Campeão da ostentação

Bicampeão da Copa do Brasil, Cruzeiro domina a competição em sua fase mais vantajosa financeiramente

Enrico Bruno e Thiago Fernandes Do UOL, em Belo Horizonte
Arte/UOL

Pode ostentar, torcedor do Cruzeiro: o maior campeão da Copa do Brasil sabe jogar a competição como ninguém. Nessa quarta-feira (17), a equipe de Mano Menezes garantiu o título em Itaquera, o segundo seguido e o sexto em sua história, deixando para trás o Grêmio. Não bastasse a conquista, ainda embolsou o nada modesto prêmio de R$ 50 milhões.

Em 2017, o Cruzeiro já havia ganhado um total de R$ 13,3 milhões com a conquista da Copa do Brasil, somando a premiação e sua participação em oito fases do torneio. Neste ano, esse número saltou para R$ 61,9 milhões - além dos R$ 50 milhões de premiação, são R$ 2,4 milhões por participar das oitavas de final, R$ 3 milhões por disputar as quartas de final e R$ 6,5 milhões por ser semifinalista.

Um total de R$ 75,2 milhões para premiar um clube que se planejou para conquistar Copas nas últimas temporadas sob o comando de Mano Menezes, especialista na competição.

Arte/UOL Arte/UOL

Wagner Pires de Sá: a ousadia que deu certo

Presidente deu "all in" e colheu os frutos

No começo do ano, o Cruzeiro, chefiado pelo presidente Wagner Pires de Sá, chegou a fazer um empréstimo de R$ 50 milhões para equilibrar suas finanças. Uma estratégia ousada que só se pagaria se a equipe conseguisse conquistar um título importante - o time também foi campeão mineiro no primeiro semestre.

A premissa de Itair Machado, vice-presidente de futebol do clube, é que dinheiro atrai mais dinheiro. Na prática, significava que o clube não pouparia esforços para fazer um bom time e, com os resultados obtidos por ele, recuperaria os altos valores investidos. Das contratações, a mais cara foi do garoto David, que custou R$ 10 milhões, mas as despesas cresceram significativamente mesmo com as chegadas de jogadores como Fred e Edílson. A folha salarial, antes de R$ 9 milhões, subiu para R$ 13 milhões na temporada.

A equação era simples: para não estourar a bolha de vez, seria preciso vencer um grande título. Tratada como obsessão, a Libertadores ficou no caminho, mas a Copa do Brasil valeu não só a hegemonia do clube no torneio, como uma arrecadação milionária nunca vista em 29 edições anteriores: R$ 61,9 milhões após os oito compromissos jogados.

O que dá para comprar com dinheiro do bi do Cruzeiro

Arte/UOL Arte/UOL

Mano Menezes: o rei de Copas

Técnico ignora fama de retranqueiro e une grupo

Mais que um estrategista e estudioso do futebol, Mano Menezes é, sobretudo, um gerenciador de pessoas. Com tantas boas peças e uma forte concorrência, a maior virtude na nova conquista do técnico foi continuar sabendo lidar com a parte humana do time. O que vale para um vale para todos. Assim, o treinador ganhou todo o grupo mais uma vez, tirando o máximo dos principais jogadores e exigindo o mesmo potencial dos reservas quando entravam em campo.

"Aqui é Cruzeiro, é todo mundo, é grupo, e não é da boca para fora. Todos são bons, por isso estão aqui", disse o comandante.

Outro grande mérito de Mano foi ter conseguido fazer a torcida se acostumar com seu estilo de jogo: reativo, sólido defensivamente e até tachado de retranqueiro, características distintas de grandes times do Cruzeiro na história, mas que contaram com a compreensão da torcida, mesmo que isso não tenha acontecido da noite para o dia.

Acho que o pessoal vai ter mais um pouquinho de tolerância com minha maneira defensiva de jogar. Existem maneiras de se ganhar, eu tenho meu estilo, acredito no que faço e os jogadores também acreditam nele.

Mano Menezes, rebatendo críticas sobre ser retranqueiro após mais um título

Arte/UOL Arte/UOL

Fábio: o ídolo discreto

Com milagres, goleiro volta a desequilibrar nos pênaltis

Tratado por muitos como melhor goleiro do Brasil, especialmente por cruzeirenses, Fábio nunca chegou a ser "canonizado" pela torcida, mas fez inúmeros milagres embaixo das traves. Protagonista no título de 2017, o goleiro voltou a ter papel fundamental na conquista deste ano.

Seu auge na competição foi defender as três cobranças na disputa de pênaltis contra o Santos, no Mineirão. O reconhecimento foi unânime, com o goleiro aplaudido e cumprimentado por jogadores do Cruzeiro e também pelo time adversário.

No vestiário, foi reverenciado por jogadores, membros da comissão técnica, diretores e até pelo presidente. Sempre que colocado nessas situações, nunca deixou de felicitar os companheiros e dividir os méritos com as pessoas que o acompanham no dia a dia.

Arte/UOL Arte/UOL

Thiago Neves: o sarrista bem-humorado

Sem sentir pressão, meia desequilibra na hora da decisão

Thiago Neves é uma espécie de administrador de grupo. Não é o capitão do time, mas serve de referência para outros jogadores. Tampouco é o responsável pelo discurso na boca do túnel, mas suas palavras são passadas com a dose certa de motivação. Apesar de ser um dos mais brincalhões, mescla a descontração com a seriedade que cada momento pede, seja nos treinos ou no vestiário, horas antes dos duelos.

É sempre um dos mais cobrados nas decisões. Ciente disso, raramente se escondeu nas situações de pressão. O que também não costuma fazer é fugir das polêmicas. Aguenta calado as adversidades, mas é um dos que mais pilham na hora de provocar algum eliminado.

"Tem que estar arrepiado para jogar aqui, não tem que ouvir ninguém falando que vai classificar e calar essa p... aqui, não. Hoje, nós vamos mostrar que quem vai para a final somos nós, c...!", falou o meia, antes do jogo de volta da semifinal contra o Palmeiras.

É para poucos. Nós temos seis [títulos], tem time em BH que tem uma. Então é seis a um.

Thiago Neves, provocando o rival Atlético-MG após o título da Copa do Brasil

Aí Denílson, a gente ia ficar de fora né? Chupa (rs)...

Thiago Neves, brincando com Denílson em vídeo após o ex-jogador dizer que Palmeiras eliminaria o Cruzeiro

Arte/UOL Arte/UOL

Dedé e Lucas Silva: a volta por cima

Dedé supera três lesões graves e Lucas Silva vence desconfianças

Dedé e Lucas Silva são o espelho da perseverança no Cruzeiro. De 2014 pra cá, o zagueiro sofreu três lesões graves no joelho que o tiraram de combate por praticamente três temporadas. Nem por isso deixou a autoestima de lado. Rei dos apelidos na Toca, é também um dos líderes nos momentos de descontração.

No início deste ano, voltou aos gramados para uma volta por cima impressionante. Ainda no primeiro semestre, assumiu a titularidade para não sair mais do time, tornando-se referência de quem não desiste nas horas mais complicadas. Foi convocado por Tite e, antes da semifinal contra o Palmeiras, jogou amistoso nos Estados Unidos pela seleção. Em menos de 24 horas, retornou ao Brasil e entrou em campo novamente para defender o Cruzeiro.

Já o volante viveu o auge da carreira entre 2013 e 2014. Bicampeão brasileiro, foi vendido ao Real Madrid, mas jamais se firmou no Santiago Bernabéu. Emprestado ao Olympique de Marselha, teve problemas com o técnico e voltou à Espanha. No ano seguinte, seria emprestado ao Sporting, de Portugal, mas foi reprovado nos exames médicos devido a um problema cardíaco. Recuperado, voltou ao Brasil em 2017 para jogar no Cruzeiro, mas não teve chance. Pelo contrário. Foi negligenciado por Mano Menezes e chegou a ser quinta opção.

Em 2018, virou titular e foi uma das peças-chave da campanha até a final. Nos dois jogos da decisão contra o Corinthians, foi preterido para entrada de Ariel Cabral, a quem Mano considera ter um passe mais qualificado. Mesmo chateado, Lucas Silva mostrou espírito de grupo e ainda teve chance de entrar na reta final do duelo que levou o time celeste ao título.

Confesso que fiquei muito chateado, foi um dos momentos de maior chateação que tive. Mas eu não poderia deixar isso transparecer para o grupo, jamais iria brigar com o grupo e com o treinador. Tentei administrar da melhor forma. Fiz toda a campanha e queria muito esse título

Lucas Silva, sobre ausência na final contra o Corinthians

Arte/UOL Arte/UOL

Atacantes: o grande investimento celeste

Entre Fred, David e Barcos, argentino foi quem brilhou

Não bastassem as boas opções remanescentes no ataque, o Cruzeiro investiu ainda mais para dar alternativas de sobras ao técnico Mano Menezes. Alguns jogadores chegaram sem custos, mas preenchem altas parcelas na folha salarial. Outros não estão entre os mais bem pagos, mas custaram quantias relevantes à diretoria. Foi assim com o trio David, Fred e Barcos.

Fred foi considerado presente de Natal e aniversário para o torcedor do Cruzeiro. O atacante se desvinculou do rival Atlético-MG e estava prestes a ir para o mundo árabe quando fechou com o Cruzeiro. Apesar de ter sido adquirido sem custos, o camisa 9 tem um dos salários mais altos do elenco. Além disso, o clube ainda briga na justiça para não ter que pagar os R$ 10 milhões cobrados pelo rival pela mudança para a Toca da Raposa, em cláusula que estava prevista em contrato.

Em situação distinta de Fred, a aquisição do jovem David não chamou atenção por causa da remuneração mensal, mas por ter sido a compra mais cara do Cruzeiro. Para tirar o destaque do Vitória, o clube mineiro aceitou pagar R$ 10 milhões à vista. Por fim, no segundo semestre, a alta de lesões forçou a diretoria a procurar mais um atacante. Barcos rescindiu com a LDU e veio sem custos, mas a necessidade de ter um veterano como referência no ataque e o seu status fizeram com que o clube aceitasse pagar um salário considerável.

Deu certo, com o Pirata marcando gols nas duas partidas contra o Palmeiras na semifinal, além de chutar uma bola na trave que acabou virando gol de Robinho, o primeiro na decisão contra o Corinthians, em Itaquera.

Campanha do título teve Cruzeiro com sucesso como visitante

  • Oitavas de final

    Atlético-PR 1 x 2 Cruzeiro e Cruzeiro 1 x 1 Atlético-PR

    Imagem: Cleber Yamaguchi/AGIF
  • Quartas de final

    Santos 0 x 1 Cruzeiro e Cruzeiro 1 (3) x (0) 2 Santos

    Imagem: Thomas Santos/AGIF
  • Semifinais

    Palmeiras 0 x 1 Cruzeiro e Cruzeiro 1 x 1 Palmeiras

    Imagem: Pedro Vilela/Getty Images
  • Final

    Cruzeiro 1 x 0 Corinthians e Corinthians 1 x 2 Cruzeiro

    Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Curtiu? Compartilhe.

Topo