A contratação que mais deu o que falar na janela de transferências do verão europeu, encerrada nesta sexta-feira (31), serve de exemplo para uma característica marcante das movimentações dos clubes em busca de reforços para a temporada 2018-19: a aleatoriedade.
Quem cogitaria que Cristiano Ronaldo deixaria o Real Madrid após um tricampeonato de Liga dos Campeões? Não que a Juventus não esteja à altura do melhor jogador do mundo, pelo contrário. Mas imaginar CR7 encerrando a carreira na Espanha era mais esperado do que vê-lo em ação no Campeonato Italiano.
Nesse período de vaivém do mercado, o melhor goleiro da última Copa do Mundo, o belga Courtois, custou menos da metade do que o Chelsea gastou para suprir a saída dele com o "desconhecido" espanhol Kepa: 80 milhões de euros (R$ 377 milhões). Iniesta trocou a idolatria no Barcelona pelo futebol do Japão. E Ganso, ainda tentando mostrar o seu valor na Europa, vai desembarcar num time pequeno da França.
Da surpresa ao absurdo, essa janela gerou transferências que pareciam mais fáceis de acontecer no videogame do que no futebol real.
Maior artilheiro da história do Real Madrid, com 451 gols, e 16 títulos conquistados em nove temporadas. Cristiano Ronaldo virou uma extensão da história do clube espanhol, e vê-lo com outra camisa parecia tão improvável quanto Lionel Messi deixar o Barcelona. Quando surgiram as primeiras pistas de conversas com a Juventus, poucos acreditaram que o heptacampeão italiano teria cacife para tanto. Teve. A Juve pagou 117 milhões de euros (R$ 553 milhões) e concretizou a negociação mais bombástica e surpreendente dessa janela. Pesou também a relação desgastada de CR7 com a diretoria, após cobranças públicas por uma valorização salarial mais condizente com o seu status.
Eugene Hoshiko/AP A última coisa que se espera de um jogador com contrato vitalício com o Barcelona é que ele abra mãos dos privilégios de um ídolo para estender a carreira por mais alguns anos no futebol japonês. Até no videogame seria improvável de acontecer.
Liga Chinesa Ele trocou a China pelo Barcelona e foi titular do Brasil na Copa. Diante de vitrine tão ampla para chamar a atenção de outros clubes, Paulinho foi...para a China de novo. E por muita grana: R$ 236 milhões a serem pagos após período de empréstimo.
Das dez contratações mais caras desta janela de transferências, duas envolvem goleiros. E nenhum deles é Thibaut Courtois, eleito o melhor de sua posição na última Copa do Mundo, na Rússia. Ao forçar a saída do Chelsea, o belga de 26 anos custou ao Real Madrid bem menos do que teria potencial para gerar: 35 milhões de euros (R$ 165 milhões na cotação do dia). Uma pechincha, levando em conta que Kepa (R$ 377 milhões) e Alisson (R$ 295 milhões) movimentaram quantias recordes. Nem no videogame seria tão fácil negociar com um superastro no elenco gastando tão pouco em comparação com a realidade do inflacionado padrão europeu.
Liverpool/Divulgação A ida do suíço ao atual vice-campeão da Champions League tem um quê de aleatoriedade pois ele vinha de temporada ruim pelo Stoke City, rebaixado na Inglaterra. A Copa o ajudou a recuperar visibilidade para, enfim, deixar de ser eterna promessa.
Shaun Botterill/Getty Images Titular da seleção de Portugal e livre no mercado, o goleiro teria espaço em muitos elencos nobres do futebol europeu que estavam atrás de reforços para a posição, mas Rui Patrício optou pelo clube recém-promovido à primeira divisão da Inglaterra.
A saga de Paulo Henrique Ganso, 28 anos, para ter o seu talento reconhecido também na Europa ganhou um novo e inesperado capítulo. Há tempos encostado no Sevilla e fora dos planos do técnico Pablo Marchin para esta temporada - e pouco interessado em retornar para o futebol brasileiro -, o meia revelado pelo Santos foi emprestado ao modestíssimo Amiens, atual 14º colocado do Campeonato Francês e candidato a brigar contra o rebaixamento, sacramentando uma das transferências mais aleatórias dessa janela. A menos que não se adapte ao clube, na teoria ele receberá mais minutos em campo para mostrar serviço. Será que agora deslancha?
Henry Browne/Getty Images O meia marfinense chamou atenção com a camisa do Nice e quase assinou com o Barcelona na janela de janeiro. No fim das contas, foi parar no clube de Londres, que está de volta à primeira divisão inglesa. Custou 30 milhões de euros (R$ 141 milhões).
REUTERS/Bruno Kelly Destaque da Alemanha nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, o meia de 22 anos é visto com potencial para progredir e estava sem clube. Sem despertar atenção dos grandes europeus, optou por se transferir de graça para um clube mediano da Inglaterra.
A carreira no futebol europeu ainda não emplacou como o meia-atacante revelado pelo Atlético-MG gostaria. Após cinco temporadas com o Shakhtar Donetsk sem muito brilho, o clube ucraniano decidiu por não renovar contrato. Sem clube, Bernard foi disputado por clubes brasileiros, mas manifestou a intenção de seguir no exterior. Teve o nome cogitado no Chelsea, mas virou reforço do Everton, um dos clubes ingleses que mais investiram em reforços nesta janela, embora ele tenha vindo sem custos. Xodó do técnico Luiz Felipe Scolari na Copa do Mundo de 2014, Bernard agora mostrará a sua alegria nas pernas na Premier League.
