O transplante foi marcado para o dia do meu aniversário de 13 anos. Minha mãe tinha feito uma pequena mobilização entre amigos seus para levantar um dinheiro para custear seu tratamento. É engraçado que você tenha sido um jogador famoso, tenha ganhado muito dinheiro, mas no fim da vida tenha precisado da ajuda dos amigos para se tratar. Você nunca foi apegado a dinheiro. Achava que dinheiro era para gastar mesmo. E gastou.
Eu lembro daquele meu aniversário até hoje. Estava aqui na sala desse mesmo apartamento quando alguém ligou para dizer que tinha dado tudo certo. A gente pulou, se abraçou. Você ia voltar. Mas nunca voltou.
Fiquei sabendo depois que seu corpo rejeitou a nova medula. Ficamos um tempo sem informações, mas você devia estar sofrendo. E devia estar impedindo que as notícias chegassem até nós.
Até que, em novembro, um dia eu acordei muito cedo. Eu nunca acordava cedo. Fui ao quarto da minha mãe e estranhei porque ela também estava acordada. O telefone dela tocou. Era um amigo nosso do Cruzeiro perguntando se aquilo era verdade. Minha mãe não sabia. Ela se virou e, enquanto eu dizia "o que foi, mãe, me conta o que foi", ela só respondia que não sabia, que não tinha certeza. Que eu não devia me desesperar.
Peguei me celular e tinha umas 500 mensagens de amigos me prestando solidariedade. Dizendo para eu ficar bem. Eu não queria ficar bem. Eu não queria acreditar. Até que eu vi a confirmação na tela do meu celular. Eu descobri que meu pai tinha morrido pelo Twitter. Abri o Facebook e escrevi um texto para você. Veio tudo na hora. A gente se comunicava muito por textos. Você adorava escrever, assim como eu. Comecei a receber muitas curtidas. Aí comecei a entender. Meu pai morreu.
Você morreu. E agora?