Argentino DA SILVA

Sorín acha Neymar tão bom quanto Messi e é fã de Felipão. Mas tudo tem limite: "Maradona é maior que Pelé"

Felipe Pereira e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo
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A palavra pode ser estranha, mas a definição é precisa. Sorín é tarado por futebol. Quando a TV a cabo era raridade, planejava a semana pelos jogos que seriam transmitidos. A grande paixão é a camisa da Argentina. O cara é tão apegado que não gostava nem mesmo de trocar de uniforme no final dos jogos pela seleção...

Mas quem controla o destino? Quis a vida que Sorín se apaixonasse pelo Cruzeiro e depois pelo Brasil. E é aqui, e não a Argentina, o local escolhido para viver depois da aposentadoria. No país, criou um dos programas esportivos mais apreciados pelos jogadores de futebol verde-amarelos, o Resenha ESPN. O sucesso na TV só aumenta os laços com o Brasil.

A entrevista com o UOL Esporte tem um sotaque forte. Mas é inegável que, lá dentro do peito do ex-lateral, a cumbia se misturou com o samba.

Neymar está no nível de Messi?

Assim como o Messi foi evoluindo com essa vivência com a Argentina, o Neymar também sabe muito bem o que ele quer. Para mim, tem uma questão muito importante: quando está bem fisicamente, ele sobra

Sobre a força mental de Neymar

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Felipão é o cara

Eu trabalhei (com o Felipão) em  2000, 2001, depois ele foi para a seleção. Nessa época, era um dos melhores, porque conseguia, com uma coisa mais de paizão, unir o grupo. Conseguia fazer todo mundo se matar pelo time. Ao mesmo tempo, no incentivo ele era muito legal. As palestras eram muito boas.”

Sorín lembra que a estratégia também era um ponto forte do treinador. “Na parte técnica, tática, tinha coisas interessantes, inclusive coisas básicas que ele fazia repetir muito. As pessoas veem isso como um erro, mas, para mim, foi importante“. Apesar do carinho, ele não hesita em opiniar sobre o 7 a 1.

Acho que, para o Brasil, o pior que poderia ter acontecido foi ter ganho a Copa das Confederações no ano anterior. Ter tocado no seu melhor momento um ano antes. Agora, qualquer treinador pode errar, ter errado o plantel tático, ter tentado surpreender a Alemanha e não preenchido a metade do campo."

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Aplaudido no Mineirão por gol no Brasil

“Quando saí do Cruzeiro, era a a primeira vez que jogava as Eliminatórias. E jogava no Mineirão. Era como um rodamoinho de emoções na barriga. Desde o aeroporto, o pessoal já me abraçando, pessoal com bandeira, tirando foto. E, ao mesmo tempo, era Argentina x Brasil!

O jogo em questão foi em 2004, uma vitória do Brasil por 3 a 1. O único gol da Argentina foi dele. E os torcedores comemoraram. "Fomos roubados naquele dia. Três pênaltis no Ronaldo. Quando fiz o gol, no rebote senti [barulho simulando torcida brasileira]. Até pensei: 'Será que estou imaginando essa sensação?' Depois, quando eu vi as imagens na televisão, falei: ‘Isso aí extrapolou tudo'. Gritar um gol da Argentina é inimaginável. E mais ainda um gol contra o Brasil!"

"Estávamos putos pela derrota, mas depois, conversando com os massagistas, os roupeiros, falaram: ‘Cara, gritaram o seu gol. Você sabe o que é isso?’. Eu acho que eu não tinha ideia dessa dimensão. Acho que eu fui o único cara argentino que fez a torcida brasileira gritar um gol contra o Brasil."

Maradona > Pelé

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"Não trocava a camisa da seleção. Era muito importante para trocar"

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Capitão de Copa do Mundo

"É outro dos grandes orgulhos da minha carreira. Ter sido capitão em 2006. Jogamos um futebol muito bom, tínhamos todas as condições para sermos vencedores da Copa do Mundo. Mas ficamos nas quartas, com muita raiva, invictos e nos pênaltis, mas também por incapacidade nossa de fechar aquela partida".

"Na época, você não consegue sair e pensar: ‘Ah, que legal isso que estou vivendo’. Claro que desfrutei de tudo, mas estive sempre muito envolvido. Sabia o que estava acontecendo com cada um dos integrantes daquele elenco para que a Argentina chegasse forte, para que o grupo estivesse bem na concentração e, fundamentalmente, para que a equipe jogasse como sabíamos que podíamos jogar".

Havia craques dentro daquele elenco. Sorin fala de Riquelme, de Tévez e de um jovem Lionel Messi, ainda começando. "Mas ainda tinha Saviola, tinha Crespo. Mascherano, Cambiasso. Maxi Rodríguez, Aimar. Puta, teria que falar de todos...”

REUTERS/Ina Fassbender REUTERS/Ina Fassbender

Capitão de Messi

Eu sempre tentei me aproximar. Tinha uma diferença de idade muito grande para essa geração, que era muito mais videogame. A gente fazia atividades extracampo para unir o grupo, para que não fique cada um no seu quarto. Querendo ou não, te força... um torneio de truco, um torneio de videogame.“

Para azar de Messi, o capitão era, também, sua dupla nos campeonatos virtuais...

Ele teve que sofrer. Eu era muito ruim com o Fifa no Playstation e ele jogava muito.... Eu ia muito ao quarto dele. Era cheio de bolas. Bola por tudo que era lado! Nessa época, não era muito de falar, mas a gente brincava muito

Sobre a relação com o fenômeno

Tentava me aproximar de jeitos diferentes para ter um relacionamento e conhecer mais o Lionel Messi. Não porque ia ser o Messi, mas para colocá-lo mais dentro do grupo. Tive que me adaptar aos mundo deles

Sobre a importância do jogador

A aposentadoria de Messi (que não se concretizou)

Eu acho que ele falou muito das entranhas. Falou muito visceralmente. Falei naquela época que ele não conseguiu se perdoar. Além dos fatores extracampo, de estar um pouco farto da desorganização, que a AFA também foi uma zona

Sobre a final da Copa América do Centenário

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As regras não escritas dos boleiros

Sorín é apaixonado pelo universo do futebol. Sente saudade de vestiário, da concentração e das brincadeiras do dia a dia. Por isso nunca nega um convite para visitar os amigos. Mas ele sabe que há um código para quem partilha da intimidade de um grupo: o repórter fica fora. No vestiário, ele é apenas um ex-jogador. A última vez na concentração da Argentina foi para tomar chimarrão e apresentar a filha a Messi.

Aí não é como comunicador, é como ex-jogador, tomando mate. Eu sou muito cuidadoso com essas coisas. Se eu vou para um vestiário, se eu vou para uma concentração não tem câmeras, não tem nenhuma entrevista, eu sou ex-jogador.”

Saber separar os papéis é a chave para continuar sendo convidado. Por entender esta diferença, esteve com o grupo da Argentina no último jogo antes da Copa do Mundo no Brasil. ”Eles sabem que eu respeito muito os códigos.“

Ronald Martinez/Getty Images Ronald Martinez/Getty Images

Apresentador em busca da história perfeita

O Pesquisão UOL ouve apenas os jogadores de futebol e eles escolheram o Resenha ESPN como o melhor programa esportivo da TV. Sorín sabe o diferencial. “Criamos o ‘Resenha’ porque entendíamos que a televisão brasileira estava carente de um programa diferente sobre jogadores, em que o jogador se sentisse à vontade. Que não ficasse essa sensação de que estão contando a história, mas tem coisas que não podem ser contadas”.

Foi pensado de onde podíamos tirar coisas diferentes, mas sendo muito leais, muito fiéis com o jogador de futebol, não sendo traíras, não procurando ter o titular do outro dia, só para falar que foi no Resenha.”

Ele comemora ter dobrado a audiência, mas avisa que não trabalha só por isso. E faz uma ressalva: Sorín não se declara jornalista, mas, sim, comunicador. Acredita que desta forma pode ajudar o futebol. “Eu entendo que posso cuidar do futebol desse outro lugar, criando coisas diferentes, fazendo uma entrevista e o cara se emocionando.”

Sempre gostei do estilo do Juca [Kfouri], do estilo do [José] Trajano. Por eles sempre terem mantido seus valores, mas sido boêmios, descontraídos. O jornalismo pode ser diferente e pode ter um cheiro de boteco no ar

Sobre os jornalistas que o fizeram trabalhar na ESPN

Sobre os jornalistas que o fizeram trabalhar na ESPN

O Sorín comunicador

  • Rádio na Argentina

    Trabalhou quatro anos na rádio FM La Tribo, na Argentina, com um programa de música. Entre outros, tocava Caetano. E tratava de temas políticos e sociais. Usava o tempo livre das viagens pela Libertadores para apurar a situação em outros países.

  • Crônicas na Europa

    Também escreveu para jornais e revistas nos anos em que jogou na Europa. Contribuiu com publicações de renome mundial, como o jornal espanhol El País e a revista So Foot, da França. Ele chegou a cursar jornalismo e escrevia por hobby.

  • Jornalista de Copa

    Antes da Copa do Mundo no Brasil, Sorín fez crônicas para o La Nación, um dos principais jornais da Argentina. O ex-jogador conta que eram textos "mais viscerais". Sorín diz que deve vir um livro por aí, mas não dá detalhes sobre datas e conteúdo.

  • Escritor e poeta

    O gosto pelas letras vem antes de qualquer contato com a imprensa. "Eu escrevia por hobby, pelo prazer de escrever. Escrevi muito longe do futebol, mas sempre tem a influência de alguma vivência. Escrevi muita ficção também, poesia."

Final da Copa América 2004 deixou cicatriz na alma

Jogador engajado

Buda Mendes/Getty Images Buda Mendes/Getty Images

Livros viram escolas

Sorín organizou um livro chamado Pelota de Papel, que contou com textos de Eduardo Galeano e Fito Páez (entre outros). O dinheiro arrecado foi usado para reconstruir duas escolas no Norte da Argentina. "Para nós, também foi concretizar um sonho e deixar nosso legado, não somente como jogador, mas como pessoa, como argentino".

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Apoio a Mariana

Escreveu a colegas de imprensa de Minas Gerais pedindo instituições de confiança para receber ajuda no desastre de Mariana. O texto foi divulgado. "Não é que vem essa coisa de 'sou famoso, tenho que preencher o meu perfil com uma questão social'. Eu sempre fui assim. Sempre fui solidário, ligado no que estava acontecendo."

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Escolas ocupadas

Gravou um vídeo contando que estudou em escola pública e pedindo apoio do mundo do futebol para que a escola nunca mais fosse a mesma depois das ocupações. Sorín comemorou que era uma iniciativa de jovens. Também discordou de Pelé e Ronaldo, que não apoiaram as manifestações de junho de 2013.

Reprodução/Twitter Reprodução/Twitter

Mídia manipuladora

Questionado, Sorín afirmou que vê manipulação na imprensa e defende que as pessoas procurem uma segunda fonte de opinião. "Já aconteceu no Brasil, na Argentina, em todos os países da América Latina, também nos Estados Unidos, na Europa. As pessoas querem te fazer acreditar que uma guerra contra, sei lá, o Iraque, é legal."

REUTERS/Albert Gea

O trio MSN

Os três se entendem dentro, mas também se entendem fora. Estão vivendo situações mais ou menos parecidas. É superlegal quando se entendem fora, e têm resenha, e têm código... O futebol não é um planeta à parte: você precisa ter amizade fora de campo também

Sobre o entrosamento de Messi, Suarez e Neymar

Segue ou bloqueia?

  • Pelé

    Jogador extraordinário. Completíssimo. Um atleta sensacional e um vencedor

    Imagem: Jorge Olavo / UOL
  • Maradona

    Um monstro. Um gênio. Maradona contagiava emoção para a Argentina

    Imagem: Getty Images
  • Joseph Blatter

    A cabeça de tudo que estamos vendo que aconteceu com a Fifa. E que tomara que nunca mais aconteça

    Imagem: FABRICE COFFRINI/AFP
  • Neymar

    Talento puro. Atrevido. Convencido do que quer. Um jogador excepcional. E que ainda falta muito mais para ele

    Imagem: NELSON ALMEIDA/AFP

Sorín real X Sorín do videogame

Ele diz que notas daria para jogador do videogame. Confira se Sorín pensa igual aos desenvolvedores do jogo

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