O homem das estrelas

Wagner Ribeiro levou Neymar, Lucas, Robinho e Kaká para Europa. Mas já levou cadeirada fazendo seu trabalho

Aiuri Rebello e Pedro Lopes Do UOL, em São Paulo
Leticia Moreira/Folhapress

Neymar, Kaká, Robinho, Lucas Lima. Jogadores com estilos e posições diferentes, mas que carregam em comum duas coisas: o sucesso e a relação em algum momento da carreira com o empresário Wagner Ribeiro. Procurado por jovens jogadores e repelido por torcedores, Ribeiro construiu uma carreira servindo como a ponte para a Europa para promessas do futebol brasileiro.

A carreira de muitos acertos e poucos erros trouxe ao empresário entrada nos principais clubes do Brasil e do mundo. “O que eu vendo é credibilidade. O pessoal do Real Madrid brinca comigo: ‘você é Midas, põe o dedo e vira ouro’, falando do Robinho, do Kaká, do Neymar... Eu digo que não é assim. Para quem trabalha com jogador, se você tem 10 jogadores que se destacaram, é pouco”.

Em entrevista ao UOL Esporte em seu escritório em São Paulo, Wagner falou sobre o início da carreira de empresário, lembrou as apostas que não deram certo e contou histórias sobre seus principais clientes. O empresário também falou sobre o momento atual do futebol brasileiro e a relação conturbada com os torcedores quando veem seus ídolos vendidos pelo seu trabalho.

Natacha Pisarenko/AP Natacha Pisarenko/AP

"Não sou mais o empresário do Neymar"

“Empresário de Neymar”. Essa é, talvez, a alcunha mais utilizada para se referir a Wagner Ribeiro pela imprensa, no Brasil ou exterior. Curiosamente, só falta uma coisa para que o craque brasileiro seja o maior cliente na carteira do empresário: pertencer, de fato, a ela.

“Não sou mais empresário do Neymar. Pai dele é. Mas é verdade, também, que eu trabalho com o pai dele, estamos sempre juntos. Quando o Neymar tinha 12 anos, fui empresário dele. Cuidei dos contratos com o Santos. Mas quando o menino cresceu e chegou ao profissional, o pai realmente tomou posse de tudo. Começou a administrar através das empresas. E é um profissional competentíssimo no que faz”.

Mesmo não tendo mais palavra nos rumos do atleta, a relação com o atacante do Barcelona continua. “O Neymar, para mim, é como um filho. E o pai dele é uma pessoa da minha confiança, com quem eu me dou bem, de quem eu gosto muito e a quem respeito. O Juninho, que é como nós chamamos o Neymar, está muito bem com o pai dele”.

Eu trouxe para o Santos propostas do Chelsea e do Real Madri. A do Barcelona veio direto para o pai. Eu queria que ele fosse para o Real Madrid, sempre falei isso. Era uma proposta economicamente melhor para o Santos. Era melhor até para o jogador. Mas ele decidiu pelo Barcelona porque era o time do coração

Sobre porque ele não trocou Santos por Madri

Nunca mais vai aparecer uma proposta como a do PSG

AP/Luca Bruno AP/Luca Bruno

"Gabigol foi humilhado na Inter de Milão"

É cedo para chegar a qualquer conclusão, mas, por enquanto, Gabriel Barbosa, o Gabigol, da Internazionale (ITA), vive situação oposta à de Neymar. Ele é uma das apostas de Wagner que não explodiram na Europa.

“O Gabriel é um caso totalmente atípico. Saiu do Brasil com um status de campeão olímpico, titular do Santos e convocado pelo Tite. Chegou na Itália com esse status, com uma festa de apresentação que só fizeram para o Ronaldo, com todos os diretores e presidentes da Inter presentes, e o que aconteceu? Dentro de campo ele não teve chance de jogar”.

“Ninguém pode falar que ele não foi aprovado. Ele fez um jogo, marcou um gol. No resto, jogou cinco minutos, dez minutos, às vezes passava meses sem jogar um minuto. E treina bem, faz gols. Eu até disse uma palavra que eles não gostaram muito lá na Itália: eu falei em humilhação. Que ele foi humilhado lá. Eu acho que ele foi humilhado”.

Filippo Monteforte/AFP Filippo Monteforte/AFP

Com a temporada europeia encerrada, Gabigol deve mudar de ares, por empréstimo, e vestir a camisa de outro clube europeu até se adaptar. “Voltar para o Brasil é difícil, é melhor emprestá-lo para um clube por lá. O Gabriel é muito jovem, tem 20 anos, um talento incrível. É um jogador também de características ímpares, joga pela direita em diagonal, volta, tem muita força, e está precisando de ter continuidade".

Precisa de bola, de jogo, de minutagem. Precisa jogar”.

Jasper Juinen/Getty Images Jasper Juinen/Getty Images

Robinho deixou Real por salário baixo...

Você deve se lembrar de Neymar e Gabigol, mas é a carreira de Robinho o maior marco na trajetória de Wagner. O atacante jogou com a camisa 10 do Real Madrid, mas acabou saindo de forma polêmica de Santos, do próprio Real Madrid e do Manchester City, da Inglaterra.

“O Robinho teve um momento no Real Madrid maravilhoso. Era o melhor jogador do time. Estava no melhor momento, mesmo. Criativo, marcando gols. O problema é que ele teve uma proposta do Chelsea. Como ele tinha um salário relativamente pequeno perto do que ganhavam Ronaldo, Zidane e outros, comecei a brigar. Ou o Real pagava ou ele ia para o Chelsea, que oferecia três vezes mais. No final, ele não foi para o Chelsea e o Real até aceitava pagar bem mais do que ele ganhava. Mas aí entrou o City...”

“Há algum tempo, estava em Madri e postei uma foto com o presidente do Real na sala de troféus. Quando o Robinho viu, curtiu e me ligou.  Falou para mandar um abraço para o “presi", o Florentino Perez. Eu dei o recado e o Florentino falou para ligar para o Robinho. O Robinho conversou com o maior carinho com o presidente. E vice-versa. Ele ainda pediu desculpas por ter saído de uma forma que não foi legal”.

...e do Santos porque tinha medo de andar na rua

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Filha foi ameaçada por saída de Robinho

Para ir a Madri, Robinho se recusou a treinar e entrou em litígio com o Santos. Negociações que terminam assim caem na conta do empresário. Na época de Robinho, viveu com medo após ameaças à família. “Falaram que iam encontrar minha filha no shopping e quebrariam um extintor na cabeça dela. São coisas ridículas de pessoas infelizes”.

“Uma vez no Pacaembu, em um Santos x Corinthians, a torcida do Santos queria me pegar porque eu tinha vendido o Robinho e estava com o Neymar. A torcida do Santos tentou me agredir, xingou, jogou copos. Eu estava lá com o pai do Neymar em um camarote. Depois, houve um problema também por causa do Ilsinho (lateral direito que trocou o Palmeiras pelo São Paulo) com a torcida do Palmeiras, porque acabou o contrato e eu o levei para o São Paulo. A torcida começou a me hostilizar em um jogo”.

Segundo Wagner, os sustos passaram. “Acho que hoje isso está mais tranquilo e o pessoal entende que eu sou profissional. Sabe que quem decide se vai sair do clube ou não, o que quer para a carreira, é o jogador. Eu só posso mostrar os caminhos”.

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Kaká foi um dos piores negócios da carreira

Na vida do agente, nem tudo tem explicação: Kaká foi o único cliente de Wagner a receber o prêmio de melhor do mundo, mas o empresário vê no meia um dos piores negócios de sua carreira. “A menor (negociação) de todas, em termos de qualidade e possibilidade de negócio, foi a do Kaká. Ele foi vendido por 8,5 milhões de euros (para o Milan em 2003). Ele tinha pouco tempo de contrato com o São Paulo e abriu mão de algumas coisas. O São Paulo não tinha percentual econômico e o jogador queria ir para a Europa”.

Kaká também foi um negócio inusitado por sua qualidade. “Às vezes, os jogadores te surpreendem e o Kaká foi assim. Na base, era reserva do Harison e todos esperavam que o Harison desse certo. Mas quem teve a chance foi o Kaká e quando ele surgiu parecia um foguete. Subiu rápido, foi muito bem, entrou marcando dois gols num jogo contra o Botafogo no Morumbi. E, na base, nem era tudo isso. Era reserva, não era brilhante”.

STEPHANE MAHE / REUTERS STEPHANE MAHE / REUTERS

Lucas Moura foi negócio mais lucrativo

Se Kaká saiu barato e se tornou melhor do mundo, Lucas Moura rendeu mais de R$ 100 milhões ao São Paulo mas ainda não se firmou no futebol europeu. Wagner, porém, acha que é questão de tempo.

“O Lucas é um grande jogador, todos sabem. Tem uma característica única, de explosão, velocidade. Quando ele parte com a bola, ninguém pega ele nas corridas. Ele teve excelentes momentos como titular absoluto no PSG, mas outros momentos no banco. Só que, quando entra, resolve. Não acredito que ele saia do PSG agora porque está muito bem. Mora muito bem e o clube dele é de ponta”.

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Wagner é fã de Tite e aposta no hexacampeonato...

"O Tite fez milagre, né. Porque os jogadores são os mesmos. Não tenho nada contra o Dunga, mas pelo que converso com jogadores, acredito que o futebol da seleção melhorou porque houve um engajamento. Cada um joga da forma que atua em seu clube. Não tem mais aquilo de mudar a característica quando chega na seleção. Isso é importante porque o jogador se sente à vontade. Eles têm prazer de estar lá. Eu estive no Uruguai no hotel da seleção, jantei com os jogadores. Todo mundo alegre, brincando".

Heuler Andrey/Mowa Press Heuler Andrey/Mowa Press

... mas não é fã de Dunga e de atletas defensivos

"Eu, por exemplo, não gosto de jogador que marca muito e não sai para o jogo. Um Casemiro, digamos. O Real Madri diz que ele é imprescindível porque marca. Mas ele não jogaria no meu time porque eu gosto de volante técnico, que sabe dar um drible, que toma a bola com categoria e que sai jogando. Com todo o respeito ao Dunga, quando ele era jogador, era tipo Casemiro. Ficava ali no marca, marca, marca, marca. Enfim, a seleção hoje está no caminho certo e eu acho que nós vamos ser campeões na Rússia".

O que aconteceu com Lulinha?

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Tiago Luís: como surgiu o "Novo Messi"

Dentre as apostas de Wagner que não deram certo, uma das grandes era o atacante Tiago Luís. Então no Santos, recebeu um apelido bastante hiperbólico. “Ele marcou oito gols na Copa São Paulo. Eu estava com um scout do Real Madrid e disse que o contrato do Tiago terminaria e nós iríamos levá-lo para o Real. Era verdade. Mas quando eu falei isso, um cara da imprensa ouviu. Vazou aqui em São Paulo, saiu em jornal aqui.  E lá em Madri publicaram que o Real estaria trazendo o novo Messi”.

A carreira de Tiago não decolou e o atacante não chegou nem perto de fazer jus ao apelido, mas Wagner não acha que o exagero tenha atrapalhado. “O problema foi o contrato dele com o Santos. Tinha um contrato de gaveta na época. Eu briguei, mas acabou sendo renovado. Ele não foi para a Europa. Ficou como o novo Messi que não aconteceu. Mas isso não o prejudicou. Acho que ele teve até uma notabilidade maior com isso”.

Tiago Luís tem, hoje, 28 anos e defende o Goiás na Série B do Campeonato Brasileiro.

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Na base, diretores usavam laranjas para lucrar com jogador

Os empresários aparecem em todos os grandes negócios. Mas existem histórias que não se tornam públicas no futebol e que mostram como a profissão pode ser ingrata. Wagner conta que existem dirigentes de clube que, há anos, utilizam empresários para ganhar dinheiro de forma ilegal.

“Antes, quando você tinha um jogador de base no clube e queria fazer um contrato, um percentual de direito econômico ficava para o jogador e para algum investidor. Muitas vezes, esse pessoal da base colocava o investidor deles para receber o percentual. Não era do clube, mas pessoal. Você pode ver: em todos os clubes do Brasil aconteceu isso”.

“Tem muito dirigente que não é correto. Mas tem muito treinador que quer levar vantagem também. Criam dificuldades para vender se não foram ganhar alguma coisa. Principalmente treinador de base. Isso é Brasil. E não é de agora. É coisa bem antiga”.

Wagner tem nomes de pessoas ligadas a episódios desse tipo, que ele mesmo viveu, mas prefere não citá-los. “Eu conheço muitas histórias. Todos conhecemos. Mas é claro que ninguém vai querer dar nomes. Por medo ou por falta de provas. Todo mundo sabe. Tem até caso de treinador de seleção brasileira que convocou jogador e recebeu um valor por isso, anos atrás”.

AFP PHOTO / Johannes EISELE AFP PHOTO / Johannes EISELE

Jogador ganha três vezes mais na China

Além do mercado europeu, Wagner, assim como todos os empresários, começou a explorar o mercado chinês. “O que um jogador ganha em um ano lá tem de trabalhar três anos em qualquer outro lugar. Inclusive na Europa. Eu posso te falar do Oscar. Ele ganha três vezes mais do que ganhava no Chelsea”, conta o empresário, sobre o jogador que trocou a Inglaterra pelo Shanghai SIPG.

“Pergunta para qualquer jogador de seleção que está lá se querem voltar. Ninguém quer. É lógico que precisa de um personal para poder acompanhar a parte física, já que os treinamentos na China ainda não são iguais”.

E a China vai chegar ao Brasil

Além de jogadores, os chineses também estão abrindo os cofres para comprar clubes. A Inter de Milão e o Milan, na Itália, por exemplo, hoje são controladas por grupos asiáticos. Para Ribeiro, é questão de tempo até que esses mesmos investidores busquem clubes brasileiros.

“Acredito que ainda neste ano vão fazer alguma oferta por um clube. O problema é que eles terão que estruturar primeiro uma a mudança de estatuto dentro do clube. E eles querem clube grande, com torcida. Os chineses estão pensando, realmente, em ter alguns clubes em todos os grandes países”.

Jogar em clube grande é bom. Triste é jogar em um clube pequeno, que não paga salário. Por isso o sonho do jogador é ir para um clube maior. No pequeno, às vezes ele não recebe e não tem estrutura. Se ele se machuca, não tem tratamento adequado

Sobre porque os jogadores trocam tanto de clube

Divulgação/SantosFC Divulgação/SantosFC

Lucas Lima e Barcelona: proposta, mesmo, só da China

Dos clientes de Wagner, Lucas Lima, do Santos, é o que tem o futuro menos definido. O meia encerra seu contrato com o Santos em dezembro de 2017 e é alvo de equipes de vários países. Inclusive da China – proposta que não passou por suas mãos.

“Eles vão direto nos clubes, não falam conosco. O Lucas Lima teve uma proposta de 15 milhões de dólares por ano, livres”, conta. “Tinha a proposta, mas acho que não é a hora de ir”, disse.

Lucas Lima chegou, há cerca de duas semanas, a dizer que seu destino seria o Barcelona em uma mesa de poker com amigos. O empresário, porém, não confirma o destino. “Ele está livre para assinar um pré-contrato com qualquer clube do Mundo. Como representante oficial do jogador junto com a N.R. Sports (empresa do pai de Neymar), temos recebido propostas de clubes Italianos e Espanhóis. Vamos conversar com Lucas e família e mostrar as alternativas”

Leticia Moreira/Folhapress Leticia Moreira/Folhapress

O dia em que levou uma cadeirada

Wagner está acostumado a ser hostilizado por torcidas, mas nem sempre é das arquibancadas que vem a agressividade. “Uma dia, estava no camarote da Portuguesa e um conselheiro jogou uma cadeira em mim”, lembra o empresário.

“Foi por causa de um jogador, o Rafinha. Era da Portuguesa e trabalhava comigo, depois jogou no São Paulo. O cara disse que eu estava lá roubando jogador, mas eu estava tratando com a Portuguesa”,

Eu ia aos jogos e ouvia que estava estragando jogador, que falava muito no cara e tinha de baixar a bola. Hoje, as pessoas entendem mais. E eu também amadureci. Quando eu falo de alguém, sei o que eu estou falando

Sobre as cobranças que ouvia

Staff Images/ Flamengo Staff Images/ Flamengo

Vinicius Júnior no Real tem dedo de Ribeiro

Wagner Ribeiro não agencia diretamente Vinicius Junior, do Flamengo. O jogador é empresariado pela Traffic. O agente, entretanto, ajudou na venda ao Real Madrid por 45 milhões de euros. Ele participou de reuniões com o presidente do clube espanhol. “Ele era considerado o grande nome do futebol brasileiro pelos olheiros do Real Madrid”.

“O Vinicius hoje é um grande jogador, é um menino que tem um futuro brilhante, teve propostas aí do mundo todo por ele. De todos os grandes da Inglaterra, da Espanha, da Itália”, conta Wagner.

“A minha felicidade é ver um jogador se realizando, porque você está ajudando o ser humano. O Vinicius é um grande jogador, tem um futuro brilhante e vem de família humilde. Então, ver esse menino crescer é uma realização para todos. Ainda mais para mim, que sou do interior, de uma família simples”.

Quem vai ser o próximo Neymar?

  • Leo Passos, do Palmeiras

    "Você sabe quem é o número 10 do Palmeiras, inscrito na Libertadores? É um jogador de 18 anos que se chama Léo Passos, da base. É um jogador totalmente diferente. É um atacante que joga pelos lados, joga com a 9 também. Você pode ter certeza: estamos falando de um jogador de Seleção Brasileira no futuro".

    Imagem: Fabio Menotti / Ag. Palmeiras
  • Igor, do São Paulo

    "Nós temos um jogador no São Paulo que se chama Igor. Ele disputou agora o Torneio de Toulon com a seleção de base. É um meia cheio de drible, de inteligência, que é outro também que tem um futuro brilhante".

    Imagem: Divulgação
  • Arthurzinho, do Santos

    "É um garoto fenomenal. Tem até participação o pai do Neymar. É um jogador que trouxemos de Uberlândia para o Santos. Eu sou empresário do menino. Tem um futuro brilhante também".

    Imagem: Divulgação

O dia em que ajudou a mãe de Caiuby a comprar uma casa

Como é ser empresário no brasil?

“Olha, jogador de futebol, em sua maioria, é de classes menos beneficiadas. São garotos que tem carências econômicas. Então, nós ajudamos mesmo Muitas vezes, tiramos o garoto de onde ele mora para viver em um lugar melhor. Tem garoto que acorda às 5h para chegar no clube às 8h. Então, já dorme mal e chega cansado”.

A convivência com os clientes é tanta que, segundo Wagner, o empresário acaba se tornando parte da família. “A família sempre está envolvida conosco porque nós achamos que família é tudo. Tem jogador que não consegue superar os problemas familiares, a separação do pai e da mãe, quando morre alguém querido. Eu conheço um jogador que, quando perdeu o avô, que cuidava dele, não conseguiu continuar. Ele jogava no Palmeiras, chamava William”.

“Eu falo para eles: a primeira coisa que tem que fazer é comprar uma casa, um apartamento, e colocar sua família lá. Normalmente, querem comprar um carro, dar casa para a namorada. Eu aviso que a carreira é curta, que tem de fazer o seu pé de meia porque depois dos 35 anos o salário começa a cair, a performance não é mais a mesma e precisa ter algo para segurar. Jogador de futebol é um ser humano privilegiado, mas com a carreira curtíssima“.

Aposentar? Eu adoro fazer o que eu faço. Acordo, almoço, passo a tarde, janto e durmo futebol. É 24 horas. O telefone não para de tocar, de receber mensagens. À noite, eu assisto aos jogos. Acompanho pelo prazer e pelo lado profissional

Sobre até quando trabalhará com futebol

Almeida Rocha/Folhapress Almeida Rocha/Folhapress

Tudo começou com França

Wagner Ribeiro nunca sonhou em ser agente de jogadores. Na verdade, acabou seguindo na profissão por acaso, com um primeiro cliente de peso. “Fui para Jaú ajudar o meu concunhado, que era candidato a prefeito. Fui fazer a gestão do XV de Jaú. Quando terminou, percebi que o França era um grande jogador e o trouxe para o São Paulo”.

“Sou formado em administração de empresas. Trabalhei em um banco por cinco anos. Quando mudei para São Paulo, fui trabalhar com o meu pai, que tinha uma corretora de valores”.

Como todo apaixonado por futebol, Wagner tinha o sonho de brilhar dentro das quatro linhas, mas não teve sucesso. Na carreira de empresário, encontrou uma forma de continuar perto dos gramados. “Eu queria ser jogador, não consegui, então fui mexendo onde estava o futebol”.

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Wagner Ribeiro é são-paulino e já teve dia de fã

Muitos profissionais no meio do futebol optam por esconder o clube do coração. Wagner admite ser são-paulino, mas relembra que o futebol era diferente nos seus tempos de torcedor. “ Eu sou são-paulino. Quando tinha 13 ou 14 anos, fui ver o São Paulo jogar em Ribeirão Preto. Eu tinha um ídolo, era Pedro Rocha. Fui no hotel com meu pai e vi ele sentado na piscina. Na hora que vi os caras, fiquei bobo”.

“Hoje, você vê o que o cara come e quando ele acordou. Os jogadores postam tudo. Está no carro, coloca uma música e posta. É foto com a namorada ou com o filho, no caso do Neymar. O torcedor está dentro da vida do seu ídolo. Na minha época de torcedor, quando era garoto, não tinha isso”.

Com o fim do anonimato, tudo mudou. “Quando era jovem, ia ao campo, ficava na arquibancada com a minha bandeira do São Paulo. Fui até para Tóquio ver São Paulo x Milan. Depois que comecei a trabalhar com futebol, assisto jogos, até por privacidade, no camarote de algum clube ou de algum amigo”.

Todo jogador de futebol deste nível é mimado. Mimado pelo pai, pela mãe, pela irmã, pelo torcedor, pelo empresário, por todos

Sobre como é a relação com os atletas

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