Fim do conto de fadas

Nove anos depois, Cristiano Ronaldo deixa o Real Madrid como um dos maiores da história do esporte

José Edgar de Matos Do UOL, em São Paulo (SP)
Gonzalo Arroyo Moreno/Getty Images

Chega como estrela, sai como lenda

Era inimaginável há pouco tempo pensar em Cristiano Ronaldo sem o uniforme blanco. A relação com o Real Madrid superou o profissionalismo e virou histórica. Falar do craque português era citar o gigante espanhol quase que em modo automático. Era. Todo conto de fadas tem um fim, e o de CR7 com o clube terminou. Agora, o melhor do mundo é da Juventus.

A declaração sugestiva depois do título da Liga dos Campeões em maio e os boatos nas semanas seguintes reforçaram este cenário improvável de fim de relação. Cristiano Ronaldo queria um novo desafio, e a Juventus apareceu como opção pagando 105 milhões de euros (R$ 471 milhões) para finalizar a história do português no Santiago Bernabéu.

A relação Real Madrid e Ronaldo termina nove anos depois de um início promissor. De jogador mais caro do mundo na época, o português deixa a capital espanhola como um dos grandes da história. Ninguém fez tanto gol com a camisa madridista, e poucos levantaram tantas taças quanto ele.

Com a marca CR7 ao lado, o clube voltou a ser um "bicho papão" no continente. Ganhar a Europa se tornou praticamente uma formalidade para Cristiano Ronaldo - os três títulos nos três últimos anos estão aí como comprovação. O craque, incansável na arte de vencer pelo Real Madrid, sai como uma lenda rumo a uma nova história na Itália.

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Ronaldo constrói hegemonia europeia

Para triunfar de branco, Cristiano Ronaldo encarou talvez a geração mais vitoriosa da história do Barcelona. As disputas com Lionel Messi, Andrés Iniesta e Xavi, passando por Neymar e Luis Suárez nos últimos anos, ganhavam capítulos a cada fim de semana. Se os catalães venceram mais títulos nacionais - cinco na década, contra dois do time da capital -, foram ofuscados pela dinastia europeia recente do Real Madrid.

O craque português deixa a Espanha com quatro títulos de Liga dos Campeões, três deles nas últimas três temporadas, algo inédito na história da principal competição europeia desde a adoção do novo formato em 1992.

O Real Madrid aumentou uma vantagem absurda de títulos sobre os grandes rivais europeus, meros coadjuvantes de Cristiano Ronaldo nos últimos anos. São 13 títulos de Champions, contra 7 do vice-líder Milan; o Barcelona, mesmo com as conquistas da Era Messi, soma apenas cinco taças.

O maior no maior

O clube mais vitorioso da Europa contou com o seu maior jogador justamente nesta Era moderna do futebol. Cristiano Ronaldo atingiu números capazes de ofuscar antigas lendas como Di Stéfano, Raúl e Butragueño. Em quase uma década de 16 títulos, o craque português somou 451 gols em 438 jogos. Ninguém comemorou tanto vestindo branco.

Cristiano Ronaldo em números

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Máquina de gols

438 jogos/451 gols (Fonte: Real Madrid CF)

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16 títulos

4 Liga dos Campeões (2014, 2016, 2017 e 2018); 3 Mundiais de Clubes (2014, 2016 e 2017); 2 Campeonatos Espanhois (2012 e 2017); 2 Copas do Rei (2011 e 2014); 3 Supercopas da Europa (2014, 2016 e 2017); 2 Supercopas da Espanha (2012 e 2017)

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'Papa títulos' individuais

4 Bolas de Ouro (2013, 2014, 2016 e 2017) / 2 Melhor do Mundo da Fifa (2016 e 2017) / 3 Chuteiras de Ouro (2011, 2014 e 2015)

Real Madrid torna CR7 "robozão"

Soava como um valor surreal os 94 milhões de euros (R$ 255,5 milhões, na cotação da época) pagos pelo Real Madrid em 2009 ao Manchester United por Cristiano Ronaldo. Apresentado com pompa e em um Santiago Bernabéu lotado, o português modificou o próprio patamar de carreira ao se tornar o maior goleador do clube e conquistar tantos títulos.

Mais do que o atacante habilidoso, Cristiano Ronaldo virou letal na Espanha. Uma máquina de fazer gols e enfileirar taças; um "robozão", como se definiu após apelido dado por fãs brasileiros.

O potencial de investimento se mostrou certeiro. Afinal, alguém com média de 50 gols por temporada e quatro Bolas de Ouro de melhor do mundo, além de dois troféus da Fifa de principal jogador do ano, vale a quantia paga. 

Reuters / Albert Gea Reuters / Albert Gea

Fim da rivalidade semanal

Cristiano Ronaldo e Messi batalharam lado a lado por nove anos pelo reinado do futebol mundial. As comparações eram inevitáveis, já que ambos disputavam as mesmas competições e se encaravam ao menos duas vezes por ano.

A ida do português para a Juventus, entretanto, quebra esta dicotomia que ditou o esporte na última década. Messi e Cristiano Ronaldo só poderão se confrontar na Liga dos Campeões, reinada pela parceria CR7 e Real Madrid nos últimos anos.

Messi agora tem caminho livre para se seguir com o topo do Campeonato Espanhol, vencido somente duas vezes por Ronaldo como "merengue" (2012 e 2017). Na Europa, o português agora tenta iniciar uma nova trilha vitoriosa diante do "maior rival".

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Kirsty Wigglesworth/AP Kirsty Wigglesworth/AP

Conte com quem te fez sofrer

Durante a passagem pelo Real Madrid, poucos clubes sofreram tanto nos pés de Cristiano Ronaldo quanto a Juventus, especialmente nas duas últimas temporadas. Contra os italianos, o português conquistou a Champions League de 2017 com uma goleada por 4 a 1, em Cardiff. Neste ano, na sua nova casa em Turim, anotou um gol antológico de bicicleta, em vitória por 3 a 0 pela fase quartas de final do torneio europeu.

Manuel Queimadelos Alonso/Getty Images Manuel Queimadelos Alonso/Getty Images

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