
O Corinthians parecia morto e fadado à eliminação em três momentos distintos do Campeonato Paulista. Com quase tudo nas mãos para passar pelo time de Fábio Carille, Bragantino, São Paulo e Palmeiras viram a equipe corintiana ressurgir e ampliar a sensação de que nada, ou quase nada, detém a determinação e a entrega do time agora bicampeão paulista.
A conquista, a primeira consecutiva no Estadual desde a Democracia de Sócrates, premia a história desse Corinthians. Moldado às pressas e sob desconfiança há um ano, o elenco alvinegro virou todos os jogos, simbólicos e literais, com "sangue no olho e tapa na orelha", como canta a torcida. A virada contra a ameaça do Bragantino, o empate na bola derradeira contra o São Paulo e a reação em pleno Allianz Parque dão a sensação de que o time alvinegro nunca está realmente morto.
Não é coincidência que os dois momentos mais marcantes deste Paulistão tenham passado pelos pés de Rodrigunho. Estrela remanescente do time que ganhou o Brasil em 2017, ele soube superar as ausências de Pablo, Arana e Jô para ser o melhor jogador do Corinthians. Foram dele os gols contra São Paulo e Palmeiras que levaram o time à decisão por pênaltis, quando Cássio pôde se redimir, com estilo, de um começo de ano cheio de altos e baixos.
Operário e fiel ao estilo de seu treinador, o Corinthians de Rodriguinho volta a levantar uma taça e enfileira "freguesias". Ostenta longo tabu contra o São Paulo em mata-matas e venceu cinco dos seis últimos clássicos contra o Palmeiras. Quem consegue parar esse time?
A frase "estou aprendendo" ainda é muito usada por Fábio Carille em suas entrevistas. Auxiliar técnico até 2016, ele de fato se mostra um técnico em processo de mudança em uma série de aspectos. O Campeonato Paulista desse ano mostrou, de certa forma, uma versão atualizada do atual campeão brasileiro.
A semifinal contra o São Paulo, no Morumbi, mostrou de maneira clara o que é esse Carille 2.0. O treinador entrou em atrito com Diego Aguirre, reclamou da postura de Nenê e acabou provocado pelo rival em um gol. Irritado com a repercussão de sua entrevista sobre o uruguaio, resolveu não atender os jornalistas no jogo seguinte, em que se classificou à final. O contato com a imprensa, em geral, tem sido menor em 2018, com menos entrevistas exclusivas e respostas mais agressivas a algumas perguntas em coletivas. Até mesmo o acesso a treinamentos, que era irrestrito no ano passado, foi alterado por Carille em alguns momentos.
Essa "clausura" está ligada à falta de um substituto para Jô e as consequências que isso trouxe. Sem um jogador que domine a posição, Carille deixou para trás as escalações repetidas que o marcaram em 2017 e passou a escalar o Corinthians, do meio para frente, sempre de acordo com o adversário. Restringir o acesso, em alguns momentos, significa também colocar interrogações na cabeça dos técnicos rivais.
O Carille 2.0, como sua versão anterior, é campeão.
Melhor corintiano do Paulistão e candidato a craque do torneio, foi importante ao longo de toda a primeira fase e decisivo na reta final. Machucado, fez de cabeça o gol que levou a semi para os pênaltis. Na decisão, teve a frieza de calar o Allianz Parque no comecinho do jogo.
Imagem: Daniel Vorley/AGIFComeçou o ano improvisado como lateral e, pelo bom rendimento, forçou Carille a acomodá-lo no time. Teve participação importante nas reações corintianas e chamou a responsabilidade ao bater o pênalti decisivo, que ratificou o bicampeonato corintiano contra o Palmeiras.
Imagem: Daniel Vorley/AGIFContratado como promessa do Vasco, aproveitou o espaço deixado pela lesão de Jadson e foi fundamental na reta final. No Allianz Parque, fez a jogada individual que terminou no gol de Rodriguinho e deu ao Corinthians a chance de conquistar o título nos pênaltis.
Imagem: Daniel Vorley/AGIFFez um Paulistão irregular, com falhas e sem a segurança de sempre. Na hora da decisão, no entanto, pegou pênaltis contra São Paulo e Palmeiras e foi coroado com a conquista de mais um título. Capitão, se fortalece ainda mais como um dos maiores da história do clube.
Imagem: Ale Cabral/AGIFOs corintianos estavam no ônibus, a caminho de Itaquera, quando o diretor de futebol Duílio Monteiro Alves olhou o celular e viu mais que uma notícia, uma oportunidade. Se dirigiu aos atletas e explicou que o São Paulo, por um erro interno, já havia iniciado a venda de ingressos para a final. Antes de acabada a semi!
A história, sem todos os detalhes para o grupo, foi um combustível confidenciado pelos próprios jogadores na ocasião. Só que a "gafe" são-paulina teve pouco a ver com soberba ou "já ganhou", como os corintianos fizeram parecer em seus discursos após a vitória na semi. Na realidade, uma empresa terceirizada fazia testes de layout para a venda de ingressos de uma eventual final contra o Palmeiras e publicou, por engano, a imagem na internet. Não houve, em momento algum, venda de ingressos antecipada e o erro não estava relacionado, até que se prove o contrário, à certeza são-paulina de que avançaria.
Não foi esse o único caso em que o Corinthians usou um elemento externo para incentivar os atletas. Na véspera da final, um vídeo em que André Guerra, presidente da Mancha Verde, fala até em ‘sequestro’ para vencer o dérbi, circulava por WhatsApp e foi levado aos atletas. Membros do próprio clube se esforçaram para que o discurso fosse noticiado com um objetivo: trazer novo impacto aos jogadores na final.
Foi a versão atualizada da "quarta força". Em 2017, corintianos passaram boa parte do ano "respondendo" a imprensa, que havia colocado o time de Carille como o menos promissor entre os grandes de São Paulo. Na atual temporada, o tema mudou, mas a ideia de "incendiar" o elenco com algo externo, não.
No meio da semana decisiva, com final e Libertadores, Roger recorreu ao pilates para relaxar e deixar de lado a pressão da decisão. Formado em educação física, ele tem um estúdio montado na sua própria casa.
Imagem: Cesar Greco/Ag Palmeiras/DivulgaçãoSuspenso da final pelo vermelho, Felipe Melo não se concentrou com o grupo, mas foi com a delegação para o estádio, e ficou o jogo todo em um camarote no Allianz Parque.
Imagem: DivulgaçãoAlguns torcedores sem ingresso deram um jeitinho para ficar no entorno do Allianz Parque e burlar o cerco. O jeito foi "acampar" na região para já amanhecer dentro do local de controle. O cerco para a final começou às 10h, 2 horas antes do normal.
Os goleiros das duas equipes mantêm uma amizade fora das quatro linhas, com direito a ligações e troca de mensagens. Além de Jailson, Cássio continua próximo a ex-jogadores do Corinthians que hoje defendem o Palmeiras, como Bruno Henrique e Edu Dracena.
Imagem: Daniel Vorley/AGIFA decisão foi marcada pela preocupação alviverde com a segurança. No primeiro jogo da decisão, a direção do clube quase triplicou o efetivo na Arena Corinthians. Os corintianos, por sua vez, mantiveram a quantidade de seguranças mesmo jogando no Allianz Parque.
Imagem: Daniel Vorley/AGIFNo treino aberto antes da final, os jogadores só andaram no meio da multidão por causa de Sheik. A ideia partiu das organizadas, que garantiram ao veterano que tudo daria certo. Ele, então, convenceu os colegas a encarar o trajeto de 200 m nos braços do povo.
Imagem: Bruno Teixeira/CorinthiansDanilo, Emerson e Ralf. O primeiro, recuperado de lesão, os outros dois contratados no começo do ano. Carille concedeu espaço para o trio e, de alguma forma, todos contribuíram. Sheik fez gol da vitória na primeira fase, Danilo converteu pênaltis decisivos e o “Pitbull da Fiel” teve grandes atuações na reta final.
Mas, se o plano do treinador em 2018 era ter um time com mais peso e experiência, a força da juventude do elenco corintiano fez ele rever tudo isso. Titulares nas duas finais, o volante Maycon e o meia Mateus Vital se tornaram peças importantes nos jogos decisivos. E o que dizer então de Pedrinho, o talismã da torcida?
Maycon ressurgiu em 2018 como lateral, pediu para jogar em sua posição e anotou o gol da classificação à semi. Vital ganhou a titularidade no início do mata-mata e fez a jogada do gol de Rodriguinho na finalíssima. Pedrinho anotou um golaço, fundamental, contra o Bragantino, além de ter incendiado os clássicos que jogou. Confiante nos meninos, Carille escalou os três para bater pênaltis no São Paulo. Na decisão, deu a Maycon a última cobrança. Nos dois jogos, não se arrependeu.