Por trás das câmeras

Bastidores do elenco campeão tiveram "nuvem negra" e estresse antes de clássico contra o Corinthians

José Edgar de Matos Do UOL, em São Paulo
Cesar Greco/www.fotoarena.com.br

Time driblou pedras no caminho "com emoção"

Nem tudo foi só alegria no caminho do Palmeiras para se tornar campeão brasileiro. Em meio à superioridade técnica, física e tática que mostrou durante todo o campeonato, o time precisou driblar algumas turbulências e a pressão emocional de um clube em jejum; afinal, eram 22 anos sem o principal título do futebol nacional.

O controle de algumas questões externas foi um ponto fundamental diante da grande expectativa da torcida e, por vários momentos, os casos extracampo ameaçaram atrapalhar o sonho palmeirense.

Susto causado por um acidente, problemas pessoais de jogadores, assédio sobre a grande estrela e desentendimentos não atrapalharam Cuca e elenco. Personagens inesperados e decisivos, como Jailson, e a empolgação da torcida, até em aeroporto, também marcaram a conquista palmeirense. Veja mais abaixo:

O parabéns de César Sampaio, Antônio Carlos e mais ídolos

As nuvens negras que clarearam

Vitor Silva/SSPress/Botafogo Vitor Silva/SSPress/Botafogo

Tensão no Rio

Por detalhes - ou toque divino, como Cuca observou -, o Campeonato Brasileiro do Palmeiras não foi marcado por uma tragédia. Antes da derrota por 3 a 1 para o Botafogo, em 31 de julho, um carro com três integrantes da delegação se envolveu em um grave acidente na Ilha do Governador. O fotógrafo César Greco e o analista de desempenho Gabriel Oliveira, filho do técnico corintiano Oswaldo de Oliveira, saíram ilesos. Já o supervisor de registros Artur Ramalho sofreu com as consequências da colisão: dias de internação e uma cicatriz grande na cabeça. A "nuvem negra" que rondou o Palmeiras saiu conforme avanço na recuperação do supervisor, que serviu como inspiração dentro do campo. Todos, sem exceção, se mobilizaram; este título tem uma dedicatória especial a Artur.

Reprodução Reprodução

Choro em Itaquera

Thiago Santos encarou duras semanas em virtude da doença do pai, Seu Antônio, novamente diagnosticado com câncer em 2016. A situação atingiu níveis dramáticos na semana do clássico contra o Corinthians, em Itaquera, no dia 17 de setembro, quando o alviverde vinha de um tenso empate contra o Flamengo. Horas antes do dérbi, a comissão técnica exibiu um vídeo especial com declarações de familiares dos atletas. Neste momento, a concentração baixou, e até mesmo os experientes se deixaram levar. Somente depois da categórica vitória sobre o arquirrival, Thiago Santos expôs a dor. As lágrimas comoveram os companheiros, que se direcionaram ao centro do gramado para abraçar o camisa 21, um dos mais queridos do elenco. Seu Antônio morreu dez dias depois do choro do filho.

Novo grito e "Aeroporco"

Torcida palmeirense criou novo grito pra embalar título: "beber até cair, o ênea vem aí"

A emoção em palavras

Passamos momentos muito difíceis aqui. Quase caímos, ai fomos para a segunda divisão e depois conquistamos a Copa do Brasil e o Brasileirão aqui. então eu sei um pouco do que o torcedor está sentindo. perdi o título olímpico, a chance de defender a seleção brasileira e o segundo turno. Mas trabalhei para poder estar aqui

Fernando Prass

Fernando Prass, Em sua luta contra os problemas físicos

Infelizmente foi meu último jogo aqui. Mas não é adeus, é um até logo. Tive que ir agradecer à torcida linda que sempre me apoiou e incentivou. Ouvi obrigado por tudo que fiz. Me agradeceram pela raça, vontade que tenho de ser campeão. Eu só peço uma coisa. Espero que vocês nunca se esqueçam de mim, que nunca vou esquecer vocês

Gabriel Jesus

Gabriel Jesus, Em campo, logo após a conquista do título

Os caras do título

  • Dudu

    Talismã na Copa do Brasil, Dudu assumiu um até então improvável papel de líder dentro do elenco do Palmeiras. Ainda aos 24 anos, o camisa 7 vestiu a faixa de capitão na ausência do lesionado Fernando Prass e cresceu de rendimento sob esta nova responsabilidade. Foi o 'Rei das Assistências'

    Imagem: Adriano Vizoni/Folhapress
  • Jean

    Um dos três membros do elenco com título brasileiro anteriormente - Egídio e Edu Dracena eram os outros -, Jean exibiu eficiência e polivalência na campanha palmeirense. Tanto na lateral quanto no meio-campo, o camisa 17 foi fundamental para a engrenagem montada por Cuca.

    Imagem: Divulgação/Palmeiras
  • Mina

    As dancinhas chamativas rapidamente caíram para segundo plano depois das exibições de Yerry Mina. O zagueiro colombiano elevou a segurança defensiva do Palmeiras e ainda deixou a marca no ataque ao anotar gols em clássicos contra São Paulo, Santos e Corinthians.

    Imagem: Palmeiras/Flickr/Divulgação
  • Gabriel Jesus

    Artilheiro da equipe no Campeonato Brasileiro e principal referência técnica, o atacante deixa o Palmeiras aliviado. Afinal, ao bater o pé para ficar até o fim de 2016, o camisa 33 completa o objetivo traçado de levantar uma taça como protagonista definitivo na Academia do Futebol.

    Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress
  • Moisés

    Impossível não destacar o meio-campista. Moisés trouxe uma dinâmica rara para a posição e facilitou o trabalho de Cuca. O jogador, que sofreu uma grave lesão no início do ano, destacou-se com a bola nos pés e nas mãos (os laterais tradicionais do "Cucabol" saem dos braços dele).

    Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress
  • Tchê Tchê

    Poucos jogadores chegaram a um clube e rapidamente se adaptaram tão bem quanto Tchê Tchê no Palmeiras. Destaque do Campeonato Paulista pelo Audax, o meio-campista assumiu uma vaga cativa entre os titulares e termina como um dos atletas mais regulares do país. Vem aí seleção em 2017?

    Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress
Cesar Greco/Fotoarena Cesar Greco/Fotoarena

Brilho do primeiro goleiro negro campeão

De terceiro goleiro a protagonista em um título de elite do futebol pentacampeão mundial. Jailson deixou o ostracismo para figurar entre os destaques da Série A aos 35 anos de idade. Mais do que comandar a meta do primeiro Palmeiras campeão brasileiro desde 1994, este palmeirense de infância tratou de fazer história pelo clube do coração.

Jailson, antes terceiro goleiro, aproveitou a lesão de Fernando Prass e falhas de Vagner para se tornar o primeiro goleiro negro campeão como titular da história do Palmeiras. Quem conta mais detalhes é o historiador e palmeirense Jota Christianini; um outro goleiro, se não fosse o lendário Oberdan, poderia alcançar o feito 65 anos atrás.

“O Lourenço, campeão do Rio-SP de 1951, foi titular em seis dos sete jogos do torneio. Não jogou as duas partidas de desempate do título contra o Corinthians, quando entrou simplesmente o Oberdan Cattani. Tonho era o goleiro em 1974, mas não jogou nenhuma partida daquele Campeonato Paulista. Jailson então é o primeiro campeão em um campeonato de longo curso”, contou ao UOL Esporte.

Surgiu o "Cucabol"

As críticas sobre o desempenho do agora campeão Palmeiras incomodaram internamente. O termo ‘Cucabol’, criado pelo jornalista Mauro Cezar Pereira (ESPN), foi considerado pejorativo pela comissão técnica. A insistência pelos laterais longos para a área e o excesso de bolas pelo alto geraram questionamentos sobre o líder. É inegável, no entanto, menosprezar a utilização deste tipo de jogada. O vídeo abaixo reforça como o time se tornou uma ‘artilharia aérea’.

ler mais

Cucabol em prática

Técnico não gosta do termo, mas veja como jogada área funcionou

Fabio Menotti/Ag Palmeiras/Divulgação Fabio Menotti/Ag Palmeiras/Divulgação

Pedras que ficaram pra trás?

A campanha do Palmeiras não viveu somente de alegria e estabilidade. Pelo menos em quatro momentos, o técnico Cuca envolveu-se em polêmicas tanto com os jogadores como com a diretoria. Pelo desejo em comum - a conquista do título -, a relação não tão amigável com parte do elenco não teve consequências ruins. Os bons resultados impediram a deterioração do ambiente. Veja detalhes abaixo:

Cesar Greco/Ag Palmeiras Cesar Greco/Ag Palmeiras

Barrios irritado

Aproximadamente um mês depois, Cuca veio a público expor propostas do exterior pelo atacante Lucas Barrios, em entrevista à Rádio Bandeirantes. O paraguaio, horas depois, negou qualquer oferta e respondeu ao treinador nas redes sociais: "Não deixem que lhe digam mentiras". A confusão fez até o Palmeiras iniciar a procura por um novo clube para o centroavante.

PAULO WHITAKER / REUTERS PAULO WHITAKER / REUTERS

Discussão forte

A mais recente polêmica ocorreu em setembro, com outro jogador subutilizado pelo treinador durante a campanha do título na Série A do Campeonato Brasileiro. O atacante Rafael Marques e Cuca se envolveram em uma ríspida discussão nos vestiários, que veio a público após a vitória por 2 a 1 sobre o Coritiba, no Allianz Parque. Ambos, dias depois, trataram de negar a informação.

Rubens Cavallari/Folhapress Rubens Cavallari/Folhapress

E essa de China?

O próprio treinador palmeirense se desgastou publicamente ao manifestar a ideia de retornar à China no ano que vem, em entrevista à Rádio Globo. Ainda não há a definição sobre a permanência de Cuca em 2017; nem do comandante, nem de Rafael Marques e Barrios, dois possíveis nomes disponibilizados para o mercado de transferências.

A festa da torcida nas ruas

Curtiu? Compartilhe.

Topo