar aos boxes, terminando em uma decepcionante 14ª colocação.

O que o UOL viu nos bastidores

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Snap Live

Os novos donos da Fórmula 1, do grupo Liberty Media, tiveram de enfrentar sua primeira grande crise por conta do clima ruim. E se saíram bem: Com mais liberdade aos pilotos, o momento mais marcante dos treinos livres foi quando Lewis Hamilton fez uma transmissão ao vivo na sessão que acabou não acontecendo porque o helicóptero médico não tinha como pousar no hospital designado.

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Clareza

Os problemas da sexta causaram uma reunião de emergência para determinar o que seria feito dali em diante, com a proposta de fazer a corrida no sábado chegando a ser discutida. Sem chegar a um acordo, os dirigentes decidiram se certificar de que o mesmo não aconteceria no domingo ao garantir que uma equipe completa de neurocirurgiões ficaria à espera de possíveis feridos em um hospital mais próximo, que poderia ser acessado por terra.

Mark Thompson/Getty Images Mark Thompson/Getty Images

Cartão amarelo

Se há algo com que a Fórmula 1 toma cuidado é com seus horários. E quem viu isso de perto no domingo em Xangai foram Daniel Ricciardo e Sergio Perez. Os dois receberam uma reprimenda por terem chegado atrasados à execução do hino da China antes da largada. E engana-se quem acha que isso não pode gerar complicações mais sérias: três reprimendas durante a temporada fazem o piloto perder 10 posições no grid de largada.

Opinião

No papel, era para a Mercedes ter levado o GP da China com certa facilidade. Afinal, o carro mais longo em relação à Ferrari deveria lidar melhor com as curvas de raio longo e alta velocidade do traçado de Xangai, além das as baixas temperaturas.

Mas o que se viu foi uma Ferrari muito próxima e, não fosse o azar na estratégia, uma vitória de Sebastian Vettel era uma ameaça real. Prova disso é que o alemão perdeu, só atrás do companheiro Kimi Raikkonen, cerca de 6s5 em relação a Hamilton, recuperando as posições perdidas pela tática ruim. E cruzou a lina de chegada com uma desvantagem semelhante a isso.

O desempenho de Ferrari e Mercedes na China só serviu para aumentar ainda mais a expectativa em relação ao GP do Barhrein: com calor e em um traçado mais travado, era de se esperar uma Ferrari bem forte. Depois do desempenho de Xangai, mais ainda.- Julianne Cerasoli, correspondente de Fórmula 1 do UOL.

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