Enzo, Valentina e... Neymar

Os nomes mais repetidos da internet têm companhia! Craques de hoje e de ontem inspiram na hora do batismo

Bruno Grossi e Diego Salgado Do UOL, em São Paulo

Se você digitar "Enzo e Valentina" no Google, vai encontrar dois tipos de resultados: notícias dando conta da popularização recente dos nomes e listas de memes sobre o assunto que se multiplicaram pela internet nos últimos meses. Mas não se engane, nem só de casal italiano vivem os pais brasileiros. Você tem ideia do quão popular o nome "Romário" se tornou no Brasil após a Copa do Mundo de 1994? Acredita que um pai ou uma mãe fanáticos teriam coragem de chamar seu filho de Sócrates, Zico, Neymar ou Rogério Ceni (sim, com o sobrenome)? E que tal Messi ou Cristiano Ronaldo? 

O esporte tem um modo bem particular de influenciar os nomes

Fernanda Ravagnani é editora do BabyCenter, site e aplicativo que, desde 2009, analisa e cruza informações sobre nomes de bebês e comportamento de pais. Especialista no assunto, está mais do que acostumada com a situação. "O esporte é a área onde há verdadeiras homenagens a ídolos. Em alguns casos são resultado de promessas feitas na hora do aperto do time". 

Às vésperas de uma Copa do Mundo, o UOL Esporte pesquisou curiosidades ligadas a essas homenagens, descobriu histórias inusitadas de quem recebeu o nome de um craque e conta até quais são os limites na hora de batizar um herdeiro. Confira a seguir:

Você já se acostumou com o nome...

Juca Varella/Folhapress Juca Varella/Folhapress

Único no Brasil em 1992, Neymar é febre na Bolívia

Que Neymar tenha gerado um "baby boom" no Brasil não chega a ser uma surpresa. Mas e na Bolívia? O então craque santista serviu de inspiração para que dois a cada dez casais de La Paz escolhessem esse nome durante o ano de 2013, quando o atacante já estava de malas prontas rumo a Barcelona.

À época, o jornal boliviano 'La Razon' disse que havia muitos bebês chamados de Messi e Crsitiano Ronaldo, mas nada comparado ao brasileiro, que foi apontado por um diretor de cartório de La Paz como o nome da moda. 

No Brasil, há outra curiosidade. Nascido em 1992, Neymar, o craque brasileiro da seleção e do Paris Saint-Germain, foi o único bebê registrado com esse nome no país naquele ano. Depois do jogador, outras duas crianças homônimas passaram pelos cartórios até a primeira fase de influência do jogador, já em 2009, ano de estreia de Neymar pelo Santos. Daí em diante...

Arte/UOL
Diego Salgado/UOL Diego Salgado/UOL

4 filhos em homenagem ao Corinthians, mas dois viraram casaca

Sócrates, Zenon, Rivelino e Amaral nunca atuaram juntos, embora tenham defendido o Corinthians nas décadas de 1970 e 1980. Pela imaginação de um fanático, entretanto, eles são irmãos e cresceram batendo bola na cidade de Iraquara, na Bahia. O responsável pela história é Vivaldo Marques da Silva, alvinegro fanático. Rivelino é o primogênito, nascido em 1970. Amaral, por influência do ex-zagueiro, nasceu em 1978. Três anos depois veio Sócrates. Zenon, por sua vez, nasceu em 1984, época em que o meia brilhava no Corinthians.

Sócrates Soares da Silva contou que sua mãe só foi contra as homenagens que envolveriam as filhas. Sim, Vivaldo chegou a cogitar batizar uma deles com o nome do ex-lateral Zé Maria. Com o não, as meninas receberam os nomes de Renata, Regiane e Ingrid.

Embora tenham nascido numa casa corintiana, dois meninos não seguiram os passos do pai. Sócrates e Zenon são corintianos fanáticos, mas Amaral virou palmeirense e Rivelino resolveu torcer para o Flamengo. "A gente foi entender e ter a dimensão somente depois. Tenho muito orgulho também pela questão política, pela Democracia [Corinthiana]", disse Sócrates sobe o ídolo homônimo, antes de ratificar: 

O maior corintiano do mundo é meu pai, ele foi enterrado com a bandeira do Corinthians

Arte/UOL
Oleg Nikishin/Epsilon/Getty Images Oleg Nikishin/Epsilon/Getty Images

Quais são os limites na hora de escolher o nome do filho?

E se um casal decidir fazer uma homenagem ao lateral do Vasco, Yago Pikachu? Será que os pais vão conseguir sair do cartório com a missão cumprida? Provavelmente, não.

De acordo com a Arpen (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais), os pais podem ser demovidos da ideia em casos esdrúxulos. Caso o cartório interprete que o nome vai causar algum incômodo para a criança no futuro, ele encaminha o pedido para a corregedoria, que é um órgão que fiscaliza os cartórios. "O juiz da corregedoria é quem vai autorizar ou não. Isso depende da interpretação do oficial do cartório e varia, não é uma regra", disse a associação, por meio da sua assessoria de imprensa.

Na Argentina, cartórios chegaram a fazer uma campanha em 2014 para que a legislação fosse mais rígida em relação a sobrenomes usados como nomes. A opção "Messi", por exemplo, chegou a ser barrada por um diretor de registro civil de Rosário, cidade natal do craque do Barcelona. Tudo para evitar um boom de Messis.

As homenagens mais inusitadas

  • Tospericargerja

    Tospericargerja da Silva Torres. Esse é o nome de batismo de um homem nascido em Manaus, em julho de 1971. Oder e Odilia Torres escolheram as sílabas como forma de homenagem à seleção de 1970, que foi tricampeã mundial no México no ano anterior. 'Tos' de Tostão; 'Pe' de Pelé; 'Ri' de Rivelino; 'Car' de Carlos Alberto Torres; 'Ger' de Gérson; e 'Ja' de Jairzinho.

    Imagem: Popperfoto/Getty Images
  • Creedence Clearwater

    Creedence Clearwater se destacou em 2003 como atleta do Guarani e trouxe à tona a devoção do pai à banda norte-americana Creedence Clearwater. O jogador até encontrou os ídolos do pai em 2012. Segundo Creedence (o atacante), o grupo musical, que fazia uma turnê pelo Brasil, quis saber se ele era de verdade em um encontro promovido entre as partes.

    Imagem: Reprodução/YouTube
  • Overath Breitner

    Os alemães Overath e Breitner ganharam a Copa pela Alemanha em 1974. Bastou para que o venezuelano Roberto Fariñas juntasse os dois nomes para registrar o filho em 1989. Overath Breitner se tornou jogador e chegou a atuar ao lado de Neymar no Santos. E ele não parou por aí. O filho caçula é Roberto Prosinecki, em homenagem ao croata dos anos 1990.

    Imagem: Santos F.C (Divulgação)
  • Marcos Evair e Basílio

    Dois jornalistas fanáticos por seus times lembraram dos ídolos quando viraram pais. Vitor Guedes, colunista do Agora, relembrou Basílio, herói corintiano do fim da fila, em 1977. Já Alex Muller, do Esporte Interativo, juntou Marcos, maior goleiro da história do Palmeiras, com Evair, outro grande nome dos anos 1990 alviverde, para batizar o herdeiro.

    Imagem: Reprodução
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Christopher Polk/Getty Images Christopher Polk/Getty Images

Quem são os nomes mais famosos fora do mundo da bola?

Obviamente, não é só o futebol que tem a capacidade de influenciar pais na hora de batizar os filhos. Referências bíblicas são sempre opções bem vistas por brasileiros e até os filhos de celebridades são referência. Benício e Joaquim, filhos de Angélica e Luciano Huck, popularizam os nomes tradicionais. Segundo o Baby Center, o mesmo deve acontecer com Melinda e Theodoro, herdeiros de Michel Teló e Thais Fersoza. 

No mundo, nenhum chama mais atenção que Emma, presente no top 10 de países como Alemanha, França, Estados Unidos e Reino Unido no ano passado. A moda coincide com o ápice da carreira das atrizes Emma Watson, famosa pela participação na saga Harry Potter, e Emma Stone, vencedora do Oscar pela atuação em La La Land. As duas são vistas como mulheres fortes e bem sucedidas, uma receita simples para pais que desejam esse mesmo destino para suas filhas.

Ormuzd Alves/Folhapress Ormuzd Alves/Folhapress

Romário "bombou" em 1994. Em 2018, quem é a inspiração?

Grandes eventos como a Copa do Mundo têm potencial enorme para inspirar a escolha de nomes para recém-nascidos. O sucesso de Romário com a seleção brasileira, por exemplo, fez surgir nada mais nada menos que 1.640 novos Romário somente em 1994 - nos anos anteriores, a partir de 1987, quando o artilheiro surgiu no Vasco, a média era de 350 registros por ano.

Então, não estranhe se no segundo semestre deste ano ou em 2019 você se deparar com um bebê de nome até incomum. Phillipe, em referência a Coutinho, craque do Barcelona e da seleção brasileira. Kevin, pelo desempenho de De Bruyne, do Manchester City, com a Bélgica. Ou ainda Kylian, do "pequeno fenômeno" da França e do Paris Saint-Germain, Mbappé.

Quem se destacar no Mundial da Rússia não só ganha pontos para concorrer à Bola de Ouro no fim da temporada, mas ainda pode criar uma tendência e influenciar gerações de crianças como fez Diego Maradona, na Copa de 1986, e Messi e Cristiano Ronaldo nos últimos anos. Quais craques serão os próximos?

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