Quem define o melhor?

C. Ronaldo leva a Bola de Ouro da France Football, que se divorciou da Fifa após parceria de seis anos

Bruno Freitas, do UOL, em São Paulo
Divulgação/Real Madrid

Cristiano Ronaldo foi eleito pela revista France Football nesta segunda-feira (12) o melhor jogador do mundo em 2016. Ele chega, assim, à sua quarta Bola de Ouro, deixando para trás Cruyff, Platini e Van Basten com três - e ficando a uma do recordista e eterno rival Lionel Messi, que tem 5. 

A Bola de Ouro é um dos troféus mais tradicionais do futebol. Entre 2010 e 2015, o prêmio foi entregue em parceria da France Football com a Fifa, mas neste ano a revista francesa e a entidade voltam a premiar os melhores do mundo separadamente. A Fifa determinará quem foi o melhor de 2016 no próximo 9 de janeiro.

Ronaldo havia levado sua primeira Bola de Ouro em 2008, antes da unificação, ainda quando atuava pelo Manchester United, e em 2013 e 2014. Para conquistar seu quarto troféu, CR7 conquistou os dois principais campeonatos que participou: Liga dos Campeões pelo Real Madrid e a Eurocopa inédita por Portugal.

Foi o melhor ano da minha carreira a nível coletivo e individual. Conquistar um título com Portugal era algo que faltava no meu currículo"

ler mais

Afinal, qual vale mais?

Na verdade verdadeira nenhum dos dois, porque ambos se limitam à Europa e à amostragem dos ouvidos. Não me parece científica. Sem prejuízo de os resultados quase sempre serem corretos, por óbvios

Juca Kfouri

Juca Kfouri, blogueiro do UOL

Todo prêmio é subjetivo. Todos os rankings são subjetivos. O prêmio da Fifa tem colégio eleitoral maior, logo, mais democrático. Embora a votação aberta possa gerar distorções

Mauro Beting

Mauro Beting, blogueiro do UOL

O prêmio que o público levará mais a sério é o da Fifa, por conta da oficialidade dele. Mas, se você realmente quer saber quem são os melhores, é bom acompanhar a Bola de Ouro, que considera critérios técnicos

Rafael Reis

Rafael Reis, blogueiro do UOL

Nenhum deles. Os dois têm 22 candidatos iguais - a diferença é o Kanté. É preciso um jeito de incluir os cinco continentes na premiação, mesmo sabendo que a elite está na Europa. Os prêmios ficaram redundantes e incompletos. A vantagem da Fifa é ser oficial, o que agrava não alcançar o mundo todo. O da France Football foi para o melhor jogador da Europa

PVC

PVC, blogueiro do UOL

A Bola de Ouro. Antes de unificar o prêmio com a Fifa, tinha as escolhas mais técnicas, apesar do desprezo ao continente sul-americano. Talvez a dificuldade para assistir aos jogos naquele período impedisse, por exemplo, a eleição de Pelé. Tem que continuar privilegiando a qualidade técnica em detrimento da parte comercial, que parece ser a prioridade da atual concorrente

Vitor Birner

Vitor Birner, blogueiro do UOL

Sem dúvida a Bola de Ouro. Não por envolver jornalistas, mas porque é menos midiático e político que o da Fifa, com votos para os mais famosos ou nos amigos. Ou aberrações como Messi e CR7 não votarem um no outro. A análise é de desempenho naquela temporada e não pura e simplesmente quem é melhor, ou quem ganhou a Champions League

André Rocha

André Rocha, blogueiro do UOL

Vencedores bem diferentes

Fifa e France Football tiveram algumas "divergências" de opinião em seus prêmios paralelos, com vencedores diferentes em um mesmo ano. Curiosamente, em algumas destas temporadas em que não houve consenso, um brasileiro foi agraciado junto com um "gringo". Mas quem foi o melhor? 

Melhores de 94 jogavam juntos

Ormuzd Alves/Folhapress Ormuzd Alves/Folhapress

Romário

Em 1994, Romário foi o grande herói da conquista da seleção brasileira na Copa do Mundo nos Estados Unidos e ficou com o prêmio da Fifa. O atacante também havia ganhado o Campeonato Espanhol pelo Barça e levado o time à final da Liga dos Campeões

Reprodução Reprodução

Hristo Stoichkov

Mas a France Football viu outro jogador como o melhor do mundo, Stoichkov, que jogava com Romário no Barcelona e conseguiu as mesmas marcas coletivas que o Baixinho no time. O búlgaro ainda foi quarto colocado na Copa, uma façanha inédita para seu país

Máquina de gols x volante-craque

AP Photo/Denis Doyle AP Photo/Denis Doyle

Ronaldo

Em 1996, o prêmio da Fifa reconhecia o talento precoce de Ronaldo, que vinha assombrando o mundo com gols, como aquele da famosa arrancada contra o Compostela, pelo Barcelona. O atacante começava a erguer a reputação de "Fenômeno", mas ficou apenas em 2º lugar na Bola de Ouro

AP Photo/Michael Latz AP Photo/Michael Latz

Matthias Sammer

O vencedor do prêmio da France Football em 1996 foi o volante alemão Matthias Sammer, na época jogador do Borussia Dortmund. Meio-campista técnico, Sammer neste ano conquistou o bicampeonato da Bundesliga, além da Supercopa da Alemanha. Também triunfou pela seleção de seu país na Eurocopa

Fantasia na Fifa, troféus na revista

AFP AFP

Ronaldinho

Em 2004 era a vez de Ronaldinho espantar o mundo do futebol e ficar com seu primeiro prêmio da Fifa. Mas, na eleição da France Football, o ídolo acabou somente em 3º lugar. Apesar do bom momento no Barcelona, neste período os troféus ainda não haviam chegado - eles viriam só no final daquela temporada

AP/Paolo Giovannini AP/Paolo Giovannini

Andriy Shevchenko

O atacante ucraniano foi o vencedor da premiação da revista France Football, à frente do luso-brasileiro Deco e de Ronaldinho. Neste ano, Andriy Shevchenko foi campeão do Italiano e da Supercopa da Itália. De quebra, ainda conseguiu pela segunda vez na carreira a artilharia da Série A.

Os "Bolas de Ouro" desconhecidos

Florián Albert - Hungria (1967)

Muito antes de Adriano, o húngaro carregava o apelido de "Imperador", descrito como um dos mais elegantes jogadores de todos os tempos. Neste ano, o atacante do Ferencváros ganhou o campeonato nacional, festejou o nascimento de um filho e superou o inglês Bobby Charlton na Bola de Ouro da France Football.

Oleg Blokhin - U. Soviética (1975)

Superar Beckenbauer e Cruyff não é façanha pequena. O goleador do Dynamo de Kiev conseguiu essa marca na Bola de Ouro, bem no ano em que brilhou na conquista da extinta Recopa da Uefa, com gol decisivo na final contra o Ferencváros. Blokhin jogou duas Copas pela União Soviética, em 1982 e 1986

Allan Simonsen - Dinamarca (1977)

Primeiro dinamarquês vencedor da Bola de Ouro, o atacante brilhou com as camisas de Borussia Mönchengladbach e Barcelona. Pelo time alemão, anotou um golaço na final da Copa dos Campeões de 1977, mas seu time foi derrotado pelo Liverpool. É o único a marcar em jogos finais de Copa dos Campeões, Copa da Uefa e Recopa.

Igor Belanov - U. Soviética (1986)

Este foi o grande ano da carreira de Diego Maradona, mas a Bola de Ouro ficou com o habilidoso meia soviético - seguido do inglês Gary Lineker e do espanhol Emilio Butrageño. Nesta temporada, Belanov foi considerado o principal destaque do Dynamo de Kiev na decisão da Recopa da Uefa, em vitória sobre o Atlético de Madri.

Reprodução Reprodução

Revista nivela Brasil e Inglaterra

Quando resolveu dar a Bola de Ouro de 1995 a George Weah, um craque vindo da África, a France Football enfim abria seus horizontes para além da Europa – após quatro décadas de reverência interna. Mas, mesmo assim, uma potência global como o Brasil continua apenas como uma força média na história da premiação.

O Brasil tem cinco títulos da Bola de Ouro, com quatro jogadores diferentes: Ronaldo (1997 e 2002), Rivaldo (1999), Ronaldinho (2005) e Kaká (2007). Desta forma, o país está no mesmo patamar que a Inglaterra, que também ganhou em cinco oportunidades, com quatro representantes (Stanley Matthews, Bobby Charlton, Kevin Keagan e Michael Owen).

A história da Bola de Ouro aponta o futebol brasileiro como 4º colocado, atrás de Alemanha e Holanda (7 títulos, cada) e França (6 prêmios). Só depois aparece o Brasil, junto com Itália e Inglaterra. 

Achim Scheidemman/EFE Achim Scheidemman/EFE

Mas Brasil reina no prêmio da Fifa

Mesmo com a seca de quase dez anos sem “melhores do mundo”, o Brasil se mantém como a nação mais vencedora na história da premiação da Fifa. Somando as duas fases da eleição, organizada só pela entidade (1991-2009) e parceria com a France Football (2010-2015), os brasileiros já ganharam 8 vezes.

Os brasileiros ganhadores na Fifa

  • Ronaldo

    O Fenômeno levou em 1996, 1997 e 2002

    Imagem: Reprodução
  • Ronaldinho

    O craque do Barça foi o melhor em 2004 e 2005

    Imagem: Reprodução
  • Romário

    O Baixinho foi "o cara" em 1994, ano do tetra

    Imagem: Reprodução
  • Rivaldo

    O meia do Barcelona ganhou a disputa de 1999

    Imagem: Reprodução
  • Kaká

    O meia levou o último prêmio do país, em 2007

    Imagem: Reprodução

Messi e CR7 ganham de qualquer jeito

Faturar a Bola de Ouro da France Football, o prêmio da Fifa de melhor do mundo e, como se não bastasse, a versão mista que uniu as duas eleições por seis anos. Isso é uma façanha exclusiva dos dois melhores da atualidade: Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Os craques argentino e português ganharam tudo, é verdade, mas foram beneficiados por jogar em alto nível justamente no mesmo período em que essa união aconteceu. 

Em 2009, Messi ganhou o prêmio da Fifa e também a Bola de Ouro. Depois, o ídolo do Barcelona conquistou a versão unificada dos prêmios em quatro edições (2010, 2011, 2012 e 2015).

O português, por sua vez, faturou os prêmios da Fifa e da France Football em 2008. Mais adiante, Cristiano Ronaldo ainda ganhou a versão unificada das eleições em 2013 e 2014. E, agora, chega a sua quarta Bola de Ouro em 2016. 

AP AP

Goleiros jamais venceram na Fifa

Ainda há de chegar o dia em que um goleiro será o melhor do mundo, pelo menos segundo a Fifa. Desde que a premiação foi criada, alguns jogadores da posição estiveram próximos, mas nunca chegaram ao topo. O alemão Oliver Kahn foi o primeiro deles – falhou na final da Copa de 2002 contra o Brasil e acabou em segundo lugar naquele ano, atrás justamente do algoz Ronaldo.

Outro goleiro alemão brilhou em Copas, mas não conseguiu o prêmio da Fifa. Manuel Neuer foi campeão mundial, mas individualmente ficou em terceiro lugar na eleição de 2014, atrás do português Cristiano Ronaldo e do argentino Messi.

Já na premiação da France Football, apenas um goleiro foi eleito o melhor do futebol. O cultuado Lev Yashin ganhou a Bola de Ouro de 1963, à frente do italiano Gianni Rivera e do inglês Jimmy Greaves. Conhecido como "Aranha Negra", em razão de seu uniforme de jogo, o camisa 1 da União Soviética e do Dynamo Moscou marcou época na década de 60, com defesas plásticas e muito reflexo. Para analistas europeus, o soviético revolucionou a posição ao oferecer aos goleiros um caráter mais atlético de preparação. 

Reprodução Reprodução

Eles jamais foram premiados

Nem Pelé, nem Maradona. Os dois maiores jogadores de futebol do século 20 nunca tiveram um prêmio de "melhor jogador do ano" para chamar de seu. Na época em que o Rei era profissional, a eleição da France Football ignorava tudo que acontecia fora da Europa. Por sua vez, Dieguito só teve essa oportunidade no trecho final de carreira, mas acabou comprometendo a própria sorte.     

No ano em que fez o mundo sonhar com jogadas na Copa, Maradona foi desprezado pelo prêmio da France Football. O Mundial ocorreu no México, longe do foco europeu da revista. Desta forma, o melhor de 1986 foi o soviético Igor Belanov, campeão da Recopa da Uefa pelo Dynamo Kiev. O argentino também deu azar, já que o prêmio da Fifa ao melhor jogador do mundo foi criado em 1991. Na prática, o último grande momento da carreira do craque acontecera  um ano antes, em 1990, com a conquista do bicampeonato italiano com o Napoli, numa disputa de tirar o fôlego com o Milan. Além, claro, do vice na Copa – a mesma em que ajudou a eliminar o Brasil com um lance fantástico.

Depois, envolvido em problemas com doping, drogas e idas e vindas dos gramados, Maradona teve brilhos apenas esporádicos em campo. O ídolo nunca mais conseguiu uma regularidade técnica e física. Assim, jamais chegou a ser considerado seriamente pelo prêmio da Fifa durante a década de 90, até o desfecho de sua carreira, em 1997.

Curtiu? Compartilhe.

Topo