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Com a seleção classificada, último Brasileirão antes da Copa-2018 vira chance para impressionar Tite

Guilherme Costa Do UOL, em São Paulo
Pedro Martins/ MoWa Press Pedro Martins/ MoWa Press

Agora ou nunca

Tite levou o Brasil do sexto lugar nas Eliminatórias à Copa da Rússia em menos de um ano de trabalho. Agora, sua missão é saber quem estará no Mundial no ano que vem. A ascensão da seleção modificou totalmente o cenário do futebol nacional e influenciou também o Campeonato Brasileiro de 2017, que começa no próximo fim de semana. Com a certeza da participação verde-amarela, a última edição completa da competição nacional serve como uma das últimas chances de chamar atenção do comandante.

A lógica tem a ver com algumas premissas do trabalho de Tite. O treinador trabalha com um grupo largo, com pelo menos 50 nomes, e costuma espalhar membros de sua comissão técnica para observar atletas em ação. Dos jogadores que representam as 20 equipes da primeira divisão, apenas Alex Muralha (Flamengo), Fagner (Corinthians) e Weverton (Atlético-PR) têm sido frequentes nas convocações. Desses, só lateral direito entrou em campo nas Eliminatórias – foi titular contra o Paraguai, quando Daniel Alves estava suspenso. Todos ainda buscam, portanto, consolidação no grupo que vai à Rússia.

Há outros dois grupos que podem encarar o Brasileirão como "vestibular": os jogadores que tiveram poucas oportunidades com Tite até agora, mas seguem no radar, e os que tentam ser novidades daqui até 2018. Tite fará apenas três convocações em 2017 (uma para amistosos e duas para rodadas das Eliminatórias). Para quem joga no país, a última chance de estar em uma dessas listas vai começar.

Quem joga no Brasil e está no radar de Tite

  • Alex Muralha

    Entre os goleiros, jogador do Flamengo é um dos nomes mais assíduos nas convocações de Tite.

    Imagem: Divulgação/CR Flamengo
  • Fagner

    Jogador de confiança do técnico desde os tempos de Corinthians, lateral esteve em todas as listas de Tite.

    Imagem: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
  • Fernando Prass

    Jogador do Palmeiras perdeu a Rio-2016 por ter sofrido uma lesão, mas está nos planos também para a seleção principal.

    Imagem: Divulgação/SE Palmeiras
  • Weverton

    Ainda que não tenha atuado na seleção principal, titular do Brasil na Rio-2016 esteve em todas as convocações de Tite.

    Imagem: AFP PHOTO / Luis Acosta
  • Pedro Geromel

    Jogador do Grêmio só foi convocado por Tite em uma lista de Eliminatórias, mas está no radar da comissão técnica.

    Imagem: Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio
  • Rodrigo Caio

    Frequentemente elogiado por Tite, o defensor do São Paulo também só foi chamado uma vez para Eliminatórias.

    Imagem: Reprodução/Divulgação
  • Diego

    Chamado num amistoso contra a Colômbia, numa lista que só tinha jogadores locais, meia impressionou.

    Imagem: Divulgação/CR Flamengo
  • Lucas Lima

    Só perdeu uma das convocações de Tite, quando estava machucado. Tem concorrência, mas segue nos planos.

    Imagem: Reprodução/Divulgação
  • Rafael Carioca

    Jogador agrada à comissão técnica, mas precisa retomar o espaço que hoje é de Casemiro e Fernandinho.

    Imagem: Divulgação/Site oficial do Atlético-MG
  • Diego Souza

    Também impressionou contra a Colômbia e foi opção quando Tite não pôde convocar Gabriel Jesus.

    Imagem: Divulgação
Arte/UOL
Gilvan de Souza/ Flamengo Gilvan de Souza/ Flamengo

O exemplo de Diego

Quer entender como o Campeonato Brasileiro de 2017 pode servir como parâmetro para a seleção que vai representar o país na Copa da Rússia? Pegue o exemplo de Diego. Preterido em convocações desde 2008, o armador fechou com o Flamengo no ano passado, brilhou no certame nacional e foi lembrado por Tite no início do ano, num amistoso contra a Colômbia, quando o treinador só pôde chamar atletas que atuavam em equipes locais. Foi o suficiente para impressionar o técnico e aparecer também na lista seguinte, para jogos das Eliminatórias.

O caso de Diego é especialmente relevante por mostrar o peso de um bom desempenho no cenário local. O meia revelado pelo Santos estava fora do Brasil desde 2004, quando se transferiu para o Porto, e desde então passou também por Werder Bremen, Juventus, Wolfsburg, Atlético de Madri e Fenerbahçe. Nenhum deles representou uma vitrine constante para a seleção como foi o Flamengo.

Na reta final da definição do grupo que Tite levará à Copa, Diego pode ser um exemplo para outros atletas. O Campeonato Brasileiro que começará no próximo fim de semana é o último antes do Mundial, e a corrida para impressionar o treinador pode não se resumir aos candidatos que já estão nos times locais.

Dividida no calendário

Não é de hoje que o calendário é um elemento importante para entender o Campeonato Brasileiro. Em 2017, contudo, há um novo elemento para que os torcedores chequem a folhinha antes de pensar no que pode acontecer na principal competição nacional. A partir desta edição, a Libertadores será espalhada por todo o ano – a decisão está marcada 29/11. A mudança causou um efeito cascata e fez com que a CBF mexesse na Copa do Brasil, outro torneio estendido até o fim da temporada.

E por que isso é importante? Porque os times de sucesso na Libertadores terão de dividir atenções com o Brasileiro até a reta final. Anteriormente, o conflito de agenda acabava no início do segundo semestre – nas últimas edições, a decisão da competição continental aconteceu entre julho e agosto. Quem tiver sucesso em competições paralelas terá de conviver com agenda apertada em toda a temporada.

A edição 2017 também será a primeira do Brasileirão que já começará com uma nova lógica de classificação para a Libertadores. A Conmebol ampliou o número de times do torneio, e o Brasil tem um mínimo de seis participantes definidos pelo desempenho no certame nacional. Se no ano passado esse contingente apareceu como “prêmio” para quem não se mostrou capaz de brigar pelo topo da tabela, agora é possível imaginar times que se estruturem para ficar entre os seis primeiros.

Arte/UOL

As novidades do Brasileirão

Principal competição nacional fará três grandes mudanças, mas nem todas entrarão em vigor neste ano

Divulgação e Arte UOL Divulgação e Arte UOL

Globo passa a ter rival na televisão fechada

Turbinado pelo dinheiro do grupo Turner, o Esporte Interativo fechou com cinco equipes da Série A (Atlético-PR, Bahia, Coritiba, Palmeiras e Santos) e instituiu concorrência na TV fechada, até então dominada por Globo/Sportv. Só que você terá de esperar até 2019, primeiro ano do novo contrato, para ver jogos do Brasileirão em outro canal.

Mauricio Mano/Site Oficial do Atlético-PR Mauricio Mano/Site Oficial do Atlético-PR

Estádios com grama sintética foram vetados

Em 2016, o Atlético-PR classificou-se para a Libertadores pela quinta vez na história graças a um rendimento de 84,2% na Arena da Baixada, que tem campo sintético. Em congresso técnico, os outros clubes resolveram eliminar o diferencial competitivo e proibiram o uso de solos artificiais. A nova regra, porém, só vale a partir de 2018, para o clube de adaptar.

Comitê Rio-2016 Comitê Rio-2016

Venda de mando de campo foi proibida

Os clubes também proibiram a venda de mando de campo. Foi um tema que dividiu opiniões: 14 equipes favoráveis ao veto, e seis tentaram manter a regra antiga. A alteração já vale nestea edição e traz três consequências: menos distorções técnicas, menos receita extra para quem vendia e menos jogos em Brasília (foto), Cuiabá e Manaus, estádios da Copa.

Eduardo Anizelli/Folhapress Eduardo Anizelli/Folhapress

Pressão no novo rico

Desde 2003, quando o Campeonato Brasileiro começou a ser disputado no sistema de pontos corridos, apenas dois campeões conseguiram manter a hegemonia nacional - São Paulo e Cruzeiro. O equilíbrio de forças, porém, não é o único desafio que o Palmeiras terá de superar nesta temporada. O dono da taça do ano passado, dono de um elenco estrelado e amparado por um aporte financeiro gigante da patrocinadora Crefisa, precisa vencer antes de mais nada o próprio ambiente de pressão.

Entre os principais jogadores do elenco campeão de 2016, a única baixa do Palmeiras para esta temporada é Gabriel Jesus, negociado com o Manchester City. Em contrapartida, foram R$ 76 milhões despejados em contratações como Felipe Melo e Michel Bastos, titulares da seleção brasileira em Copa do Mundo, Alejandro Guerra, eleito pela Conmebol o melhor jogador da Libertadores do ano passado, e Miguel Borja, reforço mais caro do futebol nacional na última janela de transferências.

As adições ao elenco alviverde criaram um ambiente opressivo para Eduardo Baptista, técnico contratado no início de 2017. Tanto é que ele não resistiu: comandou a equipe em apenas 23 jogos e foi demitido após ter sido eliminado do Campeonato Paulista e sofrido um revés na Copa Libertadores.

O Palmeiras se autopressionou por achar que vai ganhar tudo. Isso foi prejudicial até para o Eduardo [Baptista], que não ganhou um título e já teve questionamentos muito grandes. Ele vinha fazendo uma campanha muito boa no aproveitamento de pontos, mas não foi suficiente. O Palmeiras investiu muito, mas futebol não é assim

Cuca, que retornou ao comando do Palmeiras

Cuca, que retornou ao comando do Palmeiras

Os desafiantes

Ricardo Moraes/Reuters Ricardo Moraes/Reuters

Flamengo: base reforçada

A despeito de ter sido o terceiro em 2016, o Flamengo é uma das ameaças mais claras. O time rubro-negro manteve a base da temporada passada e conseguiu reforços como o volante Rômulo e o meia Conca, que ainda nem estreou. Ainda há outra aposta: Vinicius Jr. é perseguido por gigantes europeus e tem tratamento de estrela antes mesmo estrear.

Thomás Santos/AGIF Thomás Santos/AGIF

Atlético-MG: Roger e reforços

Quarto em 2016, o Atlético-MG também trouxe nomes de peso. O elenco, que já tinha Fred e Robinho, recebeu adições como Felipe Santana e Elias. O técnico, Roger Machado, é outra novidade. Estava sem clube desde que deixou o Grêmio, e substituiu M. Oliveira. Fortalecida e com um novo comando, a equipe venceu o Estadual e agora ataca o Brasileiro.

Thiago Ribeiro/AGIF Thiago Ribeiro/AGIF

Santos, Botafogo e Atlético-PR

Na parte superior do Campeonato Brasileiro de 2016, Santos (2º), Botafogo (5º) e Atlético-PR (6º) chamaram atenção. Com orçamentos bem inferiores do que os outros rivais, esses times conseguiram a vaga para a Libertadores deste ano. Em 2017, os três oscilaram. O caminho até o título depende de uma estabilidade que eles não alcançaram até agora.

Paulo Whitaker/Reuters Paulo Whitaker/Reuters

Quem tenta apagar 2016

O Brasileirão também será uma chance de redenção para times que ficaram na zona intermediária em 2016. Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Grêmio e São Paulo são exemplos de quem tenta apagar o que fez. Ainda que o Alvinegro paulista tenha sido o único campeão estadual, todos tiveram bons momentos e querem estender isso ao torneio nacional.

Cristiano Andujar/AGIF Cristiano Andujar/AGIF

Quem vai ser a surpresa?

No Campeonato Brasileiro, nem sempre o poder financeiro determina a lógica da classificação. É o caso do Santos, segundo colocado de 2016, cuja folha salarial era menos de 50% do que gastava o campeão Palmeiras. Também vale para o Sport, sexto colocado do torneio em 2015. E nesta temporada, quem pode surpreender?

A lista de apostas tem, por exemplo, os times que foram campeões estaduais em 2017. É o caso de Coritiba e Vitória, que fizeram mudanças significativas em relação à temporada passada. A lógica vale ainda mais para a Chapecoense, que se reconstruiu após a tragédia aérea do ano passado e faturou o Catarinense. Entre os que não levantaram taças, Ponte e Bahia são destaques.

Arte/UOL

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