Porco nobre

Antes de deixar a presidência, Paulo Nobre fala de polêmicas, bastidores do clube e erros e acertos da gestão

Diego Salgado e José Edgar de Matos Do UOL, em São Paulo
Leonardo Soares/Uol

‘Nem tudo são flores’. Por pelo menos três vezes durante mais de 1h30 de conversa com a reportagem do UOL Esporte, Paulo de Almeida Nobre, 48 anos, repetiu o popular ditado para contar sobre as dificuldades na presidência do Palmeiras, clube com mais de 16 milhões de torcedores.

A uma semana de deixar a cadeira mais alta da diretoria, Nobre não se escondeu. Em processo de desmontagem da sala ocupada nos últimos quatro anos – os porquinhos de diversos tamanhos espalhados pelo local deixarão o lugar -, o presidente abandonou o discurso pronto e ensaiado.

As dificuldades, os erros assumidos e até a opinião sobre o atual momento político conturbado do país. Paulo Nobre não fugiu das perguntas. Os espinhos encontrados e as vitórias pessoais de quem ‘não tira o pé da dividida fora de campo’, como gosta de se auto afirmar, se encontram nesta entrevista logo abaixo.

Rogério Cassimiro/UOL Rogério Cassimiro/UOL

"Não sou Florentino ou Abramovich"

Criticado por emprestar dinheiro do próprio bolso ao clube, foram cerca de R$ 100 milhões desde 2013. Paulo Nobre disse que não se vê como um "Mecenas" do Palmeiras. O presidente palmeirense ainda declarou que recebeu outro apelido. "Tem um outro: agiota. Essa escutei outro dia, que sou um agiota", disse, insatisfeito.

"Eu apenas viabilizei uma reestruturação financeira que o Palmeiras conseguiu pegar um dinheiro que ninguém conseguiria no mercado, só banco. Eu não sou o Florentino Pérez (Real Madrid) ou o Abramovich (Chelsea), sou só o Paulo Nobre, um palmeirense fanático e com condição financeira que me permitiu dar esta ajuda do clube", afirmou.

De acordo com Nobre, o clube atravessava uma grave crise financeira quando ele assumiu o Palmeiras. "Comecei eu a aportar dinheiro para a roda não parar de rodar, para pagar luz, pagar água, pagar o jardineiro. É importante o palmeirense saber que o dinheiro aportado não foi para montar um time. O Palmeiras não tinha dinheiro para pagar a conta de luz, a conta de água, o cloro da piscina, o jardineiro, o jogador. Então quer dizer, se a roda para de rodar não se consegue mais nada. Foi um trabalho de reestruturação".

Nobre vê erros com Kardec e Barcos, mas não se arrepende

Marcello Zambrana/AGIF Marcello Zambrana/AGIF

Chapéu de Dudu: "back to the game"

Em janeiro de 2015, o Palmeiras surpreendeu ao anunciar a contratação do meia-atacante Dudu, alvo de uma disputa pública entre Corinthians e São Paulo. A ação da diretoria palmeirense logo ganhou o nome de "chapéu", pelo fato de ter deixado os principais rivais para trás.

Segundo Paulo Nobre, o acerto com o camisa 7 foi uma espécie de aviso aos clubes, como um ressurgimento após a campanha ruim no Brasileirão 2014. "O Dudu foi o símbolo do 'estamos de volta no jogo, back to the game'. Pegou todo mundo desprevenido. Muitos palmeirenses comemoraram aquilo como se fosse um gol, um título até".

O presidente ainda deu detalhes da força-tarefa para trazer o jogador. A operação durou menos de 48 horas e até uma ligação para o então presidente do Corinthians, Mário Gobbi, foi feita. "O Mattos veio na minha sala e falou que existia a possibilidade de contratar o Dudu. Eu perguntei se dava e ele falou que dava para trazer exatamente nas mesmas condições que o Corinthians traria. E o Corinthians já tinha desistido do negócio. Aí eu liguei para o Mário Gobbi. Perguntei se o clube tinha desistido do Dudu. Ele me disse que tinha desistido. Eu falei: 'desistiram mesmo? Eu vou entrar'", afirmou. Dois dias depois, Dudu estava contratado. 

Cesar Greco/Ag Palmeiras Cesar Greco/Ag Palmeiras

Gratidão, sintonia e fome

A primeira contratação do segundo mandato de Nobre foi de um dirigente. Alexandre Mattos, diretor de futebol do Cruzeiro nos anos do bicampeonato brasileiro, chegou ao Palmeiras com status de estrela.

”Fico muito grato de ele ter saído de um time que era bicampeão brasileiro, na Libertadores, numa situação extremamente cômoda para ele. Ele tem uma característica que também tenho e admiro em todo profissional. Ele tem fome. O Mattos não está onde está à toa. Esse jeito do Mattos realmente deu muita sintonia comigo. Eu acho que o Mattos foi absolutamente fundamental para esse sucesso que tivemos. Ele é muito bom no que ele faz".

No primeiro ano, o cartola contratou 25 jogadores. Na atual temporada, foram mais 16 atletas, incluindo o trio Raphael Veiga, Hyoran e Keno, cujos acertos se deram na reta final do Campeonato Brasileiro. "O Cuca só veio graças à grandeza do Palmeiras e à habilidade do Mattos. [...] Meu amigo, quando o Mattos entra na história é complicado dizer não...", afirmou o dirigente.

Presidente sem "papas na língua"

Ultimamente a gente rezava muito! O que adianta? A gente notifica eles (WTorre)...o que a gente tem de notificação com eles é uma coisa tão absurda, tão gigantesca! Depois do show da Katy Perry fui eu e o Alexandre Mattos ver como estava sendo a retirada das placas para ver o estado do gramado. Fomos barrados.

Nobre, sobre o gramado do Allianz Parque

Tenho profundo respeito pelos patrocinadores, porque investem no clube e sou grato. Sempre me senti muito ofendido quando qualquer um não teve respeito com a marca da Sociedade Esportiva Palmeiras sobre qualquer circunstância.

Nobre, sobre a Crefisa

Você tem dois cachorros em casa que você criou desde filhotes; eles te adoram, se eles brigarem e você entrar no meio, eles vão te morder. O ódio de um cachorro é tão grande quando briga contra o outro que eles nem percebem. Esses imbecis estão brigando uma facção com outra, a honra da facção é tão grande que eles nem estão pensando se vão prejudicar o clube.

Nobre, sobre as organizadas

WTorre e a câmera no camarote

Romantismo barato

Paulo Nobre deixa a presidência do Palmeiras diante de um embate direto com a maioria dos torcedores. O fechamento das ruas em torno do Allianz Parque recebeu críticas após limitar o acesso dos palmeirenses à atmosfera de reta final do Campeonato Brasileiro; a ação contou com a benção da diretoria desde antes mesmo de ser implantada.

“Sempre cobrei uma atitude dos poderes públicos. Temos a lei ao nosso lado e deixamos se transformar naquela balbúrdia que se tornou. A verdade é que aquilo se tornou uma milícia. Para poder trabalhar lá paga-se: cambista que não é da turma que apanha. [..] Virou uma terra de ninguém aquilo lá; e isso sou totalmente contrário”, disse.

“Acho que é muito romantismo barato falar: ‘pô, era mais legal antigamente, quando a gente sentava no cimentão; tomava sol, tomava chuva, podia comer meu hambúrguer dentro do estádio’. É romântico, eu vivi esta época, e ela não existe mais. [...] São outros tempos, até entendo os saudosistas, mas...paciência.”, opinou.

 

As metáforas de Nobre

  • Oposição interna

    Estávamos no mar precisando de uma boia e aquela meia-dúzia era uma bigorna. Todos os insatisfeitos se juntaram numa berraria. Mas os cães ladram e a caravana passa. Depois que a coisa deu certo, que começamos a colher os frutos.

  • Briga por audiência

    Quando tem uma oposição forte que você respeita, você fica muito mais ligado. É natural: quando tem um reserva a altura, você olha para o banco e fala "opa". Tenho certeza que Globo e Esporte Interativo irão se entender também.

  • Início pé no chão

    O tal remédio é amargo mesmo quando o paciente está doente. A gente fez muita obra por baixo da terra que não aparecia. Depois que é feito um alicerce, é possível construir. Eu entendo o palmeirense ter ficado amargurado nos dois primeiros anos. O palmeirense é como qualquer torcedor, mas ele ainda é mais engajado.

  • Sem grana

    O Palmeiras foi uma caixa d'água durante muito tempo que saiu mais água que entrou. Natural que uma hora ela seque. [...] Pegamos um terreno que estava com entulho, todo estragado, e limpamos, adubamos e semeamos. Eu não tinha dúvida nenhuma que iríamos colher frutos no futuro. Fico superfeliz de no meio do futebol que é tão dinâmico de os frutos serem colhidos logo no segundo mandato.

Por que erguer a taça do Brasileirão?

Friedemann Vogel/Getty Images Friedemann Vogel/Getty Images

Ele garante: Cuca voltará ao Palmeiras

Cuca irá voltar ao Palmeiras. Pelo menos é o que acredita Paulo Nobre, responsável por insistir no técnico para comandar a equipe nesta temporada de 2016. O presidente contou com a ‘lábia’ de Alexandre Mattos para demover o técnico da ideia de um retiro neste ano.

A mesma palavra de Cuca dada no início do compromisso se manteve neste final de ano. A ideia do treinador, desde o início, era permanecer apenas este ano para depois dedicar-se à família. Nem os pedidos da diretoria mobilizaram o campeão brasileiro.

“Conversamos e etc, mas o que acontece: nós temos de respeitar a vida particular dos profissionais. Ele já havia falado para a gente que preferia vir em 2017. [...] Quando fizemos o contrato de um ano já era o combinado; e o combinado não sai caro”, disse Nobre.

“Precisamos saber respeitar. Logico que se tivesse alguma mudança, mas, garanto: foi a primeira vez que o Cuca dirigiu o Palmeiras, mas está longe de ser a última vez que ele dirigirá o Palmeiras. Cuca irá dirigir muitas vezes o Palmeiras”, aposta o presidente palmeirense.

O que eu acho de...

  • Lula

    Uma pessoa que atingiu o seu objetivo de chegar à presidência, mas que, pelo que se noticia, não sou o julgador, se perdeu um pouco nisso tudo.

    Imagem: Rahel Patrasso/Xinshua
  • Michel Temer

    Uma pessoa que está tentando acertar, mas que tem que ver até quando não tenha o rabo preso com tudo isso o que está acontecendo.

    Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
  • STJD

    Que siga tomando medidas severas para melhorar a violência do futebol, mas faça alguma coisa que não prejudique os clubes e vá direto nas pessoas que prejudicam o futebol.

    Imagem: Pedro Ivo Almeida / UOL
  • Andrés Sánchez

    Conheci o Andrés antes de virar presidente, sempre tive um bom relacionamento com ele. Acho uma pessoa muito inteligente e um político muito habilidoso.

    Imagem: TV UOL
  • Sérgio Moro

    Uma pessoa corajosa e que até onde sei está tentando fazer o melhor trabalho pelo país.

    Imagem: Renato Costa/Estadão Conteúdo
  • Impeachment

    Posso falar que morri de vergonha de acompanhar quem são as pessoas que nos representam. Aquilo foi um circo, foi constrangedor.

    Imagem: Márcio Neves/UOL
  • Dilma Rousseff

    Foi muito mal.

    Imagem: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
  • Rede Globo

    Eu imploro para as pessoas assinarem o pay-per-view; não adianta ter raiva da Globo. [...] Os clubes têm que ser muito gratos à Globo, porque ela tinha as três vias de transmissão e sustentou o futebol por muito, muito tempo.

    Imagem: Divulgação
  • Carlos Miguel Aidar

    Um coitado.

    Imagem: Eduardo Anizelli-17.dez.2014/Folhapress
  • Marco Polo Del Nero

    Tenho relacionamento pessoal desde a adolescência, pois estudei com a filha dele. Uma pessoa que me trouxe para dentro do clube; uma pessoa que gosto muito.

    Imagem: Marcelo Sayão-22.out.2015/EFE

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