Enquanto trovoadas castigam o céu de Cianorte, Ilaídes Padilha abre as portas de sua casa à reportagem do UOL Esporte e explica que prefere ser chamada apenas de Laíde. "Meu pai era analfabeto e o homem do cartório que me registrou também", ela informa. "Como é que eles escreveram meu nome no plural? Eu sou só uma!"
O café está servido em uma garrafa térmica na mesa do quintal, pães em uma cesta de vime. Laíde abre a porta de um quartinho nos fundos da casa. É o quartinho que Danilo usava sempre que voltava à casa dos pais, de onde saiu muito jovem para tentar a vida no futebol. O quartinho está cheio de coisas suas: troféus, medalhas, camisas, pôsteres, faixas, bandeiras...
Laíde não gosta do lugar porque ele conta uma história incompleta, a história de um homem que morreu cedo demais. Faz um ano que o avião da Chapecoense caiu na Colômbia, matando 71 de seus passageiros, incluindo o goleiro titular. Nos meses que seguiram à tragédia, a mãe de Danilo se recusou a cair na depressão, doença que afetou muitos familiares de outras vítimas.
Sua forma de encarar o luto foi oferecer um pouco da sua experiência para ajudar outras mães que também perderam os filhos de maneira prematura. Mães como Denira.
Ou como Marilza, Márcia, Silmara e Maria Aparecida. Todas estavam na casa de Laíde na última semana de outubro, em uma reunião do grupo Mães e Anjos, formado por ela e pelo psiquiatra Rodnei Roberto, que presta auxílio a essas mulheres. Juntas, elas visitam mães que acabaram de perder filhos, as acolhem no grupo, oferecem acompanhamento médico e aulas de ginástica e musculação.
Criaram um portal online. Pretendem vender publicidade a empresas da região para financiar suas atividades. Laíde largou o emprego em uma rádio da cidade para se dedicar integralmente ao projeto, que virou sua missão na vida. Ajudando mulheres que também tiveram que conviver com a perda de seus filhos, ela aprendeu a lidar com o próprio luto.
Durante as reuniões do grupo, as mães podem falar o quanto quiserem e o quanto puderem da vida e da morte de seus filhos. E podem abraçar Laíde. Era disso que Denira precisava.